A Maia sobre interpretar a Morte na novela das 7: ‘Subversivo e construí algo que não fosse pesado’


Para A Maia, o papel na novela ‘Quanto mais vida, melhor’ é ruptura, porque seu gênero ou sua sexualidade não são questionadas, o que mostra um processo evolutivo. “Quando eu era criança não tinha esse tipo de representatividade na televisão”, comentou. E acrescenta: “É um sonho estar aqui. Mas entendo que além do meu sonho de Cinderela, tem uma representatividade muito maior e uma responsabilidade muito maior”

A Maia conta que uma das inspirações para a Morte foi a Malévola

De cabelos longos, olhos hipnotizantes e unhas compridas, A Maia, intérprete da antagonista de ‘Quanto Mais Vida, Melhor!’, a Morte, vem literalmente, despida para matar. Linda e sedutora, a personagem mostrar sua face após um acidente aéreo, com o quarteto de protagonistas: Neném, Vladimir Brichta, Paula, Giovanna Antonelli, Guilherme, Mateus Solano, e Flávia, Valentina Herszage, os oferecendo uma segunda chance de vida. Mas deixa claro que, em um ano, um deles vai partir em definitivo. “É muito subversivo falar sobre a morte, sobre essa persona no país que mais mata travesti, num momento em que ela se torna ainda popular quanto numa pandemia mundial. Então, eu senti esse peso. Em alguns momentos tive que zerar, me esvaziar, não olhar muito as notícias para poder construir algo que me trouxesse acalanto, conforto, que não fosse pesada, aquela imagem ultrapassada, que é a morte de filme de terror. Daí, partimos para a sedução e para o lúdico”, comenta a atriz, que, em recente entrevista ao site, afirmou: “Não cheguei aonde estou porque sou trans, ninguém me deu nada por ser trans, muito pelo contrário. Foi com trabalho”.

A Morte, A Maia, de Quanto Mais Vida, Melhor, é linda e sedutora (Foto: TV Globo/João Miguel Jr)

Depois de enfrentar uma barra pesada com crises de ansiedade e depressão, A Maia conseguiu girar a chave e viu muitas portas se abrirem em sua carreira. Primeiro com o contrato mundial com a distribuidora Altafonte, uma mudança para Portugal, e o boom da sua carreira musical, com dois singles e dois videoclipes arrebatadores. No finalzinho de 2020, se abriu uma grande janela, que foi o convite do diretor Allan Fiterman para estrelar o elenco da da novela global, ‘Quanto mais vida melhor’, um papel que também foi oferecido para Fernanda Montenegro.

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Trazendo um realismo fantástico dessa comédia romântica, o diretor Allan Fiterman, trouxe cenas inspiradas no filme ‘Querida, encolhi as crianças’, grande sucesso dos anos 1980, afirmando o tom misterioso, dramático e que beira a comedia da trama criada e escrita por Mauro Wilson. Ao longo da novela, ela retornará pontualmente para lembrar aos quatro protagonistas que o tempo está passando com cenas icônicas que ‘param o tempo’, recortando a realidade do folhetim.

A Maia interpreta A Morte, em Quanto Mais Vida, Melhor, é atriz, cantora e diretora (Foto: TV Globo/João Miguel Jr)

Com 30 anos de idade, nascida em Juiz de Fora (MG), A Maia fala sobre a experiência de dar vida à personagem. A atriz, cantora e diretora revela que sempre foi uma criança muito tímida e retraída. “Encontrei na arte uma possibilidade de existência. E a arte salvou minha vida inúmeras vezes. Nunca ninguém acreditou muito em mim, então sempre fui eu correndo atrás das minhas coisas. O showreel que o Allan Fiterman viu fui eu mesma que editei, por isso, estou muito feliz que está acontecendo na minha carreira”.

A Maia que sempre teve  arte em sua sua essência, revela que surgiu como uma artista de rua. “Eu fazia performance de show da Britney Spears, malabarismo, show de mágica. Cresci, saí da periferia.  Eu lembro da época que novela era o único entretenimento que a gente tinha. É um sonho estar aqui. Mas entendo que além do meu sonho de Cinderela, tem uma representatividade muito maior e uma responsabilidade muito maior”.

Em quem se inspirou para fazer a Morte? “Eu assisti muito ao filme ‘Malévola’. Angelina Jolie é uma grande referência que eu levo pra vida. Vi também ‘Eva’, de Lúcifer. A construção corporal foi outro processo. O mais difícil foi construir esse corpo. Ela tem uma coisa com a mão, provoca um frisson, às vezes, gera insanidade, lucidez, mas também um afeto, meio mãe quando fala para Neném (Vladimir Brichta), Flávia (Valentina Herszage), Paula (Giovanna Antonelli) e Guilherme (Mateus Solano): ‘Vocês não estão fazendo o que deviam’. E alterna para um estado meio irritado: ‘Vocês não aprendem!’. Tem mudanças de humor. Ela nunca está no mesmo lugar”.

Na última edição da SPFW N 52, a artista foi uma das grandes estrelas do desfile da marca Meninos Rei, fundada há sete anos em Salvador. O desfile fez uma ode à Bahia, ao candomblé, à ancestralidade, à cultura e história negra, remodelando os conceitos de moda, olhando para o futuro, em que a empatia, a diversidade e a representatividade são protagonistas, potencializando sua exuberância e beleza com modelagens oversized e um exímio trabalho em patchwork.

A Maia no desfile da Meninos Rei, na SPFW N 52 (Foto: Ze Takahashi/ FOTOSITE)

Essa Afrodite Brasileira tem um carreira musical em pleno crescimento, o que afirma seu talento e sua verve como cantora. Para ela, a música é uma verdade e suas inspiração vem a partir de suas histórias, experiências. Seu próximo lançamento será o single ‘Di Amantes’ que faz uma jogo de palavras com a sedução dos amantes e a beleza da pedra preciosa, que, segundo Marilyn Monroe (1926-1962) sempre pontou, são os melhores amigos das mulheres.

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