*Por Simone Gondim
Quem nunca mandou ou recebeu um “Oi, sumido (a)”, ao menos uma vez na vida? A clássica sondada para ver como está aquela pessoa que um dia mexeu conosco ganha nova roupagem no projeto “Amor de quarentena”, de autoria do argentino Santiago Loza. Diferentemente de uma peça convencional, que requer a atenção da plateia durante um período de tempo em um mesmo dia, o espetáculo é definido pelos organizadores como uma experiência audiovisual por WhatsApp. O ponto de partida é a pergunta: e se alguém muito importante do seu passado lhe procurasse durante o isolamento social imposto pela pandemia?
Para viver essa pessoa que reaparece depois de um longo período, foram convidados Débora Nascimento, Jonathan Azevedo, Mariana Ximenes e Reynaldo Gianecchini. Quem compra o ingresso se torna o alvo das mensagens e escolhe qual dos atores será o remetente, além de decidir a data em que o material começará a chegar. “Foi uma delícia gravar e escolher tudo”, admite Débora Nascimento, em vídeo publicado no Instagram.
Durante 13 dias, em diferentes horários, são enviados áudios, vídeos, canções, fotos e mais de 60 mensagens de voz e de texto. Os destinatários que se empolgarem podem até responder, mas não há interação entre o elenco e o público. “Vamos criar um vínculo amoroso imaginário. Tem momentos muito bonitos, eu me emocionei muito”, conta Reynaldo Gianechinni ao explicar “Amor de quarentena”, também via Instagram.
No Brasil, a direção de “Amor de quarentena” ficou a cargo de Daniel Gaggini. Ele trouxe o projeto para o país juntamente com Luciana Rossi, que assina a tradução do texto, e Juliana Brandão, responsável pela produção de elenco. “A ideia foi criar um vínculo do passado a partir das experiências pessoais dos atores, usando suas próprias casas como locações e os diversos sons e ruídos que o cotidiano produz. Isso provoca uma sensação de intimidade, uma experiência única”, observa Daniel.
Entre as instruções enviadas pela produção após a compra do ingresso estão usar fones de ouvido, salvar o contato com o nome de uma pessoa especial e relaxar das atividades do dia a dia ao ler ou ouvir as mensagens, a fim de aproveitar melhor a experiência. Para quem se preocupa com a proteção de dados, os organizadores ressaltam que o site é totalmente seguro e não expõe as informações coletadas.
Mas será que um espetáculo com um tema tão delicado não remexeria em antigas feridas, trazendo tristeza em um momento de isolamento, já complicado para tanta gente? Segundo o autor Santiago Loza, a resposta é não. “Gosto da ideia do amor que volta em um momento em que há tantas más notícias circulando e o futuro se torna tão frágil. Nos faz lembrar de que somos finitos, não existe eternidade e sentimos a necessidade de nos aferrar ao amor. Assim, a cada dia, uma nova mensagem nos espera, nos distrai, nos renova a ilusão”, garante.
Além da Argentina e do Brasil, “Amor de quarentena” já foi realizado na Espanha, no Uruguai, Chile, Equador e Paraguai. Em breve, Alemanha, Austrália, México, Peru, Colômbia, Holanda, França e Portugal também receberão o projeto. Fazem parte do elenco das produções internacionais artistas como Cecilia Roth, de filmes como “Tudo sobre minha mãe”; Leonardo Sbaraglia, de “Relatos selvagens”; Dolores Fonzi, de “Plata quemada”, e Jaime Lorente, o Denver da série “La casa de papel”.
Os ingressos custam R$ 40, mais R$ 4 de taxas, e estão disponíveis via internet. Parte da renda arrecadada com “Amor de quarentena” será destinada ao Fundo Marlene Colé, criado para ajudar profissionais das artes cênicas que ficaram sem trabalhar por causa da Covid-19, já que a pandemia fez com que teatros, casas de shows, circos e centros culturais fechassem as portas, suspendendo todo o tipo de evento aberto ao público.
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