*Por Karina Kuperman
“O mistério de Irma Vap” marcou a história do teatro brasileiro. A peça – estrelada nos palcos brasileiros por Marco Nanini e Ney Latorraca – ficou durante 11 anos ininterruptos (de 1986 a 1997) em cartaz e levou quase três milhões de espectadores ao teatro. Entrou para o “Guiness” como a montagem que ficou mais tempo em cartaz com o mesmo elenco. Agora, o desafio está nas mãos de Mateus Solano e Luís Miranda que decidiram remontar o espetáculo tão emblemático no qual os dois atores interpretam diversos personagens e trocam de roupa em apenas alguns segundos. Se, na versão de 1986, isso acontecia na coxia, agora, é no tablado, em frente ao público. Dirigida por Jorge Farjalla, a nova montagem está sendo um sucesso, no Teatro Oi Casagrande, no Leblon.
“O Farjalla resolveu ter como cenário um trem fantasma ao invés da mansão. A questão das trocas de roupa, que eram para ser escondidas, ele revela no palco. Tudo acontece na frente da platéia. Os camareiros entram em cena, se tornam monstrinhos do trem fantasma, nos ajudam a trocar de roupa, tocam, dançam. É uma peça escrita para dois homens interpretando homens e mulheres, mas o Farjalla idealizou quatro contra-regras que interagem conosco. É muito incrível”, pontua Mateus Solano, em entrevista exclusiva ao site HT.
Claro que a nova versão já teve a bênção de Nanini e Latorraca. “Foi uma emoção sem tamanho quando eles nos assistiram. Na hora do agradecimento, trouxemos os dois para dentro do cenário conosco. Não teríamos montado a peça se não tivesse essa curiosidade de as pessoas poderem conferir uma nova interpretação. Suprimos a curiosidade das pessoas de conhecerem o texto, as trocas de roupas… e também falamos do Brasil contemporâneo”, conta Mateus.
“O Ney Latorraca nos incentivou a fazer algo totalmente diferente. Tenho na memória o cartaz da peça na época, mas não assisti. Daí, só quando entendemos o nosso ‘Irma Vap’ o Farjalla liberou de conferirmos os detalhes da primeira montagem, porque já tínhamos o nosso caminho. Por revelar o bastidor do teatro, a troca de roupa também simboliza uma grande homenagem ao teatro”, diz, acrescentando: “Na primeira cena somos eu e Luís entrando. Cada um dpor um canto. Olhamos a plateia como quem pensa: ‘agora é isso’. É tudo no olhar. Aí viramos um para o outro e falamos ‘merda’ (que significa ‘boa sorte’, no teatro). E só então tem início o espetáculo. Não se trata da história contada pelos personagens, mas pelos atores”.
Como se todo o trabalho na peça já não fosse muito, Mateus está envolvido em outros projetos. O ator vive Zé Bonitinho na nova “Escolinha do professor Raimundo”, que, tamanho o sucesso, já vai para sua quinta temporada. “Em cada uma das temporadas há um desafio, voltar a pensar o Zé Bonitinho, entender a essência do personagem, não voar para longe do original, ser engraçado, mas não repetir…”, diz, referindo-se à versão original na qual o seu personagem foi vivido por Jorge Loredo (1925-2015). “Sempre quero surpreender, sempre. Essa é uma temporada muito especial, com participações, cenários diferentes. Agora, o Marcius Melhem integra o núcleo de comédia dos textos”, conta.
Além disso, ele se prepara para viver o grande escritor João Guimarães Rosa (1908-1967), na série “Aracy — o Anjo de Hamburgo”. A trama, que terá direção assinada por Jayme Monjardim, conta a história da brasileira Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa (1908-2011), interpretada por Sophie Charlotte, que trabalhou no consulado do Brasil em Hamburgo, na Alemanha, e ficou conhecida por se arriscar ajudando judeus a fugirem da Alemanha nazista para o Brasil. “Eu serei o namorado do anjo, que é a Aracy, uma brasileira que trabalha nas relações exteriores do Brasil, no consulado. Guimarães Rosa se encanta com essa mulher que está arriscando a própria vida para emitir visto para judeus fugirem da guerra. É uma historia de amor”, adianta. Será a primeira coprodução da Rede Globo com a Sony Pictures Television gravada em inglês e português.
“Eu faço inglês e prosódia, mas não sei muito da parceria com a Sony, só estou envolvido na parte artística. O que sabemos é que mandamos material para que vejam nosso inglês e ficou decidido que gravaremos duas vezes, para que não precise dublagem”, conta, sobre a coprodução internacional. “O mercado abriu. Temos a Netflix, Globo, HBO e outros multiplicando seus conteúdos. As pessoas querem ver histórias mais curtas, o que obriga as emissoras a produzirem mais séries. Isso tudo traz mais trabalho para os atores, então, por esse lado, é bom”, reflete.
Engajado, o ator escolheu sua luta: “Defender o meio ambiente”, diz ele, que, como contamos aqui, esteve em Brasília, ao lado de outros artistas, para entregar uma carta ao Ministério Público Federal em repúdio às mudanças na área ambiental. “Entregamos a carta e foi bom no sentido de começarmos um diálogo. Queremos representar a população. Se não tivermos água e ar, não tem mais o que discutir, é a questão das questões. Se não sabemos partilhar isso de forma natural, então não estamos preparados para viver em sociedade. E não adianta pedirmos. Se a grande massa não se conscientizar, não tem como os políticos nem as empresas mudarem”, frisa Mateus que adotou medidas em prol da natureza em seu dia a dia. “Eu tenho carro híbrido… sei que são medidas mais difíceis para a população no geral, mas tem outras que todos podem, como separar lixo, reduzir plástico, economizar água, aniquilar descartáveis”, enumera.
Mateus sabe de sua voz ativa, mas prefere dar o exemplo na vida real do que usando a ferramenta digital. “É que não sou de divulgar vida pessoal. No dia a dia, quem está ao meu lado sabe que eu ajo assim. Espero que muitos também fiquem tentados a mudar. São ações que se multiplicam”.
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