Já imaginou uma enorme reunião com grandes profissionais do teatro brindando e resistindo ao contexto de desvalorização cultural? Assim foi a noite de premiações e homenagens que marcou a 6ª edição do Prêmio Cesgranrio de Teatro. O evento, que aconteceu ontem (21/01), no Goldem Room do Hotel Belmond Copacabana Palace, ofereceu a maior premiação do país, distribuindo cerca de R$300 mil em prêmios. Na lista de presentes, grandes nomes como Nicette Bruno, Ney Latorraca, Lucio Mauro Filho e, é claro, a equipe do site HT, que conseguiu conversar com a grande homenageada da noite, Fernanda Montenegro.
Desde 2012, a Fundação Cesgranrio comemora anualmente a vitalidade do teatro e seus profissionais com uma premiação. Por esse palco de homenagens, já passaram grandes artistas como Glória Menezes, Tarcísio Meira e Marília Pêra, seja como homenageados, indicados ou apresentadores. Para Carlos Alberto Serpa, presidente da Fundação e idealizador do evento, ser referência no que diz respeito à arte e cultura é uma grande honra: “O que nos comove não é apenas o reconhecimento que conquistamos dentro da seara educacional, mas a forte associação que a sociedade faz entre o nome da Cesgranrio e o fomento da cultura brasileira”. Esse ano, foram 12 categorias com seis indicados em cada uma. Os vencedores receberam uma premiação individual de R$ 25 mil e o belo troféu, feito pelo artista plástico Yutaka Toyota.
Com um júri formado por Carolina Virguêz, Daniel Schenker, Jacqueline Laurence, Lionel Fischer, Macksen Luiz, Rafael Teixeira e Tânia Brandão, a premiação, apresentada por Julia Lemmertz e Jonatas Faro, fez mais do que premiações: conseguiu reunir os profissionais do teatro em prol da cultura. Mel Lisboa, indicada como melhor atriz pelo espetáculo “Dogville”, afirmou que no atual contexto do país, a união se torna ainda mais necessária: “É um momento de desvalorização total da cultura no Brasil, de demonização da classe artística por total ignorância. Então, realmente, ter um prêmio que valoriza os artistas do teatro é extremamente crucial”. Complementando a fala da colega com enorme sintonia, o experiente Ney Latorraca, homenageado na edição de 2014, pontuou: ” É um momento saudável e de festa para nós, mas não podemos esquecer que também é um momento de desvalorização. Acho que agora é a hora de nós ficarmos mais fortes, sabe? As pessoas podem falar e reivindicar, pedindo os seus direitos, esse momento é de resistência para nós”.
Com a palavra união na boca de praticamente todos os presentes, Lúcio Mauro Filho relembrou ainda uma outra questão. Segundo o ator, ainda há um enorme equívoco na maneira como a grande massa da população enxerga os profissionais da arte: “Nós sempre somos vistos como supérfluos. A arte é sempre aquela coisa que as pessoas imaginam que podem deixar de lado na hora do aperto. Eu fico me perguntando, será que esse momento delicado não será bom para a arte e para toda uma nova geração prestar atenção e ver que na verdade o glamour e esse aburguesamento esconde pessoas simples e extremamente trabalhadoras?”. E prosseguiu fazendo referência à grande homenageada da edição: “Às vezes, nós vemos grandes artistas e alguns estão bem de vida financeiramente falando, mas são raladores também. Vai ver a história de Fernanda Montenegro para entender o porquê ela merece tudo que ela conquistou”.
Assim, minutos antes de Fernanda subir ao palco, o site HT relembrou junto dela, esses momentos que a fizeram receber, na noite de ontem (21/01), a grande homenagem do ano. Ainda que tenha sido a primeira latino-americana e a única brasileira já indicada ao Oscar de melhor atriz, com o filme “Central do Brasil“, e que tenha sido também a primeira a ganhar o Emmy Internacional pela atuação em ”Doce de Mãe”, a renomada profissional demonstrou muita humildade ao se referir à homenagem da Cesgranrio. “O teatro que é o grande homenageado, não eu. Nunca fiz nada sozinha e, por isso, não é uma festa minha, é de uma parte de uma profissão. É um ato de resistência de todos nós”, afirmou.
Concordando com a maioria dos presentes e conhecida por fugir do debate, Fernanda reforçou a necessidade da real valorização da arte e cultura como um todo: “Eu já vi e vivi muito governos se sucederem. Se eles lá não vão bem, a gente precisa resistir aqui. É uma importância total e absoluta estarmos juntos premiando tantas pessoas, né? Parece um grito de guerra de tão poderoso que é em um momento tão culturalmente esvaziado”. Para Lúcio Mauro Filho, a coragem da atriz, vista em tantos momentos, inclusive na fala acima, é o que faz dela um exemplo de ser humano: “Ela é nossa grande mestra, uma mulher que não fala só pela profissão, no que diz respeito a talento e a tudo que ela conquistou enquanto atriz, mas como ser humano mesmo. É uma figura respeitada por todas as profissões, por todos os humanos. É um orgulho nacional, que merece todas as homenagens”. E continuou demonstrando todo seu bom-humor e admiração: “Os súditos vêm todos quando uma rainha como ela é homenageada, né? Homenagear a Fernanda Montenegro é homenagear o teatro brasileiro e ter a presença dela aqui é por si só um troféu às artes e à cada pessoa que está aqui”.
Ainda com o peito estufado pela coragem e resistência, a artista subiu ao palco com mais um bonito e objetivo discurso. “Como falar em educação sem cultura? Não existe educação sem cultura! A educação é um esqueleto. A cultura é a carnificação desse esqueleto”, afirmou ela. Para além dessa conhecida força e resistência, em nossa conversa anterior com Fernanda conseguimos captar também a simplicidade de alguém que, aos quase 90 anos e servindo como referência para tantos profissionais incríveis, afirmou se inspirar na vida e a beleza que ela traz: “A gente acorda e os nervos funcionam, as células funcionam, o imaginário funciona, então a vida diz e nos inspira. Sei que algumas pessoas me têm como referência, mas a minha maior é a vida mesmo”.
Confira os indicados e premiados no 6º Prêmio Cesgranrio de Teatro:
Categoria Melhor Figurino
- Eduardo Giacomini por “Nuon”
- João Pimenta por “Dogville”
- João Pimenta por “Romeu + Julieta ao Som de Marisa Monte”
- Kika Lopes e Rocio Moure por “Elza”
- Maria Duarte e Márcia Pitanga por “Um Tartufo”
- Ney Madeira e Dani Vidal por “Bibi- Uma Vida em Musical”
Categoria Melhor Cenografia
- Daniela Thomas por “Romeu + Julieta ao Som de Marisa Monte”
- Dina Salem Levy por “Cérebrocoração”
- Dóris Rollemberg por “A Última Aventura é a Morte”
- Marcos Flaksman por “O Inoportuno”
- Mathieu Duvignaud por “A Invenção do Nordeste”
- Natalia Lana por “Bibi- Uma Vida em Musical”
Categoria Melhor Iluminação
- Beto Bruel por “Cérebrocoração”
- Monique Gandenberg e Adriana Ortiz por “Romeu + Julieta ao Som de Marisa Monte”
- Paulo César Medeiros por “Maria!”
- Renato Machado por “A Última Aventura é a Morte”
- Renato Machado por “Elza”
- Russinho por “Memórias de Esquecimento”
Categoria Melhor Ator
- Bruce Gomlevsky por “Memórias de Esquecimento”
- Claudio Mendes por “Maria!”
- Daniel Dantas por “O Inoportuno”
- João Velho por “A Ordem Natural das Coisas”
- Marcelo Olinto por “Insetos”
- Robson Torinni por “Tebas Land”
Categoria Melhor Ator em Teatro Musical
- Chris Penna por “Bibi- Uma Vida em Musical”
- Claudio Galvan por “Romeu + Julieta ao Som de Marisa Monte”
- Leo Bahia por “Bibi- Uma Vida em Musical”
- Luiz Felipe Mello por “Pippin”
- Rodrigo Naice por “70? Década do Divino Maravilhoso- Doc. Musical”
- Tauã Delmiro por “70? Década do Divino Maravilhoso- Doc. Musical”
Categoria Especial
- Andrea Jabor pela preparação corporal do espetáculo “Insetos”
- Cia. dos Bondrés pelos 10 anos de atividade em pesquisa de máscaras balinesas
- Elenco de “Elza”
- Gustavo Gaparini e Eduardo Rieche pela adaptação e roteiro musical de “Romeu + Julieta ao Som de Marisa Monte”
- Henrique Fontes e Pablo Capistrano pela adaptação teatral do livro “A Invenção do Nordeste e Outras Artes” de Durval Muniz de Albuquerque Jr
- Marcia Rubim pela direção de movimento do espetáculo “Trajetória Sexual”
Categoria Melhor Atriz
- Alice Borges por “Irmãozinho Querido”
- Ana Kfouri por “Uma Frase Para Minha Mãe”
- Beatriz Bertu por “A Ordem Natural das Coisas”
- Gisele Fróes por “O Imortal”
- Mariana Lima por “Cérebrocoração”
- Mel Lisboa por “Dogville”
Categoria Melhor Atriz em Teatro Musical
- Amanda Acosta por “Bibi-Uma Vida em Musical”
- Daniela Fontan por “A Vida não é um Musical- O Musical”
- Izabela Bicalho por “Elizeth- A Divina”
- Nicette Bruno por “Pippin”
- Stella Maria Rodrigues por “Romeu + Julieta ao Som de Marisa Monte”
- Totia Meirelles por “Pippin”
Categoria Melhor Direção
- Ary Coslov por “O Inoportuno”
- Duda Maria por “Elza”
- Enrique Diaz e Renato Linhares por “Cérebrocoração”
- Leonardo Netto por “A Ordem Natural das Coisas”
- Tadeu Aguiar por “Bibi- Uma Vida em Musical”
- Victor Garcia Peralta por “Tebas Land”
Categoria Melhor Direção de Musical
- Apollo Nove por “Romeu + Julieta ao Som de Marisa Monte”
- Jules Vandystadt por “70? Década do Divino Maravilhoso- Doc. Musical”
- Jules Vandystadt por “O Homem no Espelho”
- Jules Vandystadt por “Pippin”
- Pedro Luís, Larissa Luz e Antônia Adnet por “Elza”
- Tony Lucchesi por “Bibi- Uma Vida em Musical”
Categoria Melhor Texto Nacional Inédito
- Cristina Fagundes por “A Vida ao Lado”
- Eduardo Moreira, Márcio Abreu e Paulo André por “Outros”
- Leandro Muniz por “A Vida Não é um Musical- O Musical”
- Leonardo Netto por “A Ordem Natural das Coisas”
- Miriam Halfim por “Meus 200 filhos”
- Pedro Brício por “O Condomínio”
Categoria Melhor Espetáculo
- A Invenção do Nordeste
- A Ordem Natural das Coisas
- Bibi- Uma Vida em Musical
- Dogville
- Elza
- Romeu + Julieta ao Som de Marisa Monte
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