Pedro Paulo Rangel comemora incríveis 50 anos de carreira, que foram muito bem distribuídos entre televisão, teatro e cinema. Em conversa exclusiva com o site HT, o ator fez um importante balanço da sua trajetória durante todo esse tempo: “O saldo é positivo, pois estou vivo! Sempre foi muito difícil viver de teatro no Brasil. Mas, antigamente, os teatros disponibilizavam até nove sessões por semana. Hoje, a situação é difícil. É necessário o ator ter três ou quatro empregos para pagar as contas. Acho que a situação ainda vai piorar. Mas devemos ter esperança”. Diante de tantos trabalhos importantes, ele afirmou: “É complicado escolher apenas um que tenha me marcado bastante. Afinal, são 50 anos. Apesar de tentarmos, não acertamos sempre. A época do Teatro Oficina, por exemplo, foi maravilhosa. Em 1969, eu participei da peça que contava a vida e a história de Galileu Galilei. Foi uma das experiências mais incríveis”.
Em comemoração às cinco décadas dedicadas às artes, ele está em cartaz com o monólogo “O Ator e o Lobo”, no Teatro Poeira, em Botafogo. É baseada na premiada obra do escritor português António Lobo Antunes, ganhador do Prêmio Camões, e com direção de Fernando Philbert. “Eu fui apresentado ao escritor pelo Fernando. De cara, eu me identifiquei com as suas obras. Ele é ótimo. Li mais de 300 crônicas e textos para me preparar para o papel”, disse o artista.
Pedro aproveitou para comentar sobre o histórico desafeto entre António Lobo Antunes e José Saramago (1922-2010): “Realmente há essa polêmica entre as torcidas dos dois autores. Talvez seja pelo fato do Saramago ter recebido um prêmio tão importante como o Nobel. Eu aproveito para usufruir das obras dos dois. Afinal, ambos são excelentes. Mas é fato que eles não se davam muito bem. Hoje, embalado pela peça e pelos textos, acho que estou mais a favor da torcida do Lobo Antunes”.
Além dos textos do autor lusitano, Pedro também contribuiu com materiais de sua própria autoria para a produção, a pedidos de Philbert. Diante do desafio de interpretar perante as duas referências, ele declarou: “No início foi muito paralisante, fiquei meio preocupado. António Lobo Antunes é um escritor tão incrível. Com o tempo, eu fui relaxando e descobrindo que temos muitas coisas em comum”. Após ter apresentado o espetáculo em uma primeira temporada em São Paulo, em maio, no Sesc Pinheiros, Pedro Paulo comentou a respeito da dificuldades que cercaram a produção: “Essa peça é significativa pra mim. Principalmente agora que a cultura está em segundo plano. Foram cinco anos investindo na produção. É muito tempo para conseguir ajuda. Eu gostaria muito de levá-la para outras regiões do país, mas não sei se irei realizar esse sonho. Eu investi recursos pessoais nesse projeto. Sou muito grato ao SESC por me ajudar nessa empreitada e tornar possível a realização desse espetáculo.No momento, as minhas atenções estão voltadas somente a essa montagem”.
O ator opinou a respeito do atual momento político em que o país se encontra e também sobre a situação da arte e da cultura: “É tudo lamentável. É muito difícil e não há nenhum tipo de estímulo. Desde o golpe de 64 que vem sendo implantado um processo de deseducação das pessoas. Os governantes se aproveitam para nos pisotear. Porém, continuaremos resistindo até o fim”.
Diante das recentes mudanças que alteram o teto de gastos da Lei Rouanet, que passará a se chamar Lei de Incentivo à Cultura, ele afirmou: “É triste saber que a arte é sempre a mais prejudicada, mas isso não é de hoje. Sempre foi difícil viver de cultura. Porém, somos artistas e continuaremos resistindo e lutando”.
Quando perguntado se há algum trabalho não realizado que ele gostaria de fazer, Pedro Paulo responde sem pensar duas vezes: “Embora já tenha trabalhado com a Fernanda Montenegro, eu gostaria muito de estar junto dela no teatro. É uma atriz maravilhosa que o Brasil possui. Seria uma alegria imensa. Uma honra”.
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