De uma floresta de possibilidades e artistas talentosos, quatro compositores se encontraram para fazer aquilo que mais amam: música. Seja pelo acaso ou força do destino, os artistas Thiago Thiago de Mello, Ilessi, Demarca e Claudia Castelo Branco acabaram se unindo para formar o grupo Selva Lírica. O que começou por puro hobby e vontade de descobrir novos horizontes acabou se tornando coisa séria. “Nós fomos encontrando o que seria a Selva que, para mim, é uma mistura de um ato político com um encontro espiritual”, afirmou Claudia, que foi a principal responsável pela união. Com apenas cinco meses desde o primeiro show oficial da banda e apenas quatro apresentações, o quarteto já tem planos de lançar um disco com canções selecionadas especialmente para o projeto e que evocam a brasilidade. O repertório contém letras que integram a carreira individual dos artistas, trazendo um mosaico de ideias e questionamentos. “Este encontro precisa ser registrado. Sendo assim, o CD já é quase um fato”, garantiu Demarca. Disponível no YouTube, Selva Lírica é um manifesto à diversidade e ao povo brasileiro.
Tudo começou no ano passado quando a pianista Claudia Castelo Branco confidenciou a Ilessi a vontade de reunir outros dois profissionais para criar uma banda de experimentação voltada para composição. A escolha dos companheiros aconteceu naturalmente e, apesar da vontade de trabalhar junto existir desde um primeiro momento, somente se reuniram no início de 2018. Em cada encontro, o quarteto buscou reconhecer as suas semelhanças para trazer a identidade de todos para o palco. “Nós já vínhamos trabalhando em nossas carreiras solo com a temática brasileira, por isso foi até óbvio tratar disto. Era um elemento em comum e tínhamos a intenção de mexer com o Brasil mais profundo que existe dentro de cada um. Ainda mais quando começamos a cantar juntos sentimos que havia uma força em levantar este debate”, salientou Thiago Thiago e Claudia logo completou: “A gente se alimenta muito do outro”.
Por ser tão brasileiro, é óbvio que os quatro não poderiam deixar de lado as questões que circulam no país. Com o fim das eleições e todas as temáticas que surgiram a partir deste tema, a banda Selva Lírica também acabou sendo afetada por estas manifestações, transformando o palco em um momento de debate e questionamento. “Algumas coisas são vivas na música e isto inclui o momento político atual. Nós em um palco e as coisas que dizemos já é uma forma de manifestação. Fazer artes neste contexto já é um ato de resistência”, analisou a cantora Ilessi. Considerado um show manifesto pelo público e os próprios artistas, os artistas chegam a citar poemas e textos que inferem esta reflexão. “Hoje em dia, acho que os artistas estão em uma encruzilhada tão louca que só o fato de celebrar a canção brasileira já é política. Espero que a gente consiga levar as mensagens para estas pessoas”, salientou Thiago Thiago.
A canção Quilombo Curumim é um exemplo deste manifesto impregnado na identidade da banda. Com uma pegada completamente inesperada, a música exalta as comunidades quilombolas e mostra os desafios que é preciso enfrentar para ter uma certa notoriedade frente à sociedade. “Queria trazer uma temática a princípio negra do quilombo, mas sempre aproximando dos índios. Na região que conheço mais da Amazônia, inclusive, tem um resquício desta sociedade quilombola. Foi assim que cheguei neste tema”, salientou Thiago Thiago. A partir de um processo de criação conceitual, a melodia ainda conta com um poema recitado no princípio da apresentação.
Desde que deram o start nas reuniões da banda, eles chegaram a escrever cerca de três canções que estão incluídas no repertório do show. “Muitas propostas de músicas, composições e arranjos saíram dos nossos próprios encontros. Muitas vezes a melodia pintava e nós apenas íamos fazendo”, salientou Ilessi. De resto, o line-up da apresentação é formado com melodias que foram escritas para a carreira pessoal de cada artista. “Algumas canções que entraram no show não estavam previstas para entrar, mas pareciam gritar o estilo que estávamos buscando. Por comunicar tão bem, acabamos inserindo”, informou a cantora. De acordo com eles, existe uma vontade de compor ainda mais canções para as futuras apresentações. O gostinho desta apresentação e do repertório pode ser conferido no Youtube no canal Selva Lírica. De forma geral, o quarteto se apresenta em dois modelos de shows, um mais intimista e outro que reúne um baixista e um percussionista. O grupo ainda conta com um diretor cênico que gerencia ainda mais esta orquestra visual.
No palco, um mosaico de canções com artistas movidos pelo desafio de cantar e se apropriar da canção dos outros. Cada qual com sua particularidade e visão de mundo acabou transformando carreiras solos em uma explosão de energia e inspiração. “Neste processo fui muitas vezes desafiada a fazer coisas que não tinha coragem como tocar violão em determinada música que eu tinha mais dificuldade. Nesta banda, um está instigando o outro a trazer o seu melhor. É claro que existe um ponto em comum entre nós, mas também produzimos trabalhos muito singulares”, adiantou Ilessi. Os profissionais enfrentaram o desafio de saber lidar com a diferença musical dos colegas, em um exercício pleno de ouvir, receber e expor suas opiniões. “Em um momento como este de austeridade, o fato de nós sermos tão diferentes em termos de vivências, cores e situações sociais acaba sendo instigante. É muito atual colocar em um mesmo lugar tantas perspectivas diferentes”, informou Thiago Thiago. Além de exaltar, Selva Lírica também representa todos os brasileiros de forma igualitária, trazendo desde a cultura da região Norte até do Sudeste.
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