* Por Carlos Lima Costa
É na fé e no amor que a cantora Tânia Mara se guia e se sustenta. São fontes essenciais que lhe seguraram nesse momento de pandemia. E também em fase anterior a essa tragédia mundial, quando, em 2019 descobriu ter artrite psoriática, uma doença autoimune, que mudou seu modo de encarar a vida. “É a psoríase nas articulações. Muitas vezes, surge por conta do lado emocional. Enquanto estava nos Estados Unidos, peguei três meses muito frio, perdi o equilíbrio, tive uma dor maior, sofri muito. Então, hoje, tomo altas doses de vitamina D e me exercito, mas não com a mesma intensidade. É um problema articular, se não trata você vai perdendo os movimentos. Já tive crise de não conseguir descer escada”, revela.
Antes dessa descoberta, por travar o corpo, já havia se submetido a quiropraxia, acupuntura. Quando o então marido, o diretor Jayme Monjardim operou uma hérnia de disco, ela teve uma crise de ansiedade, problema nas articulações, e assim, quando ele deixou o hospital, em casa, ficou cada um em um quarto, enquanto se recuperavam. “Eu vinha tendo crises e não sabia o que era. Travava o pescoço, o pulso, o tornozelo. Quando foi o quadril deu uma despertada. Quando o médico falou que não tem cura, aquilo foi um baque, revi toda minha vida, pois tenho filha para criar, sou jovem, não posso viver achando que não é nada”, desabafa a artista de 38 anos. Hoje, ela faz acompanhamento com um reumatologista através de exames de sangue e uma vez por semana vai a São Paulo e toma uma injeção para evitar crises. Como é genético, a família fez exames. A avó paterna, Dione também tem, mas desenvolveu com mais idade e o pai, Roberto Almeida tem um pouco nas mãos. “Mas é sútil, nunca teve crise”, explica.
Foi um grande sobressalto. “Depois que assisti a um documentário sobre a Lady Gaga que sofre com fibromialgia e lúpus, eu pensei: ‘Senhor, o que tenho não é nada, estou ótima’”, explica, focada no pensamento positivo. Durante o tratamento, acabou emagrecendo. “Essa foi uma lição, comecei a cuidar de dentro para fora. Estava todo mundo falando que emagreci, mas não sou mais a paranóica da academia como eu era. Me cuido de forma geral, venho fazendo meditação, trabalhando o emocional, o interior. Eu achava que era supersaudável, mas quando você se depara como uma situação dessa, você começa a perceber um monte de coisa”, frisa ela, que se trata também com uma nutróloga e usa suplemento que lhe ajuda no processo inflamatório. Na última consulta soube que havia perdido cinco quilos e a médica recomendou que perdesse mais três para recuperar massa muscular. Enfim, ela que chegou a vestir manequim 44, após a gravidez, usa agora o 38.
Tânia se manteve de pé e sem deixar de pensar no trabalho. Em termos profissionais, no último ano, desde o início da pandemia lançou os singles Leva Eu, Se Rolar Rolou e Anjos Vem do Céu. Os três haviam sido gravados em janeiro de 2019, em Nashville, nos Estados Unidos.
Com Anjos Vem do Céu, gravou clipe com a participação do modelo Ignácio Luz, de 25 anos. A sintonia em cena foi tanta que, ano passado, quando o clipe foi lançado, ele foi apontado como novo amor de Tânia, cuja separação se tornou pública em outubro de 2019, após 15 anos. “Se fosse verdade, não teria problema em dizer. Não estou fechada para o amor, mas estou tranquila”, assegura.
Tânia tem um álbum inteiro inédito. Gravado em 2018, produzido por Nirvado Paz, conta com participações de artistas como Simone e Simaria e Wesley Safadão. Desse trabalho com pegada mais sertaneja, ela chegou a disponibilizar nas plataformas digitais a música Pra Rua, mas como não está podendo realizar shows para divulgar as novas canções, ainda está decidindo quando vai lançar, se será um single por vez ou um EP. Ainda inédito também existe um dueto com Amado Batista. “Em todos os meus trabalhos tenho juntado country, sertanejo, mas um sertanejo romântico”, diz.
Ao relembrar a trajetória artística, ressalta que em suas primeiras músicas de trabalho Sem Mistério e Chega, ela já abordava temas que hoje estão em voga como o empoderamento feminino. Nos versos de Chega, por exemplo, lançada há duas décadas, ela entoava: “Eu não sou nenhum brinquedo pra você brincar/Eu não sou tapete pra você pisar/ Se mexer com fogo pode se queimar.” Já a recente Pra Rua, fala sobre traição: “No seu carro, um bilhete de motel/E eu em casa te esperando pra deitar. Como você pode ser tão infiel/Disse que ao meu lado seria o teu lugar”.
No momento, enquanto planeja uma nova live, ela está focada no programa Canta Comigo, da Record. Já tinha feito a versão teeen e agora está na adulta. Ela integra o time de cem jurados do programa. “É muito bom estar lá me mantendo em movimento diante dessa loucura toda para a gente não pirar e podendo levar entretenimento para as pessoas neste momento delicado, em que fica um programa emocionante, humano. O Rodrigo Faro conduz lindamente esse projeto maravilhoso que era do Gugu Liberato (1959-2019)”, afirma. E ressalta que a produção está cercada de cuidados gigantescos. “Não temos contatos, chegamos de máscara para gravar, cada um vai para sua cabine, temos um acrílico que nos mantém separados. E estamos sempre fazendo testes. Me sinto muito segura”, frisou sobre as gravações que acontecem no Pavilhão Vera Cruz, em São Bernardo do Campo.
Apesar de se manter em movimento, Tânia Mara não faz um show com presença do público desde 2019. Naquele ano, menos de dois meses após confirmar sua separação do diretor Jayme Monjardim, ela viajou para os Estados Unidos, acompanhada de Maysa, de dez anos, filha deles. Foi com a intenção de aperfeiçoar o inglês, realizando um antigo desejo. “Maysa sofreu com a separação. Não foi fácil para mim nem para o Jayme também. Mas criança cria o mundinho dela que foi se desfazendo”, pondera.
Algum tempo antes da separação, Tânia e Jayme haviam celebrado novamente a união em cerimônia religiosa. “Sonhava casar na igreja. Quando Jayme foi liberado pelo tribunal eclesiástico para casar novamente, resolvemos levar esse projeto adiante. Mas ali já existia algum desentendimento, passamos por período turbulento. Achamos que aquele movimento seria importante. Eu e o Jayme temos relação bacana de amizade e parceria. Não foi fácil a separação, era uma relação de 15 anos com filha. Tivemos momento de tentar manter, mas chegou um ponto que entendemos que era melhor cada um seguir o caminho que sonhava. Agora, eu e Jayme temos uma ligação para sempre. Quando se tem filho, se tem amizade, um sabe que pode contar com o outro. Maysa, às vezes, ainda fica confusa em ter que se dividir, mas está superbem até por ver que temos uma relação bacana, que temos respeito um pelo outro”, desabafa.
Tânia já havia desenvolvido o quadro autoimune. “Queria viver a vida com mais qualidade, Maysa teve síndrome de pânico. Estava prezando saúde emocional e física. Comecei a desacelerar o corpo para ter vida mais saudável e passei a ver a vida diferente. Maysa é a minha prioridade. É importante trabalhar, mas tem que ter um equilíbrio, senão a saúde vai embora. Vivia efeito sanfona, já havia passado por depressão pós parto”, observa. Ela e Maysa passaram cerca de quatro meses na Flórida. Nas férias escolares da Primavera nos Estados Unidos, as duas vieram ao Brasil para permanecer uma semana. Chegaram dia 13 de março, mas por conta do decretado isolamento social não retornaram ao país da América do Norte. Os irmãos, o ator e diretor Rafael Almeida e a atriz Roberta Almeida (mãe de Maria, de 3 anos, ela está grávida de três meses) também voltaram para o Brasil.
Desde o final de julho, Tânia vive grande parte de seu isolamento em Indaiatuba, no interior de São Paulo, onde está morando. Passou um tempo também na fazenda em Amparo, que fica a uma hora de lá. “Em meio a separação, em fase de recomeço, adaptação, questionei no início quando não pude voltar para os Estados Unidos, mas depois agradeci os planos de Deus, de passar a pandemia no meu país. Meus planos tiveram que ser remodelados. Em meio a isso, trabalhei auto crescimento, espiritualidade, aprendendo a valorizar as coisas e a viver um dia de cada vez. Deus me deu a oportunidade de repensar”, explica.
À distância, sofreu quando a Covid-19 atingiu sua família. O irmão Rafael teve a doença ainda em Orlando, Roberta em Patos de Minas, e os pais, Roberto e Cida Almeida, no Rio. “Mesmo não tendo sido internados meus pais ficaram bem ruinzinhos. Olha que meu pai é maratonista, vegano, se cuida. Foi uma sensação. de impotência não poder cuidar deles. Graças ao Deus misericordioso todos ficaram bons”, conta. Ela e a filha não contraíram o vírus. “Fé e amor são ingredientes imbatíveis, que nos faz ser diferentes em momentos como esse. A pandemia veio para mostrar que somos todos iguais, que não faz diferença ter dinheiro, ser conhecido, a raça ou a condição social. O vírus pega em todo mundo”, ressalta.
Mesmo separados, Tânia e Jayme (quando a pandemia começou, ele estava envolvido com a direção da série O Anjo de Hamburgo) chegaram a ficar parte da quarentena juntos com a filha. “Na fazenda é o lugar mais protegido que tem”, diz ela. Passar por tudo que passou nos últimos tempos não foi fácil. “Tive momentos que falei que se não pirasse ali, não pirava mais. Me conectei com o lado espiritual”, conta.
Na verdade, logo após a separação, ela começou a meditar e a gravar mais vídeos para o Instagram. “Fui me acalmando. Quando a Covid chegou na família eu já estava mais estruturada emocionalmente, mas, como disse, me senti impotente quando atingiu meus pais. Queria estar lá dando sopa, ajudando, rolou uma angústia. Mas, como sempre fiz na vida, me apeguei a Deus, as orações e a minha positividade. Por mais difícil que seja tem sempre que pensar que vai dar certo. Acredito na lei da atração”, destaca a cantora que ao longo da carreira emplacou músicas em 13 trilhas sonoras de novelas. Depois de assistir a reprise de Flor do Caribe, onde esteve presente com a canção Cuida de Mim, revê agora A Vida da Gente, com a música Recomeçar. “Essas reprises tem sido um presente”, finaliza.
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