SICC 2020: Mudanças de atitudes e equilíbrio emocional rumo a dias melhores


Na inovadora edição do Salão Internacional do Couro e do Calçado, realizado digitalmente na plataforma eMerkator unindo indústria calçadista e varejo em um ambiente virtual de negócios para o Verão 2021, Fred Rocha e Maicon Dias falam da necessidade de novos olhares no cenário atual, de re-empreender o próprio negócio, readequando-o em tempos de pandemia, e também, da empatia no olhar para o consumidor, estando atento aos seus desejos e necessidades. Encerrando o evento, Rossandro Klingley salienta como o exercício de curadoria das emoções pode nos guiar para o equilíbrio emocional

*Com Brunna Condini

A pandemia do novo coronavírus trouxe um cenário completamente diferente em nossas vidas. O mundo não será mais o mesmo e os desafios são diários. Vemos crise na saúde, na economia, na política e insatisfação social, e tudo isso afeta o equilíbrio emocional de cada um. O vírus mostrou nossa fragilidade diante da natureza e do desconhecido, mas a tecnologia nos aproximou, e mesmo ainda tendo a necessidade do isolamento social, sentimos o quanto não estamos sós diante de tudo.

E esse foi um dos objetivos da realização digital do Salão Internacional do Couro e do Calçado (SICC), realizado na plataforma eMerkator. Durante 12 horas de evento, de forma virtual e interativa, compradores do Brasil e do mundo puderam acessar todos os lançamentos Primavera-Verão, assistiram palestras no ambiente virtual emerkator talks e tiveram a plataforma como uma ponte entre eles e a indústria calçadista e de acessórios. E como entre os desafios que a humanidade enfrenta neste momento está a mudança de atitudes e a tentativa de manter o equilíbrio emocional – que pode ser inclusive uma das maiores provas dentro do panorama atual -, as palestras foram de suma importância.

Fred Rocha no emerkator talks: “Que atitudes tomar em relação ao consumo neste cenário? Como restabelecer nossos negócios para viver mais e melhor?” (Divulgação)

Fred Rocha, empreendedor, inovador e apaixonado pelo varejo, foi um dos convidados e começou sua palestra sob o tema “O futuro do seu negócio depende de você hoje” com um questionamento e um convite à reflexão: que atitudes tomar em relação ao consumo neste cenário? Como restabelecer nossos negócios para viver mais e melhor? O especialista em varejo e consumo seguiu falando de nossas heranças culturais em relação ao comércio e a relação com o consumidor. “O mais importante neste momento é entendermos os desafios culturais que temos. Precisamos parar de vender do jeito “velho”. Tudo que fazemos é voltado ao preço. Então, convido vocês a aprender a reconstruir esse caminho. Não pelo o que o produto vale, mas pelo o que ele pode fazer pelas pessoas. Como esse produto serve ao consumidor?”, questiona. “Precisamos entender que, ao longo da história, o comércio sempre foi passivo. Sofremos porque esperamos o cliente entrar, nos procurar. Pensar fora da caixa é também continuar investindo em bens intangíveis. Neste momento é crer para poder ver. Precisamos verdadeiramente pensar como consumidor e identificar os problemas como ele”.

“Pensar fora da caixa, é também continuar investindo em bens intangíveis. Neste momento, é crer para poder ver. Precisamos verdadeiramente pensar como consumidor, identificar os problemas como ele”

Eleito Profissional de Marketing em 2019, Fred é o mais contratado especialista de varejo no Brasil, com 26 anos de trajetória no mercado. E continuou falando em defesa da empatia como a sinergia entre o lojista e o consumidor: “Como vender em um momento como este? Acredito muito em tentarmos verdadeiramente nos colocar no lugar dos outros. E aí pergunto: como o seu produto ou serviço vai melhorar, mudar a vida de alguém hoje? É preciso, mais do que nunca, pensar em re-empreender o negócio, que nada mais é, que readequar, diferenciar”, pontua.

Ele seguiu fazendo uma analogia entre o mercado veloz e uma correnteza. “Administrar é só a direção do barco, precisamos do motor, que é nunca parar de empreender, movimentar. Podemos aproveitar o momento e criar um negócio para o futuro, que é o modelo que tem na prioridade ajudar as pessoas. E o dinheiro que vem disso é consequência”, observa. E propõe mais uma reflexão: “Qual é o propósito da sua empresa? Ele está relacionado a ajudar algo ou alguém antes de você? Como seu produto ou serviço ajuda na vida das pessoas? A gente só ganha dinheiro resolvendo o problema dos outros. Empatia é a tônica. Precisamos agir como facilitadores tendo um propósito. Qual é o seu? Eles transformam negócios. Inovação é facilitar a vida do cliente”.

A análise de Fred Rocha no SICC 2020 digital: “Empatia. Precisamos agir como facilitadores tendo um propósito. Inovação é facilitar a vida do cliente”

A pandemia apontando novos olhares

Founder e CEO da Gampi Casa Criativa, Maicon Dias participou do emerkator talks direto do estúdio de transmissão, mas com todas as medidas de segurança ao contágio da Covid-19 respeitadas. O especialista em Marketing e Comunicação, completou o conteúdo abordando a importância de conhecer o consumidor. “Conhecer desejos e necessidades. Olhar para eles mais como pessoas e menos como números. Renovando o seu olhar fica mais fácil saber o que entregar e como entregar”, diz. “Sei que aí do outro lado têm um monte de varejistas, profissionais da área. Mas se renove, passe uma tarde que seja no ponto de venda de vocês só para observar as pessoas. Isso vai trabalhar a empatia com quem vai consumir, frequentar o lugar. Como vou surpreender essa pessoa? A empatia é um tema que está em alta. O cenário mudou, Não é uma realidade aquecida de venda, de produção. As pessoas, em sua maioria, estão em casa, comprando via internet. E vocês estão tendo que olhar para o negócio de outra forma. Tem gente dizendo que esses mais de 100 dias de isolamento social valeram por 10 anos em aprendizado sobre os negócios. Esse cenário mostrou que os negócios que já iniciaram as mudanças necessárias estão navegando melhor no cenário atual”.

Maicon Dias: “Tem gente dizendo que esses mais de 100 dias de isolamento social valeram por 10 anos em aprendizado sobre os negócios” (Divulgação)

Em sua análise, Maicon deixa claro que as medidas e mudanças de hábitos devem ser permanentes e não só no período em que o varejo está sendo fortemente impactado pelo necessário combate à Covid-19. “A empresa de cada um de vocês deveria existir para ativar algo positivo e não ser simplesmente uma loja ou indústria de calçados. Se for, vocês vão acabar caindo em um limbo comum, que é o do consumidor que se relaciona com sua marca só levar em consideração oportunidade e preço, sem valor agregado”, orienta Maicon. E acrescenta: “Quantos negócios no mundo já tiveram que mudar porque o formato foi alterado? A tecnologia mudou, mas as necessidades permaneceram? Não estamos falando aqui sobre produto, mas sobre desejo. Isso é universal. Cabe a nós esse desejo que pretendemos suprir. A necessidade das pessoas permanece. O que muda é o formato. Pensem que todo mundo quer ser feliz nesta vida. O objetivo das pessoas está associado a prazer. É a fórmula da felicidade”.

“Não estamos falando aqui sobre produto, mas sobre desejo, isso é universal. Cabe a nós esse desejo que pretendemos suprir”

O profissional cria estratégias e ações para grandes marcas no mercado nacional, sempre tendo como foco o universo do consumidor. “Temos que entender que são gerações diferentes consumindo e isso pode ser uma grande oportunidade. Como, por exemplo, a geração intitulada “prateada”, muito esquecida das marcas. Formada por pessoas ativas no mercado de trabalho, com mais capacidade de compra hoje do que quando eram jovens, que encontra poucos produtos pensados para elas. Então é uma gigante oportunidade. Na outra ponta, temos a geração chamada “ativista”. Está entendendo o consumo de forma diferente, buscando por marcas com diversos propósitos. Aqui, muito mais do que pensar produtos, é pensar em consumo consciente, igualdade de gênero e raça. Esta geração pensa do nascimento do produto até o seu consumo. No ciclo produtivo todo. Essa geração está fazendo com que todos repensem o mundo, pressionou a indústria e a mídia. Toda essa influência mudou o mercado. Entende que pode mudar o mundo e trabalha para isso. E temos a geração de agora, digamos que “mutante”. Ela está no mercado de trabalho e pode ser uma geração que vai fazer total diferença. São pessoas que entendem que estão falando com pessoas, não com produtos”.

Maicon Dias: “O objetivo das pessoas está associado a prazer. É a fórmula da felicidade”

E concluiu deixando mais um questionamento no ar: “Daqui há 10 anos, onde sua empresa vai estar? Você vai estar olhando para esses consumidores? Todo mundo está vivendo a mesma crise mundial, então, tragam novos olhares para os seus consumidores. Por que o seu negócio existe na vida das pessoas? Depois é o como e o que vender. O que nos move é inconsciente, é sentimento. Vocês podem gerar encantamento, um caminho só de vocês, percebendo este momento como uma oportunidade para mudar hábitos e atitudes”.

 Dias melhores virão

Nosso país já desafia o empreendedor em uma nova perspectiva. Está passando por um cenário sem precedentes com a pandemia que atravessamos. Com isso, além de conhecimento técnico, trabalho duro e organização, o controle emocional deve ser mais um exercício para quem tem seu negócio. Rossandro Klingley, escritor e psicólogo fechou o ciclo de palestras falando sobre a importância do equilíbrio emocional como chave para qualquer recomeço, pessoal e profissional. “Ele é fundamental em qualquer momento da vida, mas se torna ainda mais importante quando atravessamos momentos difíceis. Além disso, a experiência que vivemos hoje é inédita. O que passamos hoje está nos fazendo explorar habilidades para atravessar isso tudo”.

Rossandro Klingley: “O equilíbrio emocional é fundamental em qualquer momento, mas se torna ainda mais importante quando atravessamos momentos difíceis”

O palestrante e mestre em saúde coletiva alerta que é prudente não termos pressa em construir esse equilíbrio do dia para a noite. “A pandemia está fazendo uma espécie de tomografia computadorizada de nossas vidas, relações, empresas. A vida está sempre nos exigindo melhorar, nos aprimorar. E precisamos lembrar que, embora todos nós estejamos passando pela mesma experiência, não enfrentamos do mesmo modo. O equilíbrio emocional nos faz ver o cenário inteiro e fazer um diagnóstico. De tudo o que está acontecendo, o que depende de mim?”, desenvolve Klingley.

“Olhe para o cenário e veja: cabe a mim decidir ou não quando a pandemia vai acabar? Sabemos quando teremos uma vacina? Consigo avaliar agora o impacto da crise econômica? Listo temas que, na maior parte das vezes, não nos cabem decidir. Mas aí posso pensar em uma lista do depende de mim, começando por reconhecer minhas emoções. Quando negamos a realidade não conseguimos nos desenvolver com algum equilíbrio. Quando estamos com medo e dúvidas temos a tendência de pegar esses sentimentos e culpar os outros. É uma projeção, uma forma conveniente de não me responsabilizar sobre sentimentos e atitudes. E aí tudo pode ficar mais complicado”, alerta.

Rossandro destaca que é muito normal nestes tempos oscilar emocionalmente. “É preciso dar nome ao que nos desequilibra. Quais são seus medos no momento? Isso te ajuda a saber como agir. Parte do equilíbrio emocional vem do fato de tomarmos consciência do que está acontecendo de forma inconsciente em nossas vidas. Isso pode ser libertador”, orienta. “Pense nas suas escolhas, faça um diagnóstico e não se culpe porque isso gera mais desequilíbrio. Pense que as escolhas que fez foram as melhores que pôde fazer na época com o que tinha para fazê-las. Ajuda muito entender a fragilidade neste momento no qual todos estamos nos reinventando”, analisa.

“Como aproveitar essa experiência e aprender com a dor? Como podemos fazer diferente? Viva no aqui e agora, porque dias melhores virão”

Em tempos de apreensão e exaustão emocional, a forma como atravessamos tudo pode conter significados preciosos para o futuro. O especialista fechou o dia da edição digital do Salão Internacional do Couro e do Calçado mencionando que cooperação é uma das palavras-chave. “Como neste evento em que estamos juntos trocando ideias, com a possibilidade de construir pontes, relacionamentos. A experiência tem uma cota de dor inegável, mas que o aprendizado fique além da pandemia. Muita gente pode, talvez pela primeira vez na vida, estar se escutando, se conhecendo neste processo, se reconfigurando. Então, aceite desacelerar e tente buscar equilíbrio nas suas escolhas. É um exercício de emoções. Perceba o que vai contribuir ou não com sua vida. E se questione: O que podemos aprender com tudo isso? Como aproveitar essa experiência e aprender com a dor? Como podemos fazer diferente? Como sair melhor de tudo isso? Viva no aqui e agora, porque dias melhores virão”.