SENAI CETIQT: Núcleo de Sustentabilidade e Economia Circular (NuSEC) consolida relatório de ações


O NuSEC, fruto de parceria com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (ABIT), foi estruturado como catalisador de soluções para a promoção da sustentabilidade e economia circular como parte integrante das estratégias de negócios e operações da indústria da Moda. É um verdadeiro centro de referência para apoiar o setor têxtil e de confecção no Brasil. E colocará o país no mapa da modernidade em termos de práticas ecologicamente responsáveis, que lhe permitam abrir novos mercados. O Relatório, que celebra o primeiro ano de atuação do NuSEC, proporciona também uma visão histórica da Sustentabilidade e da Economia Circular, destacando as principais oportunidades para superação dos desafios atuais na esfera global. “Um ano de trabalho intenso na construção de uma estrutura sólida nos traz até aqui: um lugar seguro com o qual as empresas poderão contar para a materialização de conceitos da economia circular e implementação de práticas de sustentabilidade. Vamos inserir o setor no topo da vanguarda de boas práticas, bons exemplos e melhores relações entre os atores da área, que envolve, mundialmente, mais de 300 milhões de pessoas e tem receita de mais de dois trilhões de dólares. O Brasil está entre os cinco maiores produtores e é um dos sete líderes em consumo do planeta’, pontuou Fernando Pimentel, presidente da ABIT

Durante a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP 26, realizada em Glasgow, na Escócia, os holofotes também foram voltados ao Pavilhão do Brasil quando, no Dia da Indústria, durante painéis sobre as ações da indústria brasileira na agenda de mudanças climáticas, incluindo temas como energia limpa, mercado de carbono e economia circular, o diretor-executivo do SENAI CETIQT, Sergio Motta, falou sobre as iniciativas do Núcleo de Sustentabilidade e Economia Circular (NuSEC), criado em parceria com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (ABIT) e com o intuito de desenvolver soluções que promovam a sustentabilidade e a economia circular como parte integrante das estratégias de negócios e operações da indústria têxtil e de confecção. É um verdadeiro centro de referência que colocará o país no mapa da modernidade em termos de práticas ecologicamente responsáveis, que lhe permitam abrir novos mercados, especialmente os mais regulados.

Glasgow, Escócia – O diretor-executivo do SENAI CETIQT, Sergio Motta, durante sua apresentação no painel Economia Circular, com a moderação de Mônica Messenberg, diretora de Relações Institucionais da CNI

Glasgow, Escócia – O diretor-executivo do SENAI CETIQT, Sergio Motta, durante sua apresentação no painel Economia Circular, com a moderação de Mônica Messenberg, diretora de Relações Institucionais da CNI

Paralelamente, aqui, no Brasil, durante live realizada no Youtube do SENAI CETIQT, foi apresentado o primeiro Relatório do NuSEC com a participação do presidente da ABIT, Fernando Pimentel, da coordenadora da Plataforma de Inteligência Competitiva do SENAI CETIQT, Victoria Santos, e convidados do setor têxtil e de confecção, representantes de órgãos governamentais e do meio acadêmico. Quando foi criado há um ano, o diretor-executivo do SENAI CETIQT havia ressaltado a relevância do Núcleo de Sustentabilidade e Economia Circular para o trabalho do SENAI CETIQT em suporte à indústria têxtil e de confecção nacional: “O tema é extremamente importante. Como fruto do nosso planejamento, nós temos sustentabilidade e economia circular como uma visão real para o setor. Este assunto traz oportunidades fantásticas para empresas do setor têxtil e de confecção. Por exemplo: redução de custos, desenvolvimento de novos produtos, reaproveitamento de materiais no ciclo produtivo, abertura de novos mercados e fortalecimento de marcas. Os benefícios são incontáveis”.

O NuSEC também está voltado ao desenvolvimento e monitoramento de indicadores para apoiar os processos de tomada de decisão, tanto nos âmbitos públicos, como nos privados. Por meio dessas atuações, busca apoiar e promover ações em prol da competitividade e da sustentabilidade do setor identificando e alavancando a oportunidade de negócio.

De acordo com o presidente da Abit, Fernando Pimentel, durante o período pandêmico e, mais recentemente, com a realização da COP 26, em Glasgow, acelerou-se muito a agenda. “No entanto, só conseguiremos gerir e acompanhar o que estamos evoluindo a partir de métricas que nos permitam avaliar onde estamos e para onde precisamos ir nessa agenda, que tem um protagonismo extremamente grande na nossa indústria têxtil e de confecção”, observa Pimentel, acrescentando: “Vamos trabalhar muito para colocar o setor têxtil e de confecção no topo da vanguarda de boas práticas, bons exemplos e boas relações entre os atores que participam desse negócio, que envolve, mundialmente, mais de 300 milhões de pessoas e tem receita acima de dois trilhões de dólares. O Brasil está entre os cinco maiores produtores e entre os sete maiores mercados consumidores”.

Dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT) apontam que a indústria têxtil e de confecção contribui com 5,7% do PIB industrial do país empregando mais de 1,5 milhão de trabalhadores formais, considerando empregos diretos.

Victoria Santos salientou que o NuSEC é uma unidade transversal dentro do SENAI CETIQT. Ou seja, é composto por integrantes das unidades de negócios de Educação, do Instituto SENAI de Inovação em Biossintéticos e Fibras (ISI) e Instituto SENAI de Tecnologia Têxtil e de Confecção (IST). Sua missão é conceber, estruturar e executar projetos voltados à materialização da sustentabilidade e da economia circular no setor têxtil e de confecção, e visa, ainda, ser um centro de referência, atuando sobre valores como Inovação,  Colaboração, Agilidade, Transparência,  Transdisciplinaridade,  Melhoria Contínua e, obviamente, a busca por Oportunidade Negócio. “Entendemos que sustentabilidade e economia circular, mais que uma obrigação ou um passivo do negócio, seja uma oportunidade de diversificação de aumento de competitividade e de agregação de valor para a sociedade”, frisou.

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“No NuSEC, trabalhamos com oferta de serviços para o setor e outras entidades, com capacitações através de cursos de curta e longa duração; treinamentos customizados para empresas; consolidação de dados por meio de relatórios temáticos, desenvolvimento e monitoramento de indicadores, elaboração de estudos, de roadmappings tecnológicos para empresas, processos, tecnologias, produtos e regiões territoriais; e desenvolvimento de ferramentas customizadas para melhoria da operação das empresas. Também oferecemos serviços que incluem avaliações de ciclo de vida, de impacto ambiental, de viabilidade técnico-econômica, além de certificação ambiental de produtos”, explicou Victoria Santos.

Desde o seu lançamento, em agosto do ano passado, o NuSEC já promoveu os cursos “Sustentabilidade na Indústria Têxtil” e “A Economia Circular na Indústria Têxtil”; eventos, como o workshop “Diretrizes Estratégicas para o Setor”; lançou publicações mensais na plataforma digital Inova Moda; colaborou com o fórum “Bioeconomia: Caminhos para a Inovação na Indústria da Moda”, em parceria com a UFRJ; prestou serviços a parceiros; com a revisão do livro “Têxtil 2030”, em parceria com a ABIT; celebrou parcerias e contatos com outras ICTs. E o Relatório “Sustentabilidade e Economia Circular na Indústria Têxtil e de Confecção” oferece uma visão ampla sobre os temas que permeiam etapas da produção e realidade mundial.

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As pesquisadoras Raquel Gomes e Elisa Mano, correponsáveis pelo Relatório, contaram que o público-alvo inclui a indústria, o governo e formadores de opinião. “Nossa principal contribuição com esse material é trazer perspectivas de como os conceitos vêm se integrando ao setor ao longo do tempo, apresentando os principais marcos. Para tal, compilamos 35 documentos referenciais”, contou Raquel, acrescentando: “Procuramos trazer a perspectiva histórica da Sustentabilidade e da Economia Circular na Indústria, destacando as principais oportunidades para superação dos desafios atuais na esfera global”.

Elisa Mano chama a atenção para o Capítulo 2 do Relatório, composto pelos marcos temporais da Sustentabilidade e da Economia Circular não só na indústria têxtil, mas em panorama geral do mundo e de como nos enquadramos. “Começamos na década de 60, quando teve início a repercussão das ameaças ambientais. Nos anos 1970, ocorreu a primeira conferência realmente importante internacionalmente no âmbito das preocupações ambientais, a Conferência de Estocolmo. Na década de 80, iniciou-se a preocupação e a ênfase no cultivo de algodão orgânico e as chamadas roupas verdes”, pontuou.

Em 1987, foi lançado o “Relatório Brundtland: Nosso Futuro Comum”, importantíssimo e no qual foi apresentada a primeira definição de desenvolvimento sustentável, usada até hoje: “Um meio de atender às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades”. O conceito ajuda a entender que a sustentabilidade é composta por três pilares básicos: ambiental, social e econômico.

As pesquisadoras destacam ainda a Rio 92 como uma das conferências mais emblemáticas no desenvolvimento da Sustentabilidade e da Economia Circular. “Foi quando se iniciaram as práticas socioambientais nas empresas. Consequentemente, surgiu a série ISO 14.000, que inclui a gestão ambiental. Dentro dela, existe a ISO 14.040, voltada para a avaliação do ciclo de vida”, destacou Elisa Mano, acrescentando que “com a ISO 14.040, começaram os estudos que nos permitiram comparar produtos de diferentes qualidades e materiais. Com isso, pudemos cotejar os impactos de mercadorias diversas sobre o meio ambiente para tentar minimizar seus efeitos sobre o meio ambiente”.

Elisa Mano lembrou o conceito do Berço ao Berço (Cradle to Cradle), criado pelo arquiteto americano William McDonough e pelo químico alemão Michael Braungart, apresentado ao mundo no livro que escreveram juntos, “Cradle to Cradle: Remaking the Way We Make Things”, (“Do berço ao Berço: Refazendo a Maneira Como Fazemos as Coisas”, em tradução literal), lançado em 2002 e que veio a se tornar uma das obras mais influentes do pensamento ecológico mundial. Segundo a pesquisadora, “é uma logística em que o produto usado volta à vida útil em ciclos; ou seja, não termina em aterro sanitário. Sua vida é prolongada com uma possível reciclagem ou um upcycling. Acompanhamos todas as etapas, desde as fibras, passando pelos têxteis e pela confecção, contando com a possibilidade de reuso em outras cadeias produtivas. O resíduo gerado pela fabricação de vestuário pode tornar-se matéria-prima para a produção de mobiliário ou de isolamento térmico em veículos, por exemplo”.

E temos ainda a Cúpula das Nações Unidas de 2015, quando foi assinada a Agenda 2030, que traz os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável propostos pela ONU, pautados pelos mesmos pilares da sustentabilidade, e o Acordo de Paris, no qual os países definiram metas para tentar estipular a redução de emissões de gases de efeito estufa.

A história se intensifica nos anos 2010. Um ano depois da Cúpula das Nações Unidas, foi lançada a primeira Global Fashion Agenda; em 2017 e 2018 surgiram movimentos; em 2018 foi lançada a Carta da Indústria da Moda para Ação Climática, durante a COP 24, baseada no Acordo de Paris. Tratava justamente da questão de minimizar as emissões: a indústria da moda manifestou-se em relação à ISO e propôs metas para ela própria reduzir emissões. Em 2019, surgiu o primeiro caso de Covid-19, que diminuiu a receita da indústria têxtil, mas, desde o começo de 2021, ela vem se recuperando. Em 2020, os investimentos em ESG (abreviação de Environmental, Social and Governance, ou Ambiental, Social e de Governança, em que cada letra representa um critério usado para medir as práticas sustentáveis de uma empresa) aumentaram substancialmente. Em compensação, o Relatório do IPCC trouxe dados preocupantes em relação às emissões de gases de efeito estufa.

Além de informações históricas sobre a evolução do pensamento sustentável e da economia circular, as pesquisadoras comentaram sobre um capítulo voltado para as práticas e desafios da Indústria Têxtil e de Confecção em sua busca pela sustentabilidade. Raquel Gomes e Elisa Mano reuniram 35 documentos brasileiros e estrangeiros relevantes para o setor: “Eles trazem dados, quantificações e problemas que ainda precisam ser solucionados. Agrupamos os documentos em três abordagens: que desafios ainda temos a enfrentar? Onde queremos chegar baseados nesses desafios? Qual é o futuro desejável dessa indústria, por que queremos e como vamos alcançar esse patamar?”, observou Raquel.

Segundo ela, os principais desafios na esfera ambiental são o uso indevido da terra, o consumo indiscriminado de água, energia e emissão de GEE com a questão da depleção, as substâncias químicas e os resíduos sólidos. “Queremos a utilização do solo com aumento da produtividade, mas de maneira sustentável; disponibilidade de água limpa para todos; minimização das emissões de GEEs. Isso traz, também, as ações práticas que podem ser adotadas, como a implementação do sistema de rotação de culturas orgânicas e da agricultura regenerativa; a elaboração de um inventário de emissões; e o monitoramento para uma produção eficiente e ecofriendly”.

Na área social, é preciso melhorar as condições de trabalho; conscientizar o consumidor; e ficar atento às questões dos direitos humanos e da diversidade. “No futuro desejável, os profissionais mais qualificados podem ter condições de trabalho mais justas, dignas e seguras”, observou Raquel Gomes.

O engajamento dos consumidores em compras mais sustentáveis, a defesa dos direitos humanos, a criação de ambientes de trabalho mais diversos e igualitários – tudo isso é importante. Na esfera econômica, os principais desafios são a sazonalidade (que tem uma alta sensibilidade no mercado sustentável), os custos e a transparência (falta de engajamento das empresas, falta de comunicação efetiva entre alguns atores específicos).

“Nosso futuro perfeito seria um mix de uma economia mais justa e uma exposição reduzida à volatilidade dos preços e dos recursos, além de indústrias transparentes com pensamentos estratégicos e cooperativos. Para que isso se torne realidade, porém, precisamos implementar ações práticas como investir no desenvolvimento de tecnologias; utilizar padrões para transparência; e compreender a importância da rastreabilidade”, comentou Raquel Gomes.

Nas considerações finais do relatório ficou claro que o apoio na esfera governamental precisa ser forte e realmente acontecer. Em relação a problemática de disponibilidade de recursos e emissões de GEE, alguns relatórios sugerem a realocação de unidades industriais para locais onde as previsões de energia renovável apoiem oportunidades de redução de emissões. Outra questão está atrelada a uma alta sensibilidade no mercado sustentável, devido ao baixo preço e acesso à materiais virgens, e aos altos encargos no processamento de materiais usados, com modelo tributário sem isenção de imposto. É necessário haver investimento financeiro para o de desenvolvimento de tecnologia, PD&I, bem como subsídios para que, por exemplo, matérias-primas secundárias possam ser utilizadas de maneira menos onerosa do que os recursos virgens.

Encerrando o painel, a coordenadora da Plataforma de Inteligência Competitiva do SENAI CETIQT, Victoria Santos, resumiu o ”espírito” do Relatório: “Esse primeiro trabalho tem como objetivo construir um baseline. Estamos falando de uma indústria enorme e heterogênea, em que alguns atores estão avançados, mas outros nem tanto. Então, alinhados com a ABIT, decidimos fazer um documento que ajude a criar fundamento nos atores, nos elos. Vocês vão entender questões conceituais, terão um histórico de como a temática da sustentabilidade e da economia circular vem se inserindo ao longo do tempo no setor e descobrirão, também, quais são as principais ações que entidades do setor estão promovendo para desenvolver cada desafio dentro das dimensões ambiental, econômica e social, os pilares da sustentabilidade”.