SENAI CETIQT: A stylist Vanessa Teixeira compartilha dicas sobre a profissão e o backstage do universo da moda

A stylist Vanessa Teixeira respira arte. Aos 28 anos, ela colhe os frutos de sua proverbial vontade de aprender, que a leva a querer saber cada vez mais sobre o mundo, os meandros de sua profissão e as pessoas. Graduada pela Faculdade SENAI CETIQT em Design de Moda em 2018, ela tem hoje sua própria empresa, a Criadora de Looks, cujo foco é unir a habilidade de pensar uma imagem visual, a partir da pluralidade e inspirações que a moda proporciona, que seja alinhada ao âmago das pessoas, assim como o das propostas de campanhas publicitárias, de projetos audiovisuais, editoriais de moda… Ao longo da carreira, que inclui também atuação como produtora de moda e consultora de imagem e estilo, vem usando sua forte verve artística para compor esses looks a partir de roupas e acessórios com as mais diversas inspirações. Semana passada, Vanessa foi convidada pela Faculdade SENAI CETIQT para dar a palestra “Styling e Produção de Moda“. E contou para todos que acompanharam a live um pouco da sua história. “O desconhecido nos assusta — e isso faz parte. Espero que a minha trajetória sirva de motivação e inspiração para quem gosta de moda e quer trabalhar no meio. Sou apaixonada, o styling, a construção de imagens são essenciais para mim. Vá em frente sem medo, faça o que está ao seu alcance, porque não é impossível”, frisa.

Ela é otimista. De acordo com sua análise, o mercado está em plena ascensão. Atualmente, Vanessa recebe inúmeras mensagens de gente que adora a área e quer mergulhar no universo criativo do stylist. “Eu estou nesse contexto, amo muito. A moda está inserida na minha vida: minha avó costurava, fazia as minhas roupas, e eu brincava, quando era pequena, no site chamado Dolls, onde a gente montava os looks para bonecas. O styling sempre esteve presente, mesmo que de forma inconsciente”, revela a stylist, que teve o insight profissional assistindo a um reality na TV: “Foi aí que percebi que dava para trabalhar com styling. Mas, o que eu teria que fazer para vestir pessoas? Que faculdade teria que cursar? Pesquisei e encontrei o SENAI CETIQT, que foi extremamente importante para a minha formação pois, além do curso superior propriamente dito, fiz vários cursos extra. Tive uma base sólida para trabalhar com o meu sonho”.

Vanessa Teixeira, à esquerda, em ação (Foto: Acervo Pessoal)

O sonho tornou-se realidade e hoje a jovem tem um vasto portfólio, que inclui jobs com artistas e influencers, como Monique Alfradique, Pocah, Jojô Toddynho, Blogueirinha, Papatinho e Jade Seba, entre outros. Sua atuação profissional também inclui trabalhos para a comunicação pessoal de participantes de publicidades de empresas como Época Cosméticos, Beleza Natural, Fuel, Rommanel, Borelli e Colorama, além de looks para convidados de eventos como Prêmio Multishow, Baile da Vogue e Rock in Rio.

Ela começou a fazer seus primeiros portfólios, a partir das aulas da faculdade: “Tudo que produzia, eu tentava registrar e colocar nas redes sociais. Tudo mesmo o que eu conseguia fazer, principalmente na parte de styling e produção de moda. Meu coração sempre bateu mais forte por esse campo de atuação tão voltado para a comunicação; afinal, a imagem comunica. Meu TCC foi nessa área”.

Seu Trabalho de Conclusão de Curso, aliás, foi usado como exemplo para outros alunos. Vanessa deu palestras sobre ele, que foi um planejamento de marketing, um rebranding para a marca de uma amiga. Ela conta que mudou toda a identidade visual da grife, tanto a imagética (o logo, por exemplo) como a comunicação. “Apresentei o TCC e fui parar num programa do YouTube que o SENAI CETIQT tinha com o Bruno De Luca, o ‘Closet Certo'”, conta, divertida.

Jade Seba em campanha com styling de Vanessa (Foto: Acervo Pessoal)

No ano em que se formou, Vanessa leu o post de um fotógrafo que não conhecia (hoje são amigos) em busca de parceria com um stylist. E resolveu investir na parceria. Assim começou, de fato, a atuar como stylist. No início, ela pegava roupas de amigas, peças que adquiria em brechós do tipo raiz, que, com 50 reais, faz-se a festa: “Sempre garimpei em brechó, sempre gostei. Eu tinha coisas diferentes guardadas para a faculdade. Coloquei tudo em um editorial. Usei o que tinha em casa, trabalhei com o que os meus olhos naquele momento podiam alcançar. E fiz uma sequência de cinco editoriais com o fotógrafo”, revela.

Esse trabalho era, como diz a stylist, “minimalista”, com pouquíssima gente envolvida. Hoje, ela trabalha cercada por muitos profissionais: “O trabalho em equipe é superimportante. Normalmente, trabalhamos com um staff gigante, temos vários olhares sobre o tema. Isso é que torna o audiovisual interessante, porque a equipe é muito necessária: às vezes, por exemplo, o fotógrafo está vendo algo no figurino que você não está percebendo, mas que vai te ajudar no resultado final”.

Depois de um mês elaborando esses editoriais, esse portfólio, Vanessa entrou para uma agência de influenciadores para atuar como stylist. “Movimento gera movimento”, enfatiza. Ela dividia as tarefas na agência com jobs temporários para conseguir fazer a virada de chave profissional, pois estava no começo. “Cuidei de influenciadores importantes da agência. Eles tinham que fazer, normalmente, dois editoriais por mês ou até mais. Eu tratava do styling dos editoriais. Depois de um ano, decidi seguir carreira solo, virar empresária. Abri minha empresa de composição de looks e hoje sou uma prestadora de serviços. Atuo como stylist, produtora de moda e faço consultoria de imagem e estilo”.

Além de empresária, Vanessa é professora. Ela criou o curso Start no Styling, focado em pessoas que querem entrar no mercado de styling e produção de moda. Trata desde a criação do moodboard até a negociação com o cliente, ensinando, também, a fazer orçamento, formar parcerias.

Há pouco tempo, ela fez o styling dos integrantes do clipe da música “Oh Na Na”, de Ruxell feat. Rafman, Bianca, Supa Squad & Lukinhas. O diretor do clipe apresentou o mood, ela fez o dela em cima do que ele propôs e conseguiu atender às sensibilidades da banda e do diretor. Vanessa também mostrou o processo criativo da campanha para o Dia das Mães da Época Cosméticos, estrelada pela cantora Pocah e por sua filhinha, Vitória. “A gente elaborou o figurino de acordo com o que o cliente queria. Eu preparei o mood para aprovar tanto com a Época quanto com a artista. Tínhamos dois momentos, o “boss”, com os acessórios, e o “baile”, que retratava um baile funk glam. Fizemos dois looks: um tamanho míni para a Toya e um grande, para a Pocah”.

Aqui a palestrante faz uma ressalva: é preciso saber diferenciar o significado de termos como stylist, estilista, produtor de moda, consultor de imagem e estilo. Ela lembra que há ainda uma confusão para alguns entre stylist e estilista. “Eu penso os looks e, através da composição de roupas e acessórios, transmito a imagem que o meu cliente quer passar. Mas não sou uma estilista, aquela que está envolvida na criação e design de roupas e coleções”.

De acordo com Vanessa, também recebe perguntas sobre o stylist e o produtor de moda. “Estão muito unidos. O produtor é a pessoa que soluciona um conceito através das roupas. É ele que fica em contato com as marcas para saber se vão liberar empréstimo para o stylist vestir as pessoas. O produtor de moda lida com as peças, com toda a logística. O profissional está sempre muito atento às tendências do mercado, ao que tem nas lojas, às novidades”.

“Às vezes, precisamos de verba para comprar, fazer ou alugar roupas e acessórios, pois o empréstimo não acontece. Pode ser por que a produção não tenha muito a ver com a grife. Ou depende do artista, das pessoas que estarão na campanha: se não forem interessantes para a marca, a parceria não se realiza. Também depende da relação do profissional que está pedindo emprestado com a empresa”.

Vanessa comenta, ainda, que stylist e figurinista trabalham com a imagem, mas há diferenciações. “O figurinista está mais focado no personagem, que está mais incluído no contexto da cena do cinema, por exemplo. Eu já fiz alguns cursos e atuo também como figurinista, encarando diversos desafios. O stylist é mais focado no cliente final, normalmente uma marca, um artista, os artistas de um clipe etc. Ele pode atuar em campanhas de publicidade, pode trabalhar diretamente com artistas. Costumo usar a Luisa Sonza como exemplo, pois ela sempre alinha sua imagem aos lançamentos que faz. Tem um profissional de styling por trás. Esse profissional pode trabalhar, também, em videoclipes, em campanhas de moda. Eu já fiz styling para campanha de comida. Sempre precisa de uma imagem, sempre tem modelos a serem vestidos e eles precisam comunicar da forma certa ao público”.

E, finalmente, a stylist fala do desafio de diferenciar sua profissão da exercida pelo consultor de imagem e estilo, área em que ela também é bastante próxima: “A consultoria está ligada ao indivíduo. Consultores de imagem e estilo trabalham com a pessoa física — uma empresária que deseja estar com os looks alinhados, pois precisa passar uma imagem empoderada, por exemplo. É preciso entender o contexto do indivíduo: sua rotina, o que faz, do que gosta, as roupas em que se sente confortável, se tem uma cor da qual não gosta ou se tem uma cor preferida. Tem a questão da análise de coloração pessoal também, que o consultor de imagem e estilo faz para saber que cores mais favorecem o cliente. Tive uma professora que dizia que o consultor de imagem e estilo é o psicólogo da roupa. É basicamente isso”.

CARACTERÍSTICAS DE UM BOM PROFISSIONAL

Vanessa Teixeira faz questão de ressaltar algumas qualidades que os profissionais da área de styling precisam ter se quiserem obter sucesso na profissão:

. Ser criativo

É muito necessário. “Você precisa ficar atento aos estímulos que a vida te dá, porque a nossa criatividade está sempre sendo estimulada, seja por um poema, seja por uma textura que vemos ou em uma foto nas redes sociais. Ser criativo é fundamental para se destacar no mercado, para sair do óbvio. Consumir diferentes fontes de criatividade é importante”.

. Ser comunicativo

Você precisa se conectar com pessoas. “Há momentos em que, nos cinco dias da semana, eu lido com cinco equipes diferentes. Isso é um desafio para qualquer um, mas estar nessa área nos ajuda a vencer esse tipo de questão”.

. Fazer networking

“Tem que se conectar com as pessoas trocar, dialogar, conversar. Fazer trocas de equipe é superimportante. Comunicar-se, nesse meio, é fundamental.”

. Ser organizado e cuidadoso

“Lidamos com peças de várias marcas. Sujou um figurino, comunica à marca; rasgou, comunica. Já aconteceu diversas vezes de não ter orçamento para pagar e eu tirar do meu próprio bolso, porque o relacionamento com a marca era muito mais importante. Tem que ter essa organização e esse cuidado. Cuidado para lidar com peças que não são suas e organização, porque você tem que ter noção de quantas peças está levando para o set para saber quantas serão devolvidas”.

. Gostar de pesquisa e de novidade

O universo da moda muda rapidamente, é necessário estar atento às tendências. “Tem várias trends, subtendências, e a gente precisa consumir e respirar essas novidades. Até porque o nosso styling reflete muito também a novidade do que tem nas lojas e o que está acontecendo no nosso meio. O artista vai querer fazer um clipe com uma tendência, porque moda é reflexo social. Se está rolando na sociedade, acabamos botando num clipe, numa publicidade. Tudo está em conjunto e conexo”.

FIQUE DE OLHO

A palestrante faz questão, também, de falar sobre as três etapas fundamentais do styling: pesquisa, moodboard e planejamento

. Pesquisa

“Essa parte é essencial, porque é preciso entender o que o cliente quer e buscar referências. Normalmente, ele vem com alguma inspiração e ideia do que deseja, mas precisamos nos aprofundar na pesquisa para entender, de fato, no que a pessoa que está nos contratando está pensando. Essas pesquisas eu faço, normalmente, no Pinterest, no Instagram, mas, como já falei, estamos sempre recebendo estímulos externos”.

. Moodboard

Trata-se de um painel de referências onde colocamos tudo que nos inspira, seja uma textura, uma foto, um poema — tudo que pode nos ajudar a entregar o resultado final do styling. “Ele nos ajuda a mergulhar no cenário e no conceito. Normalmente, tem referência de luz, beleza e styling. Fiz um clipe em que o diretor me enviou o moodboard dele. A partir disso, fiz o meu mood de figurino. Misturei o conceito que o diretor queria do clipe com o estilo dos artistas. Temos que respeitar o artista, ele tem uma imagem, tem um gosto pessoal. Tem que ter jogo de cintura para respeitar os dois lados.”

. Planejamento

É o planejamento que define quantidade de looks que serão usados por cada modelo. “Há campanhas em que é preciso entregar 20 looks para dez modelos. Como organizar a distribuição de cores? Como fazer para que esses looks fiquem harmônicos no resultado final? O planejamento também permite saber o número exato de modelos e seus tamanhos, que são diferenciados. E também é necessário, porque normalmente temos um prazo para entregar o figurino”.

“Tive um cliente que queria os figurinos em roxo e amarelo, porque essas eram as cores da logo de sua empresa. Mas não dava para botar todo mundo de roxo e amarelo; eu, como stylist, não consegui visualizar aquilo de forma harmônica no resultado final. Então decidimos que os modelos principais usariam roxo e amarelo, enquanto os outros usariam tom de nude. O planejamento também funciona para harmonizarmos melhor o resultado final.”

DICAS PARA QUEM QUER ENTRAR NA ÁREA

. Siga quem é do meio

Você precisa acompanhar quem está no meio e o mercado no qual quer entrar, seja como diretor, maquiador, stylist, modelo etc. “Precisa entender o que se passa naquele mercado. Se quer fazer parte, deve estar atento a tudo o que está acontecendo. Então, siga pessoas do meio”.

. Faça networking

Mande mensagem para as pessoas de quem você gosta, que você admira. Isso já entra na terceira dica, ofereça assistência. “Fale que você curte o trabalho da pessoa e ofereça assistência. Teve uma stylist com quem trabalhei na época em que comecei. Mandei mensagem em 2018, mas só fui trabalhar com ela em 2020. Tem uma hora em que a semente brota.”

. Comece com as ferramentas que tem

“Comece com as ferramentas que você tem, não espere estar perfeito. Não existe e nunca vai existir perfeito. A gente só melhora mesmo com o tempo.”

. Utilize as redes sociais

“As redes são uma ferramenta poderosíssima. E a gente consegue atingir muitas pessoas”.