SENAI CETIQT: a Fashion Revolution e webinar sobre o conceito zero waste na modelagem agora e no futuro


A busca por novas ideias, soluções efetivas, tendências tecnológicas e sustentáveis foram apresentadas pela professora de Design de Moda Marilene Rocha, a partir do tema “Zero waste: desperdício zero na modelagem”. “A ideia é chegar a um método de modelagem que visa ao aproveitamento máximo de tecido, a partir do conceito zero waste. Princípio que busca eliminar o descarte de tecido no desenvolvimento do produto e contribuir para um mundo onde a sustentabilidade é a tônica”, pontua

Sustentabilidade é a palava de ordem em um mundo no qual os recursos naturais tendem a ser cada vez mais escassos e a produção de lixo é crescente. Conforme uma parte da população do planeta foi tomando consciência da necessidade de controlar o que se descarta, surgiu o movimento Zero Waste, que ganha mais e mais adeptos todos os dias no Brasil e no mundo e cujo objetivo é reduzir a zero a quantidade de lixo produzido em todos os ambientes. Para falar sobre o tema e mostrar como a indústria da moda pode trilhar um caminho mais sustentável, transparente e responsável, o SENAI CETIQT promoveu a webinar “Zero waste: desperdício zero na modelagem”, conduzida pela professora de Design de Moda Marilene Rocha. “Temos um grupo de estudo de iniciação científica. A ideia é chegar a um método de modelagem que visa ao aproveitamento máximo de tecido, a partir do conceito zero waste. Princípio que busca eliminar o descarte de tecido no desenvolvimento do produto e contribuir para um mundo onde a sustentabilidade é a tônica”, explica Marilene.

A iniciativa marcou a sinergia do SENAI CETIQT com a  Semana Fashion Revolution 2020, que este ano foi realizada no Brasil e no mundo em forma de lives por conta da pandemia do Covid-19, que também está nos mostrando mudanças nas formas de consumir e produzir. O movimento global teve início em memória das vítimas do desabamento do edifício Rana Plaza, em Bangladesh. Em 24 de abril de 2013, morreram 1.134 pessoas, sendo a maioria trabalhadores de confecções que forneciam para grandes marcas do varejo mundial. A partir de então, a hashtag #QuemFezMinhasRoupas é usada tanto com a intenção de trazer visibilidade aos trabalhadores da cadeia produtiva da moda como a consciência do consumidor ao comprar um produto e saber com total transparência como foi produzido.

Zero Waste: evitar o desperdício na indústria da moda é a ação mundial já em curso (Imagem de whirligigtop por Pixabay)

Marilene Rocha lembra que muitas indústrias e confecções precisam saber lidar com a sobra de uma grande quantidade de tecido, conforme as peças são fabricadas. Nos dias de hoje, o descarte consciente de resíduos têxteis é uma preocupação: na maioria das vezes, as sobras são encaminhadas para empresas de reciclagem ou doadas a ONGs, que transformam o material em peças de artesanato. Além da questão ecológica, existe o aspecto legal: o descarte incorreto desses materiais é considerado crime ambiental pela Lei nº 12.305/2010. Incinerar os restos, por exemplo, não é permitido, por conta da poluição causada por tinturas e outros químicos.

De acordo com a professora do SENAI CETIQT, a intenção do zero waste, ou resíduo zero, é eliminar o descarte de tecido já no desenvolvimento do produto, seguindo princípios éticos. “Normalmente, a gente cria um resíduo para depois levar em conta o descarte. Se a confecção usar o método zero waste, essa preocupação já vai ser pensada no projeto, no design da peça. É uma economia muito grande de tempo e de material”, afirma ela. “Esse conceito não se restringe ao ambiente das confecções, pois estimula as pessoas a mudarem o estilo de vida e adotarem práticas sustentáveis, nas quais todos os materiais descartados são projetados de forma a se transformarem em recursos reaproveitáveis”, acrescenta Marilene.

Para Marilene Rocha, desde a criação do designer pode-se pensar a questão do zero waste na cadeia da moda (Imagem de Photo Mix por Pixabay)

No caso da modelagem, a proposta é desenvolver um projeto inovador, sem trazer prejuízo para o impulso criativo dos designers de moda. Uma solução é recorrer às formas geométricas. “Quando você tem moldes em quadrados e retângulos, consegue fazer um encaixe muito bacana, em que sobra pouquíssimo tecido. Vai ter resíduo zero no encaixe desse tecido, por causa das formas”, garante Marilene. “Trabalhando da forma tradicional, não há como ser zero waste, porque sempre vai ter algum descarte. Todas as confecções passam por esse problema”, completa.

Ao criar uma peça seguindo a proposta zero waste é preciso estar atento a detalhes normalmente ignorados, como a largura do tecido escolhido. “O resíduo zero já começa com uma conscientização de todos os envolvidos na produção de uma roupa. Desde a criação do designer, passando pela modelagem até a confecção”, pontua Marilene. “Conforme você vai desenvolvendo a peça, olha o caimento de um tecido e pensa: vou deixar assim porque gostei. A preocupação não é ficar aquela modelagem toda certinha, mas sim aproveitar ao máximo o tecido, sem deixar sobras”, comenta.

O método zero waste quebra paradigmas da modelagem tradicional (Imagem de StockSnap por Pixabay)

Mas será que a moda zero waste agrada a todos os tipos de público? A professora do SENAI CETIQT acredita que é uma questão de conscientização. “É um estilo de vida já adotado e que, a partir do que o mundo está passando, será mais ainda”, aposta.

Tanto estudantes quanto profissionais de moda também precisam pensar a modelagem zero waste. “É um processo criativo inverso: pega-se o tecido e vai pensando, depois que terminar a criação segura o lápis e desenha a peça. O molde está todo aproveitado. Mas, para isso, é preciso fazer uma conta, pensando na largura do tecido e em quanto irá usar. Vai fazendo o molde e adequando. A gente fica olhando a modelagem e a peça pronta, pensando: como encaixar tudo isso? Não é simples”, pondera Marilene.

A costura tradicional sempre terá algum descarte ao longo do processo (Imagem de Jill Wellington por Pixabay)

A professora do SENAI CETIQT frisa que, para aplicar o zero waste, é fundamental estudar o conceito e ter um método de trabalho. “Muitas vezes, você olha as modelagens zero waste e não tem noção do que são, de como vai vestir, onde é a frente, onde são as costas, onde é cava. Porque tudo é muito diferente mesmo. É uma questão de aproveitamento total do tecido, uma quebra de paradigmas e visão nova da modelagem”, observa. “Quanto mais a gente desenvolve, melhor consegue aplicar essas técnicas. A modelagem resíduo zero é toda escrita, identificando todo o corpo”, esclarece Marilene.

Marilene reconhece que o conceito zero waste na modelagem é uma questão de adaptação e aplicação. Mais uma vez, é hora de romper com antigos paradigmas e se adaptar. “Como as peças são bem amplas, fica difícil fazer a gradação. É necessário muita pesquisa envolvida. Então, possivelmente, uma solução para a indústria é que a mesma peça vista em três tamanhos. Talvez não seja necessário fazer uma grade de tamanhos convencional. É uma outra forma de trabalho. As peças podem ser consideradas como versáteis ou multifuncionais. Uma saia godê pode ser usada como um vestido sem alça, por exemplo”, diz ela.

O conceito do resíduo zero na modelagem também pode ser aplicado nas estampas. Dessa forma, garante-se a economia de tinta e de material, uma vez que tudo é pensado junto com o design da peça e a modelagem. Mas, mesmo com todas as vantagens do zero waste para o meio ambiente, o engajamento e  gosto dos consumidores ainda pesam na equação. “A gente produz um design, mas ele só tem importância se agrada a alguém e as pessoas compram, estão dispostas a pagar por isso. Fica a dica. Não vou fazer só porque eu quero ou achei lindo, preciso entender a viabilidade do produto”, conclui.