O start à série de lives que vamos conferir esta semana durante a realização da 26ª edição do Minas Trend em formato phygital – o maior Salão de Negócios da América Latina será presencial – foi dado com a Palestra de Inspirações 2023_I do Projeto Conexões do Inspiramais – Único Salão de Design e Inovação de Materiais da América Latina, evento promovido pela Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal) e parceiros, que reúne empresários, profissionais da moda e players das indústrias de Norte a Sul do país e do exterior apresentando materiais inovadores para roupas, calçados, bijuterias, design de móveis e outros segmentos ligados à moda e até ao setor automobilístico e universo dos pets. Com rodadas de negócio, divulgação de projetos e palestras, o evento voltará a ser presencial e realizado nos dias 25 e 26 de janeiro de 2022, na Fiergs, em Porto Alegre (RS). E o tema, a palavra-chave que permeará a nova edição do Inspiramais 2023_I, é “Corpo”, que expressa nossa fragilidade, mas também força para continuarmos a projetar esperança e vida.
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A Palestra de Inspirações é realizada pela equipe de consultores do Núcleo de Pesquisa e Design do Inspiramais, que apresenta por todo o Brasil – com ênfase nos polos produtores e de varejo que se destacam nos segmentos calçadista, confecções, couro, têxtil, artefatos e materiais – os resultados dos estudos feitos sob a coordenação do designer Walter Rodrigues propondo soluções em solados, acessórios, tecidos, laminados e couros, entre outros produtos que serão desenvolvidos e vistos com exclusividade nos dias do evento. Como acompanho as edições do Inspiramais há anos, destaco que ele se tornou uma referência na indústria de moda nacional, pois unifica hoje a metodologia de trabalho de pesquisa, facilitando o mercado a atuar com referências, cartela de cores e temas para gerar uma unidade de linguagem e criar produtos mais assertivos para as negociações com os compradores.
A live sobre o resultado das pesquisas para 2023_I contou com a palestra de Marnei Carminatti, designer, consultor em design de produtos, integrante do Núcleo de Pesquisa e Design do Inspiramais e coordenador do projeto Preview do Couro. Os consultores do Núcleo de Pesquisa e Design do Inspiramais utilizam a Metodologia da Pirâmide para pesquisa de inspirações e referências e que têm como finalidade promover o desenvolvimento de materiais inovadores com a capacidade de transmitir valores essenciais ao consumidor (afinal, os produtos são criados para ele e são as necessidades e os desejos dele que a indústria da moda precisa suprir).
Marnei apresenta um vídeo no qual o coordenador do Núcleo de Pesquisa e Design da Assintecal, Walter Rodrigues explica que a pirâmide é dividida em três partes, que mostram as inspirações para atender às necessidades e desejos do consumidor. Ela representa a totalidade do mercado de moda (100%) e é aplicada na criação de novos produtos, busca de novos mercados, materiais e ações de marketing. “Os 10% são o início do processo, a busca por inovação baseada no DNA e nas capacidades tecnológicas e produtivas de cada empresa. Os 30% são a adequação e o desenvolvimento produtivo das inovações visando os grandes volumes e a rapidez da entrega. Os 60% são as confirmações do mercado e, aqui, tudo é rápido, sem margem para erros, e é onde ocorre a massificação das inovações iniciadas nos 10%”.
“Durante os últimos semestres pandêmicos, entendemos que o corpo precisava de proteção. E, agora, ele é potência estética e performance e, com a materialização de novos comportamentos, ele vai inspirar coleções, marcas, produtos e modelagens”, pontua Marnei Carminatti sobre o tema do Inspiramais 2023_I. A pesquisa do Núcleo de Design da Assintecal partiu da premissa do Corpo como arquivo do tempo, registro da história humana, diretamente relacionado com os aspectos sociais, culturais, econômicos e comportamentais. Hoje temos que pensar o corpo com autonomia, rompendo padrões. Afinal, o “O Corpo fala”.
Portanto, os 10% da Metodologia da Pirâmide, estágio que, baseado em na pesquisa realizada para determinar objetivos e sistematizar a inovação e a experimentação, vão fomentar o vanguardismo e, assim, o desejo de gente muito bem informada sobre moda. O tema central é “Corpo”, como já comentamos. “Aqui a gente começa esse processo observando o trabalho da professora Kazuo Yamada. Nas aulas de modelagem, ela ressignifica o corpo e estuda com os alunos a musculatura, a ergonomia. É muito importante quando pensamos em recortar de alguma forma para uma roupa”.
Outro exemplo fundamental da correlação do corpo com a moda ressaltado por Marnei é o trabalho do designer Daniel Roseberry para a marca Schiaparelli. “A construção de imagem, recorte sobre o corpo, criou diferentes nuances na coleção assinada por ele, mas, principalmente, uma análise estética sobre volumes que esses corpos podem proporcionar e uma correlação com a moda”.
Quando se pensa em corpo, o Netherlads Dans Theater representa, através da dança, a energia e potência em um universo maravilhoso. Marnei lembra também o último desfile da Kenzo, com coreografia de corpos em sinergia com a roupa com muito tecido imprimindo a ideia de proteção.
E vamos falar de diversidade, dos múltiplos corpos. Ele mostrou uma foto da campanha da AZ Factory com o mesmo vestido para corpos diferentes. “A diversidade dos corpos é protagonista. Nós construímos essas pesquisas baseados no que vêm acontecendo ao longo das temporadas. Não é só uma pesquisa de verão ou inverno, mas como comportalmente importa”.
A pesquisa também lançou luz sobre a reprodução da ideia do agênero, como na coleção de Raf Simons, em que as peças são construídas e pensadas para múltiplos corpos e para quem se sente bem independentemente de gênero.
Aaron Phillip, a modelo trans com deficiência e que desfilou para labels como Gucci, e a estilista gaúcha Victoria Cuervo também falam de corpos especiais de pessoas com algum tipo de deficiência. “Aqui trabalhamos com um olhar muito mais suave e detalhado. Trabalhamos com tamanhos nobres” é a filosofia de Vitória Cuervo. “Isso é maravilhoso. Se pensarmos no potencial que o Brasil tem, nas pessoas que precisam de peças pensadas para elas, isso é importante. Muitas vezes, a gente vê uma moda meramente comercial. Esse recorte representa boa parte da população brasileira também”, frisa Marnei Carminatti.
Sobre a questão da fluidez de gêneros que a sociedade vem mostrando cada vez mais, o Núcleo de Design do Inspiramais focou no exemplo do maquiador Gottmik, primeiro homem trans a participar do RuPaul’s Drag Race e como ele se expressa. “E eu fico super feliz quando vejo Liniker e Linn da Quebrada estampando capas de revistas. Ou o ator Tarso Brant, homem trans com a representatividade que ele tem no universo de diversidade. É muito importante que os veículos deem voz para essas pessoas e ainda possamos ver como elas têm grande influência na moda”, comenta o consultor do Núcleo de Design do Inspiramais.
“A sustentabilidade integrada aos múltiplos corpos aparece muito no trabalho da artista Rita Ikonen com a fotógrafa Karoline Hjorth, principalmente quando elas colocam as pessoas dentro do universo orgânico, criando uma analogia de que todos somos um. É impressionante, pois a história da natureza não é separada da história humana. Caminham juntas e isso representa um impacto no desenvolvimento de matéria-prima, principalmente”.
Nesse momento de retomada, com os efeitos das vacinas, e dentro desse universo do corpo, destaque para o corset, uma peça que, no passado, acabava reprimindo e criando uma estrutura de desconforto. Hoje, passa a ser protagonista nas peças de confecção, enfatizando uma nova postura de poder. “A gente já vem vendo esse trabalho com Alaïa há pelo menos duas temporadas marcando a cintura”.
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INSPIRAÇÕES PARA MATERIAIS E FORMAS
O corset desenhou diferentes estilos e marcou, desde recortes ou costuras nos sapatos, a acessórios com materiais extremamente novos. Podemos ver até em roupas de banho essa marcação da cintura como uma inspiração extrema pelas marcas. Destaque para a textura de materiais, como o encerado. “Aqui estamos tratando de couros sintéticos ou, até mesmo, de tecidos que tenham o brilho onipresente na sua estrutura. Os couros são muito estruturados para possibilitar essa marcação, como na mochila que desenha o abdômen”, observou Marnei.
Segundo ele, igualmente importante nesses 10% são as matérias com peso e com caimento. “É muito interessante como conseguimos fazer uma leitura de estruturas que parecem muito volumosas, mas que, ao mesmo tempo, têm caimento. Acima de tudo, vemos aqui materiais que lembram texturas naturais muito presentes na ideia de detalhamento, no calçado principalmente. Por outro lado, esse pesado também pode ser visto nos detalhes de joias como algo mais forte, mais punk, mais urbano. É interessante misturar essas duas referências”.
Vale ressaltar também a presença do acolchoado. “Aqui a ideia é ter dublagens ou volumes a partir de materiais que possibilitem esse acolchoado, essa estrutura quase inflada, na verdade. As costuras para esses produtos são muito importantes. Na realidade, é a costura ou o enchimento desses volumes que dão a sensação de acolchoado”.
Os consultores também analisaram o carimbo nessa pesquisa dos 10%. “E o carimbo, principalmente como técnica para estruturar a estamparia, vemos no trabalho da Maison Margiela, mas também na Fendi e outras marcas. É muito importante que a estética dessas estamparias possa ter o detalhe do carimbo, quase uma mancha. Podemos pensar em florais, geométricos etc, mas a ideia de ter esse borrão na marcação”.
No calçado, nos acessórios e ainda incluindo a confecção também vemos o reflexo do emborrachado, estruturas opacas, ou que tenham acabamento com um toque emborrachado, como a Louis Vuitton apresentou. Assim como o vítreo, camada com extra-brilho que pode ser decodificada como verniz ou PVC. “Mas, do meu ponto de vista, principalmente, com a sensação de que algo foi empacotado para essa máscara. É importante entender o brilho e a essência desses materiais”.
Na pós-pandemia, os produtos com mais relevância visual têm feito muito sucesso. Utilize o dourado em diferentes acabamentos que ele, certamente, vai funcionar.
“O pelo é outra inspiração importante. Pensem estruturas que lembrem esse pelo, com volumes e texturas. Que sejam muito confortáveis, mas que desestruturem a ideia do flat em volumes”, revela Marnei.
E vamos finalizando a inspiração no destroyer que, além do visual, tem toda uma estética a partir do upcycle. São pequenos fragmentos das coleções reunidos e recolocados numa vida útil dentro do mercado. “Se pensarmos em zero waste, é perfeito”, frisa Marnei.
A anatomia é um dos pontos mais importantes para essa ideia do corpo como guarda-chuva da inovação nos 10% da Metodologia da Pirâmide. “Elementos da anatomia humana sendo explorados em diferentes objetos decorativos, desde produtos para calçar, mas, principalmente, em joias. E vamos tendo mais ousadia num trabalho que representa músculo ou quando temos estruturas de veias ou mesmo estruturas de nervos sendo colocadas nos sapatos”.
Nossa cartela nos 10% o Syrah, um tom de marrom-avermelhado maravilhoso; o Cyan Blue, que começa abrindo a cartela; e o dourado, pontualmente. E temos as nuances de cores, que podem ser trabalhadas como intermediárias ou composição. Aqui a criatividade vai de cada estilista, de cada equipe e de produto. Mas, principalmente no 10%, as cores têm ficado maravilhosas nas empresas que a gente vem desenvolvendo produtos para o próximo Inspiramais.
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