Casa de Criadores: De Woolmay Mayden com jeans reciclado a Leandro Castro e suas criações com resíduos automotivos


No #day3 de desfiles da Casa de Criadores, a ênfase às práticas sustentáveis e sociais permeou as coleções de Volat, X-Brand – do Projeto Periferia Inventando Moda -, Vou Assim, Woolmay Mayden, Leandro Castro, Mônica Anjos e NotEqual. Vem conferir propostas tão significativas

O terceiro dia de desfiles da Casa de Criadores contou com Volat, X-Brand – do Projeto Periferia Inventando Moda -, Vou Assim, Woolmay Mayden, Leandro Castro, Mônica Anjos e NotEqual.

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Volat

A label apresentou a coleção batizada “Antes do Brasil”, uma reflexão a respeito de que “antes do verde e do amarelo, existiam o vermelho do urucum, o amarelo extraído do açafrão, o branco da tabatinga e o azul do jenipapo. Pindorama, Terra das Palmeiras, era tudo o que os povos originários conheciam do mundo, ao qual habitavam há mais de dez mil anos, e que posteriormente viria a ser conhecido como Brasil. Mas a Terra das Palmeiras tinha uma outra visão da ordem e do progresso, no qual o único caminho pro futuro se conectava com a natureza. O território repleto pelo verde que transmitia o progresso verdadeiro da abundância natural, havia como ordem a reverência e o respeito por tudo aquilo que a mãe natureza nos dava”. Volat integra o projeto Periferia Pensando Moda.

Volat (Foto: Marcelo Soubhia/Fotosite)

Volat (Foto: Marcelo Soubhia/Fotosite)

O paralelo com os dias de hoje é que “em um mundo ao qual os moldes futuristas se conectam com a tecnologia, o futuro distópico impulsiona a sociedade para um futuro de ambição, e questionamos até onde somos capazes de chegar sem nos conectarmos com a natureza e com nosso passado. Aquele caminho futurista imaginado pelos Tupis é tão utópico assim? Através da coleção “Antes do Brasil”, a Volat busca resgatar um Brasil existente que persiste mesmo após a invasão, uma terra conectada com a natureza e que tem como fonte a comunhão e o respeito mútuo entre os povos. Reimaginamos um futuro que só é possível tendo como base o amor pelo brasil que existiu antes do Brasil.”

Os tecidos selecionados para está coleção são provenientes de fibras naturais grande parte produzida em território nacional, como algodão onde 90% da nossa produção não depende de irrigação apenas da água da chuva; o cânhamo como um caminho na inovação com seu cultivo capaz de limpar o solo retirando resíduos poluentes e até radiativos, o linho onde seu cultivo não prejudica o solo e absorve calor. Sendo 100% dos tecidos com cor natural ou seja não passam pelo tingimento químico propondo uma produção mais sustentável e responsável com o meio ambiente. As peças elegantes vêm como proposta para o verão atreladas a recortes futuristas e utilitarismo presente como caminho de futuro para a versatilidade da indumentária.

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A equipe da Volat sempre levanta questionamentos importantes sobre as relações e organizações sociais. Mais uma vez a marca soma trabalho com o laboratório cultural indigena MAROKA URB lançando junto com a marca KDASIDEIAS dois designs exclusivos das marcas na coleção “Antes do Brasil”. Conta também com o apoio do MAROKA URB somando com a diretora criativa da Volat, Letícia Cortes na seleção do casting do desfile que conta com 100% dos modelos racializados, sendo pessoas indígenas e pretas em sua maioria periféricas trazendo representatividade e protagonismo no mercado da moda. A coleção foi desenvolvida pela diretora criativa, designer e co-criadora Letícia Cortes em colaboração com a designer Scarleth Moraes e apoio do co-criador da marca Cássio Nunes. A confecção das peças contou com o trabalho realizado pelos estudantes do curso Técnico de Modelagem do Vestuário em parceria com a instituição de ensino Senac Taboão da Serra dando a oportunidade de estudantes vivenciarem e exporem seus trabalhos em um dos maiores eventos de moda do país.

X-Brand

“A união faz a força, a força traz a vontade, a vontade traz a esperança, a esperança traz a paz, a paz traz a sabedoria, a sabedoria traz o amor, e o amor liberta à consciência”. A frase permeia a coleção assinada por Alex Santos e, segundo ele, “vem mostrar o momento de oração e união entre a humanidade”. A X-Brand integra o projeto Periferia Inventando Moda.

X- Brand (Foto: Marcelo Soubhia/Fotosite)

“Descobri que a partir do momento que somos duas pessoas, já podemos considerar uma comunidade”. Através dessa união, Alex Santos, de Paraisópolis e Tobias Alexandre, de Santa Isabel, resolveram unir forças em uma coleção que prima pelo upcycling. “Nesta coleção trazemos uma linguagem de alfaiataria com beachwear e incluímos nosso DNA que é uma moda sustentável e 100% brasileira”.

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Alex Santos acredita na união de conceitos da alta moda com a estética urbana característica da periferia de São Paulo. Oriundo da comunidade de Paraisópolis, Alex acredita numa moda que venha das ruas. As peças de Alex Santos são bandeiras de seu estilo: sensualidade, personalidade e o transitar sofisticado e inovador entre gêneros e estilos. O resultado são roupas desenvolvidas para quem tem e quer expressar atitude e personalidade, roupas para quem gosta e quer ser gostado. Trazendo e reafirmando o slow fashion com sua pegada UPCYCLING em reaproveitamento de matéria-prima.

Vou Assim + Casa F.U.R.I.A

Plataforma que realiza ações propositivas de empregabilidade, representatividade e demandas socioculturais LGBTQI+, a Vou Assim já conseguiu profissionalizar mais de 200 pessoas. Surgiu em 2016 como um brechó de roupas usadas e garimpadas pela Zona Norte de São Paulo pela fundadora do coletivo Pimentel, que começou a realizar editoriais de moda, visando promover a venda das peças e questionar questões de gênero e sexualidade atribuídas a vestimentas.

Vou Assim + Casa Furia (Foto: Marcelo Soubhia)

Vou Assim + Casa Furia (Foto: Marcelo Soubhia)

“Nosso embasamento teórico vem do que se popularizou como upcycling ou reciclagem, que definimos como uma das propostas de semiótica para produção de novas imagens de moda. Nós utilizamos da pedagogia do lixo como base para a construção das peças, ressignificando os descartes gerados pela indústria da moda”.

Vou Assim e A Casa F.U.R.I.A, de acolhimento para comunidade LGBTQIA+ egressa do sistema prisional, se uniram nesta edição da CDC para construir a coleção “Apesar de…” “Um processo comunitário de criação junto a 10 mulheres sobreviventes do sistema prisional que se despem das amarras e preconceitos com as quais o cárcere institucional lhes embrulhou, para poder vestir e dar novo brilhos aos fatos”.

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“Como detentoras e protagonistas de suas próprias histórias, essas mulheres transportam para a coleção o poder de ornar as pérolas da verdade, dando a elas um brilho anticolonial que permite que, como sociedade, possamos olhar para muito além daquilo que nos foi dito”. Cada ‘look-manifesto’ traz consigo respostas, coletadas de tecnologias (tr)an(s)cestrais de cuidado e potência de vida”, diz Pimentel.

Woolmay Mayden

O criador da label, o haitiano Jean Woolmay Denson PIERRE, batizou a coleção “ Incarner & Réincarner”. “Dois verbos que, em português, são encarnar e reencarnar. A Woolmay Mayden é uma marca que sempre está buscando uma forma de andar junto com a sustentabilidade, por isso que nesta coleção utilizamos somente tecido reciclado. Uma forma para combater os problemas ambientais que estamos vivendo. Aproveitamos os restos de tecidos trazendo algo fresh e inovador”, afirma.

Woolmay Mayden (Foto: Marcelo Soubhia/Fotosite)

Woolmay Mayden (Foto: Marcelo Soubhia/Fotosite)

Segundo ele, a coleção foi dividida em duas cápsulas: Incarner com 12 looks feitos com jeans com uma pegada jovem, descolada e que abraça até a lingerie. E Réincarner com 25 a 30 looks com jeans e tecidos reciclados baseado nas cores de 2023 da Pantone, peças bem descoladas, muita pele, o brilho sutil.

Woolmay Mayden é a mistura de streetwear\fashion, com intuito de apresentar estilo e consciência  para as pessoas de forma orgânica e intuitiva. A marca acredita que o futuro da moda serão as práticas sociais e a sustentabilidade “Nós sabemos que não dá para fazer uma mudança radical, mas acreditamos que aos poucos, nós iremos chegar a ser 100% sustentável”, diz Jean Woolmay.

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“Toda essa inspiração e motivação é direcionada a jovens negros imigrantes e LGBTQIA+, pois precisamos alicerçar a consciência ao respeito e às diferentes formas de se vestir, pensar e agir. O presente da moda precisa ser sustentável e não o futuro. O Futuro é muito tarde para se entender que o presente é ser social, de ajuda ao próximo e a toda cadeia ambiental”.

Leandro Castro

A coleção “Deriva” parte de uma frase: “Como os sonhos nos vestem?”. O designer apresenta uma série de roupas em tons de materiais vermelhos oriundos de sobras e descarte da indústria. “É livremente inspirada na ideia de que os sonhos são fonte de vida, como o sangue que incendeia nossas veias. Na sociedade do cansaço denominada por Byung- Chul Han, o sonho (em vigília ou sono profundo) torna-se potência para o reencantamento da vida. É preciso viver sem horas mortas, e a moda torna-se dispositivo para a imaginação de sobre realidades”.

Leandro Castro (Foto: Marcelo Soubhia/Fotosite)

Leandro Castro (Foto: Marcelo Soubhia/Fotosite)

O trabalho incrível é realizado com lixo têxtil, feltro técnico de lã, sarja de algodão, estopa de algodão, enchimento de refugo têxtil, organza de fibra natural, fio de malha, tapeçaria, sacolas plásticas, látex e tecidos automotivos. A técnicas de construção aparece em camisaria e alfaiataria marginais, patchwork pirata, experimentação em crochê e tecelagem, estamparia experimental, pintura manual.

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Mônica Anjos

Mônica Anjos e o baiano Carlos Cruz mergulharam no Projeto Flores da Favela e surge da concepção da arte como linguagem e caminho para se subverter a ideia da história única de que comunidades periféricas das grandes cidades brasileiras são caracterizadas apenas pela precarização.

Mônica Anjos (Foto: Marcelo Soubhia/Fotosite)

Mônica Anjos (Foto: Marcelo Soubhia/Fotosite)

Nessa perspectiva, o projeto emerge no sentido de propiciar um novo começo para pessoas de periferia que, por meio de sua arte – seja a música, a dança, a moda, gastronomia – refazem percursos e motivam seus pares a se reconhecerem como protagonistas de cenas em que a cultura mantida na sua ancestralidade se faz presente.

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Entendendo as artes como um dos recursos para a expressão de anseios e necessidades e como um canal para a manifestação de posicionamentos diante das realidades que se impõem às comunidades que ocupam, geográfica e socialmente, a periferia da cidade de Salvador, o Projeto Flores da favela tem como objetivo primeiro se fazer de suporte para a exposição de manifestações artísticas que, cotidianamente, se realizam nos bairros populares. Mais especificamente, esse projeto tem como meta dar a oportunidade para a população entender as manifestações artísticas que se performam como atividades de lazer para essas comunidades, sem as limitações dos preconceitos e estereótipos que, historicamente, direcionam os olhares quando se trata da estética negra.

NotEqual

Com direção criativa de Fábio Costa, a label levou para a passarela “Surto sarto” . A coleção dessa temporada apresenta um estudo sobre formas brutas que remetem às clássicas porém ainda em estado de construção. O aspecto inacabado das roupas é a representação do surto, tendo a intenção de apresentar e afirmar que mesmo no processo de desenvolvimento ainda assim a roupa é legítima.

A silhueta busca referência no sartorial, com peças que exploram a anatomia da alfaiataria tradicional remendada e não comprometida como vestimenta. Já os acessórios expressam a desconexão com a realidade, buscando no surrealismo a manifestação súbita desse fenômeno.

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