Sergio Marone: enquanto lança plataforma socioambiental, ele levanta bandeira contra a masculinidade tóxica


Por vivermos em sociedade extremamente machista, o ator acha fundamental falar sobre o assunto. “Na cultura latina, o homem tem que ser uma máquina sexual, não pode rejeitar sexo com uma mulher. Sempre fui seletivo nas minhas relações e tem mulher que quando você recusa algo, coloca em questão a sua sexualidade”, enfatiza ele que acaba de lançar a Plataforma Tukano para mostrar que o tempo inteiro fazemos escolhas e que “através do consumo sustentável podemos optar por algo que impacte menos o planeta”, pontua. Sérgio tem atuado fortemente nas redes sociais abordando temas sociais, assinou a produção do filme ‘Jesus Kid’, direção de Aly Muritiba, que está representando o Brasil na competição do Oscar com o filme ‘Deserto Particular’ e revela que pretende adotar um filho

Sérgio Marone: enquanto lança plataforma socioambiental, ele levanta bandeira contra a masculinidade tóxica

* Por Carlos Lima Costa

Além de se destacar como ator, apresentador, ativista pelas causas do meio ambiente e produtor de cinema, Sergio Marone aproveita a visibilidade, usa sua voz contra preconceitos e levanta várias bandeiras em suas redes sociais. Recentemente, ele chamou atenção sobre a questão da masculinidade tóxica, que, em nossa sociedade patriarcal, cria o gênero masculino sob determinadas regras como ‘homem não chora, não fala de sentimento, nem recusa sexo com mulher’. “Fui educado e criado dessa maneira e acho importante demais falar sobre o assunto para que a gente não repita os erros do passado. Existem vários tipos de homens, assim como de mulheres. Não é uma atitude, uma emoção à flor da pele que vai te deixar menos homem. Essa minha consciência surgiu com a maturidade, porque a gente não tinha a noção do quão nocivo isso podia ser para uma criança, para a criação da identidade de uma pessoa. Hoje, estou superatento para não reproduzir tais comportamentos e, se algum dia eu vier a ter filho, não quero que seja criado dessa maneira. Quero mais é que ele fique à vontade para expressar o lado feminino dele, que todo mundo tem e é maravilhoso”, frisa.

Marone revela que mais sofreu com as cobranças do que reproduziu essa masculinidade tóxica. “Não que isso me afetasse tanto, mas fizeram piadinhas comigo durante a minha adolescência, infância, por ter sido sempre uma criança educada, nunca fui de falar muito palavrão, coçar o saco”, relembra e frisa que por conta dessas questões colocavam em dúvida até sua masculinidade.

“Faziam brincadeirinhas colocando isso em questão. É uma bobagem, mas se a pessoa não tem um suporte familiar pode causar um trauma. Graças a Deus, sempre tive esse alicerce. Tenho uma prima que é psicóloga, então, soube lidar da melhor maneira. E, hoje, não me sinto nem um pouco afetado por isso. É um tema fundamental a ser falado, porque a gente vive em uma sociedade extremamente machista, faz parte da nossa cultura latina, o homem tem que ser uma máquina sexual, não pode rejeitar sexo com uma mulher. Sempre fui seletivo nas minhas relações e tem mulher que, quando você recusa algo, coloca em questão a sua sexualidade”, enfatiza.

Sérgio Marone com produtos que não afetam o meio ambiente (Foto: Iudi Richele)

Sérgio Marone com produtos sustentáveis (Foto: Iudi Richele)

Além do Instagram, Sérgio usa também seu canal no YouTube para levantar a voz contra preconceitos como racismo, LGBTQIA+, misoginia. “Quero falar sobre questões interessantes que agreguem, que transformem a visão das pessoas sobre determinados temas, às vezes, até tabus. Acredito que você pode falar sobre tudo que agrega valor ou uma mudança de olhar das pessoas, sempre de maneira propositiva, leve, descontraída e quebrando tabus”, defende.

No momento, uma das principais preocupações de Sérgio é a questão socioambiental. Assim, criou a plataforma Tukano que está sendo lançada no mercado. “Quero gerar uma mudança de comportamento com relação ao consumo. O planeta vai continuar aqui com as bactérias e microorganismos que sobreviverem às novas condições de vida. A gente tem que se salvar. Então, a primeira questão é mudar essa consciência. Através do consumo a gente tem um poder enorme, porque o tempo inteiro fazemos escolhas e podemos optar por algo que impacte menos toda vez que a gente for consumir, por exemplo, quando você compra um pente feito de bambu de manejo sustentável em vez de um plástico made in China, você está escolhendo um futuro melhor para a humanidade”, defende ele, que chegou a ser eleito uma das celebridades mais influentes do Brasil conforme o Celebrity DBI – Ibope Repucon. E, segundo pesquisa realizada pelo Mercado Livre na América Latina, entre junho de 2019 e maio de 2020, 2,5 milhões de usuários da América Latina adquiriram produtos com proposta sustentável.

Então, a primeira questão da Tukano é gerar a mudança de consciência e hábito, apresentando informações de forma leve com produtos de design, bonitos, atraentes. “Hoje, essa questão na minha vida é das mais importantes, porque é o nosso futuro que está em jogo. A Tukano existe para colaborar com empresas que já tenham soluções para problemas reais. Um dos maiores, com relação a lixo, é o resíduo orgânico. Mais de 50% do lixo produzido em uma residência é na cozinha. Temos uma empresa, a Florada da Floresta, que desenvolveu uma composteira residencial e com ela você resolve essa questão, porque não é lixo, é resíduo orgânico que você transforma em adubo. Você pode doar para os vizinhos, vender ou colocar no seu jardim. Nisso você está resolvendo um problema real”, pontua ele.

Marone explica também que existe um forte impacto no planeta por conta do imenso consumo de fraldas descartáveis. Centenas são jogadas no lixo ao longo da infância de uma criança. “Com a Tukano mostramos, por exemplo, que com 25 fraldas reutilizáveis, você cria uma criança durante toda infância, porque são ajustáveis por botões, laváveis, tem uma capa impermeabilizante, um absorvente dentro. Nesse caso, tem também a economia financeira, pois a pessoa deixa de comprar uma imensa quantidade de fraldas descartáveis”, ressalta.

Sérgio explica que com 25 fraldas reutilizáveis se cria uma criança (Foto: Karim Scharf)

Sérgio explica que com 25 fraldas reutilizáveis se cria uma criança (Foto: Karim Scharf)

No momento, a Tukano conta com três parceiros que possuem produtos exclusivos desenvolvidos por eles: Morada da Floresta, Paz em Gaia e Begreen. No site tukano.com.br, existe uma página para cada um deles, onde estão expostos os produtos para o e-commerce do parceiro que comercializa. Em um segundo momento, Marone planeja criar sua própria linha. “Já estou pesquisando e testando fórmulas para cosméticos vegetarianos. E também embalagens que sejam 100% recicláveis e desde creme para o rosto até desodorante, tudo natural, com óleo essencial. Em alguns meses, assim que lançar produtos próprios, vamos vender no site. Por enquanto, preferi deixar a logística de venda e entrega por conta dos meus parceiros”, observa.

A entrega de Sérgio à questão ambiental começou a se tornar mais forte a partir de 2012. “Me chamou atenção o Xingu Vivo, movimento social que acontecia em Altamira para denunciar a usina hidrelétrica de Belo Monte construída durante o governo Dilma, em pleno Rio Xingu, um berço de biodiversidade mundial. Eu acompanhava os relatos e ficava chocado com a falta de envolvimento e empatia das pessoas em geral”, afirma.

Assim, na época, criou o movimento Gota D’Água e convidou artistas como Murilo Benício, Dira Paese Ingrid Guimarães, e gravaram um vídeo na tentativa de aproximar o assunto das pessoas. “O movimento virou uma febre, conseguimos um milhão e meio de assinaturas. Em um mês subi a rampa do Palácio do Planalto, entreguei as assinaturas para três ministros, mas ouvi de um deles que havia muito dinheiro envolvido. Não tinha como a obra não sair, enfim, está aí tudo que a gente já sabe e sabia na época. Um custo gigante para uma ínfima geração de energia”, diz.

"Sempre quis falar de variados assuntos, desde lixo zero a revolução e desenvolvimento pessoal com dicas de autoconfiança, questões que de alguma maneira acrescentem a vida das pessoas”, frisa (Foto: Divulgação Beegreen)

“Sempre quis falar de variados assuntos, desde lixo zero a revolução e desenvolvimento pessoal com dicas de autoconfiança, questões que de alguma maneira acrescentem a vida das pessoas”, frisa (Foto: Divulgação Beegreen)

Apesar da preocupação com a questão do meio ambiente, Marone não chega a ser vegano. “Mas tenho a consciência e reduzi drasticamente o meu consumo de carne e derivados nos últimos anos, muito por conta do que a agropecuária gera de desmatamento. Ainda não consegui radicalizar e ficar sem, mas consumo carne duas, três vezes por mês no máximo. Agora, quanto mais pessoas adotarem essa redução isso já seria fantástico”, assegura ele, conhecido por novelas como Estrela Guia (sua estreia na TV, em 2001), Os Dez Mandamentos e Apocalipse.

Com 20 anos de carreira e 40 de idade, Sérgio vive fase de maturidade. “Sou outra pessoa. Sou muito mais autoconfiante, seguro do meu talento e carisma do que era há 20 anos. Muito mais dono das minhas escolhas. Desde que agradeci um contrato longo para continuar ali fazendo novelas, tomei as rédeas da minha carreira para fazer o que eu estava mesmo a fim, que é uma transição para comunicador, começar a produzir conteúdo, ficar mais independente e próximo do meu público. Essas plataformas nos aproximam muito mais”, frisa.

E acrescenta que, hoje, aprendeu a falar ‘não’ para convites de eventos até trabalhos que não está com vontade de realizar. “É maravilhoso. Essa liberdade sempre esteve na minha pauta de desejos e conquistas. Tento sempre na medida do possível fazer as minhas escolhas da forma mais livre e acho que a maturidade e a carreira sólida me ajudaram”, analisa ele, que realizou seu primeiro longa como produtor.

“Convidei o Aly Muritiba, diretor que está representando o Brasil na competição do Oscar com o filme Deserto Particular, e ele topou dirigir o Jesus Kid”, conta. No Festival de Gramado, o longa conquistou os prêmios de Melhor Direção e Roteiro para Aly e Melhor Ator Coadjuvante para Leandro Daniel. E já esteve em festivais nos Estados Unidos e Portugal.

"Vejo as pessoas jogando a responsabilidade nas próximas gerações que não vão ter tempo para isso. Temos que assumir a responsabilidade com relação ao meio ambiente. Por isso também criei a Tukano", ressalta Sérgio (Foto: Iudi Richele)

“Vejo as pessoas jogando a responsabilidade nas próximas gerações que não vão ter tempo para isso. Temos que assumir a responsabilidade com relação ao meio ambiente. Por isso também criei a Tukano”, ressalta Sérgio (Foto: Iudi Richele)

Sobre a questão da paternidade, ele deixa claro que ser pai nunca foi um sonho. “Jamais tive esse desejo de ter um filho biológico. Agora, esse não desejo está mais latente ainda muito pelo caminho que a gente está tomando enquanto humanidade. Vejo as pessoas jogando a responsabilidade nas próximas gerações que não vão ter tempo para isso. Temos que assumir a responsabilidade. Por isso também criei a Tukano, para as pessoas se conscientizarem de que temos que mudar a nossa forma de consumo. Sempre tive vontade de adotar uma criança, porque já está nesse mundo. Mas isso vai depender muito de quem estiver comigo daqui há um tempo, se esta vontade for recíproca. E se ela tiver muito a vontade de ter um filho biológico aí eu posso, de acordo com esse futuro próximo, pensar nisso”, explica ele, que este ano apresentou o Mestres da Sabotagem, no SBT. E já está certa a segunda temporada em 2022, devendo ser gravada em março.

Mas ressalta: “Nunca vou deixar de atuar, talvez faça projetos mais pontuais, séries, filmes ou autorais, aqueles que eu mesmo produza como foi o Jesus Kid, mas de fato eu tenho outros projetos também na área da linha de shows que eu quero ver se emplaco e tenho sim vontade de investir nesse lado comunicador. É meu desejo nesse momento, ficar mais nisso”, explica ele, que vai apresentar para algumas emissoras um projeto na linha de shows.

Durante a pandemia, Marone conta que testou positivo para Covid e foram três dias “derrubado” em casa. Em seguida, continuou investindo e produzindo conteúdo “que eu achei que fosse de certa maneira ser um alívio para as pessoas. Acho que ajudou na minha sanidade mental esse mergulho nas plataformas digitais produzindo conteúdo para fazer as pessoas se sentirem melhores e, ao mesmo tempo, me ajudando também. É isso, foi um momento de reinvenção. Ficou claro de que estamos nesse planeta para ajudar uns aos outros e fazer com que esse paraíso renda frutos para todos”, conclui.