“Nos mobilizamos agora pelas comunidades ou vamos andar por aí carregando corpos das pessoas”, diz Jonathan Azevedo

*Por Brunna Condini

Mais uma vez Roberta Rodrigues e Jonathan Azevedo se unem pensando no bem comum. Com a insegurança sobre as ações assistenciais à população de comunidades em tempos de Coronavírus, e com a necessidade do isolamento social, os atores se mobilizaram para arrecadar doações que serão revertidas em cestas básicas, material de limpeza e higiene para a os moradores do Vidigal, da Rocinha e da Cruzada São Sebastião, comunidades da Zona Sul da cidade.

Roberta, que está em quarentena em casa ao lado do marido Guilherme Guimarães e da filha, Linda Flor, 3 anos, diz que a ação partiu da apreensão que ela, Jonathan e outros amigos têm por conta do avanço da pandemia do Covid-19 nas comunidades. “Eu e o Fabio Luiz criamos o Vidiga na Social há nove anos. De lá para cá, fomos expandindo as ações e as parcerias, como a com o Negueba (Jonathan). E com essa situação de hoje já conseguimos entregar cerca de 400 cestas básicas e continuamos recebendo doações, que espero que não parem”, diz a atriz.

Roberta e sua Linda flor. A atriz está com a filha e o marido em isolamento há quase um mês (Reprodução Instagram)

No meio da situação emergencial e da recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) para que a quarentena seja respeitada, visando conter a contaminação pelo vírus, a população mais vulnerável tem conflitado entre a necessidade do isolamento e a do sustento. E, segundo Roberta, essa já é a realidade de muitos nas comunidades. “É preciso criar pontes, nos unir, ajudar quem está realmente em situação difícil e também fazer a manutenção disso enquanto for preciso”, avalia. “Sei que é uma questão bem maior, tem muita gente precisando de ajuda, mas cada movimento é importante. É da conta de todo mundo. Espero que a gente consiga atingir o máximo de pessoas para doar, e que quem receba, consiga ter alguma esperança”.

A atriz, nascida e criada no Vidigal, conta que no meio deste processo de mobilização, recebeu uma ligação muito bem-vinda. “A Xuxa (Meneghel) me ligou e disse que tinha 150 mil sabonetes da Baruel para doar aqui no Rio. Foi muito importante”, lembra. “Esperei a vida toda a nave dela passar aqui no Vidigal, mas agora ela me ligou para dar essa contribuição maravilhosa”.

Roberta Rodrigues e Jonathan Azevedo mobilizam doações para os moradores do Vidigal, Cruzada São Sebastião e Rocinha (AgNews )

Além das campanhas de arrecadação que lidera ao lado de amigos como Jonathan, Roberta revela que também recorre a Luciano Huck nestas ocasiões que demandam grandes correntes do bem. “Qualquer dia ele me bloqueia no celular (risos). Sério, ele sempre ajuda, consegue doações, faz pontes. O Luciano se importa de verdade. Quando começou o isolamento, fiz contato, e, na semana passada, ele veio e doou uma grana para compra de cestas, material. Isso tudo tem feito a diferença. Muita gente acha mais fácil fazermos porque somos artistas. Faço a minha parte, sim. A única obrigação é olhar para o próximo. Se todo mundo pensar um pouquinho no outro, melhora a vida”, frisa.

“Espero que a gente consiga atingir o máximo de pessoas para doar, e que quem receba, consiga ter alguma esperança” (Divulgação)

Ela revela ainda, que sonha em construir uma escola modelo na comunidade. “Eu, Negblack (Jonathan Azevedo) e Fabio Luiz temos um sonho. Acreditamos na transformação real dentro das comunidades através da educação. Queremos construir uma escola modelo para que essas crianças tenham aulas do berçário até a entrada faculdade, com alimentação, com carinho. Vou encher o saco do Luciano com isso para que ele me ajude em mais essa ponte. Já avisei a ele”, adianta.

Em um cenário de apreensão e incertezas por conta do Covid-19, Roberta diz que tem ficado em casa, aprendido a viver um dia por vez, e afirma que não sabe quando voltam as gravações de “Nos Tempos do Imperador”, em que faz Lupita. “Semana que vem faz um mês que estou em casa. Sou uma pessoa muito ativa, então não poder sair de casa, trabalhar, às vezes me agonia. Ontem, e fiquei mal, chorei. Todo final de semana tinha gente aqui em casa, minha mãe vinha… Somos uma família que gosta de estar junto o tempo todo. Mas tenho entendimento e gratidão que estou no conforto da minha casa, e só por isso posso ajudar as pessoas. A verdade é que parece que a terra parou, mas não podemos descer. Você fica sem saber do futuro. Passamos a vida idealizando e planejando, como se dependesse só da gente, mas não é assim. Quando a novela voltar, vamos estar em pleno processo de cura, o Vinicius Coimbra (diretor) falou isso. Esse vírus é desolador, mas pode transformar comportamentos urgentes, a humanidade, e até o planeta. Sem romantizar, claro, porque tudo é muito grave”.

“Sempre pensei que se desse certo com a minha arte, queria fazer mais pelas pessoas” (Divulgação)

Jonathan mora no Vidigal, para onde foi em 2012 estudar teatro, quando conheceu e ficou amigo de Roberta. Criado na Cruzada São Sebastião, uma das comunidades que têm recebido as doações, ele salienta a importância de levar amor e esperança para as pessoas em um momento como esse. “Fazia parte de um projeto social na Cruzada quando era pequeno, não podia ajudar, mas ganhava roupa e levava para a comunidade, para dividir, porque eu era muito ajudado. Então, sempre pensei que se desse certo com a minha arte, queria fazer mais pelas pessoas. Falava com a Roberta, que sempre foi meio minha mentora nisso, e criamos o Cruzada na Social, junto com o Wagner da Silva, que coordena o Basquete na Cruzada. Alcancei popularidade e uma certa estabilidade com o meu trabalho e fico grato de usar isso para fazer coisas boas. Isso me ajuda a não me perder, mantém meu pé no chão, minha serenidade”, garante Jonathan, que tem ficado com o filho Matheus de apenas 6 meses, tomando as devidas precauções para proteger o pequeno. Negblack está ainda à frente do projeto de construção de uma biblioteca na Cruzada.

Jonathan Azevedo e o filho Matheus Gabriel de apenas 6 meses (Reprodução Instagram)

O ator também compartilha suas impressões de dentro da comunidade. “Essa situação do isolamento, de muitos não poderem trabalhar, embora necessária, tem contribuído para muitos terem a dignidade diminuída, porque estão sem poder ganhar o próprio dinheiro. A cesta básica não é só para encher a barriga, é para manter a sanidade”, observa.

“A campanha sobre prevenção do Coronavírus tem atingido as pessoas nas redes, e no caso da comunidade, através dos carros de som também, até porque aqui a internet ainda não é para todos. Então a imprensa têm papel importante. Acho que ou chamamos à atenção, orientamos, ajudamos agora, ou vamos andar por aí carregando os corpos das pessoas. Precisamos de paciência e abertura. É um momento de aprendizado. O povo que mora nas comunidades atende boa parte da população em serviços, mas estamos trabalhando para a dignidade deles voltar. É momento de desacelerar, pensar, agir e ter união. A solidariedade é a plataforma que vai unir todo mundo depois que isso passar. Podemos sair melhores, mesmo depois de perder tanto”.