*Por Brunna Condini
Com uma vida dedicada ao teatro, ao cinema, e, principalmente à TV – ela está na reprise de ‘A Viagem‘, no Canal Viva, novela que este ano completou 30 anos e é um sucesso -, causa expectativa seu retorno à um folhetim após sete anos. Em breve poderemos assisti-la no gênero, mas no streaming, já que estará em ‘Dona Beja‘, na HBO Max. A artista é a nossa homenageada de hoje da série ‘Que saudade de você na TV’, que exalta o legado dos atores veteranos, mas também celebra sua trajetória na maturidade artística. Lucinha Lins pega a estrada com a turnê do espetáculo ‘Meninas Velhas‘, ao lado de Barbara Bruno, Nadia Nardini e Sônia de Paula que, assim como ela, interpretam mulheres que envelhecem com liberdade e energia. Graças às deusas da arte e na contramão do etarismo que tenta oprimir a vida produtiva de mulheres maduras. Aos 71 anos, Lucinha trabalha como nunca e cada vez com mais prazer por conta de suas escolhas. A atriz não teme o passar dos anos. Nesta entrevista, ela fala também da atual fase, da parceria e do longo casamento com Cláudio Tovar, e da experiência de fazer o show ‘Mãe + Filho = a música‘ com o seu filho, Claudio Lins.
Segundo Lucinha, “ao fazer ‘Meninas Velhas‘, parei para pensar mais na finitude. A princípio é assustador, saber que você já está na reta final, ou pelo menos mais para o final da sua vida. E falo isso dentro dentro das leis naturais, porque, para morrer, basta estar vivo. Isso é uma coisa que é inevitável: crescer, envelhecer, morrer… mas temos que lidar com muita serenidade. A peça fala sobre isso de uma maneira bonita, tranquila. A morte chega para todos, não é um desastre, faz parte de todos nós. É preciso não fazer disso uma tragédia”.
Morrer é muito chato, mas tudo tem seu tempo. Eu não me vejo…não quero morrer, mas não tenho medo da morte – Lucinha Lins
Antes de gravar a novela da HBO, a atriz esteve em ‘Apocalipse‘ (2017), na Record. Recentemente, também pôde ser vista na série ‘Sentença‘ (2022), da Amazon Prime Video. Em ‘Dona Beja‘, ela faz uma participação especial como Miss Callen, uma professora de língua inglesa. “Essa vai ser uma produção linda, brasileira, com um elenco maravilhoso. Foi um convite que aceitei imediatamente. Adorei a minha personagem, que tem um lado engraçado, e é uma professora do colégio das filhas de Dona Beja (Grazi Massafera). Ela vem visitar Dona Beja, que pensa ser uma grande aristocrata, e se surpreende… Está imperdível!”, avisa.
O palco
Há quatro anos em cartaz com ‘Meninas Velhas‘, com texto do marido e também ator, Claudio Tovar, e direção de Tadeu Aguiar, Lucinha e as outras atrizes abordam a passagem do tempo, com suas perdas e ganhos. A peça é também uma exaltação dos ganhos, do que pode e deve vir pela frente. A partir do espetáculo, a artista reflete ainda sobre a finitude. “Quando essas amigas maravilhosas se encontram na faixa dos 70 anos, porque a peça tem esses degraus, a gente começa na faixa dos 60, passa para os 70, depois para os 80, depois para quase um século. E é claro que tem um momento em que constatamos que já estamos mais ‘para lá do que para cá’. E isso faz parte da vida. A primeira vez que me deparei com essa ideia de finitude, que me atentei sobre a mortalidade, eu estava na faixa dos 50 e poucos anos. E foi um susto. Ali pensei: “Caramba, provavelmente eu já vivi mais do que 50% da minha vida. Será que chego a um século? Precisa chegar a um século? Não sei”.
Sobre a identificação do público, que também quer se reconhecer envelhecendo, ela diz: “Quanto mais a gente apresenta esse espetáculo, mais ele encanta as pessoas. Estreamos assim que os teatros abriram suas portas pós pandemia. Então, assistimos de camarote, quer dizer, do palco, a plateia poder ir enchendo devagarinho a plateia, sem restrições, até ficar lotado. O retorno dessa experiência com o público tem sido muito bonito”.
As drogas
As amigas da peça compartilham um baseado. Você que viveu a juventude nos anos 1970, teve muitas experiências psicodélicas ou era uma menina mais centrada? “Eu sempre fui muito careta, apesar dos anos 70, da boemia, sei lá, da loucura toda, dos psicodélicos todos. Casei muito jovem (com Ivan Lins), com 18 anos, aos 19 eu já era mãe, então eu tive sempre muito medo de droga, seja ela qual for, não tenho nada contra, lamento, vi muita coisa ruim à minha volta, pessoas que eu amava morreram por causa de droga. Acho uma das coisas mais perigosas do planeta, foi a minha grande preocupação junto aos meus filhos, é a minha preocupação hoje junto aos meus netos, porque tem um lado muito pesado nisso tudo, e a curiosidade de um adolescente pode matar, isso para mim é uma coisa terrível”.
O amor
A peça fala sobre amor e amizade depois dos 60. Você tem um longevo casamento com o Claudio Tovar. O que faz essa relação durar tanto, com parceria na vida e na arte? “Não existe essa receita, isso é uma coisa muito particular…e de muito cuidado, antes de mais nada. Tenho 41 anos de casada com ele e isso é um privilégio, um luxo. Quem é o Tovar para mim? E quem sou eu para ele? Somos cúmplices, antes de mais nada. Temos um amor, um respeito, um carinho, um pelo outro, que só cresce. O que existe é uma vontade de ficarmos juntos, “faça chuva ou faça sol”. E para nós, isso é tão natural, que quando percebemos que já passaram mais de 40 anos, até nós ficamos espantados (risos). Mas é muito bom saber que existe alguém na sua vida e no seu coração para sempre”.
Acho mesmo é que a nossa relação é para sempre. A gente se ama e se quer demais. E somos grandes amigos, nos admiramos muito. O dia que acabar a admiração entre as pessoas, não dá mais pra fazer parte da vida. E isso só aumenta entre nós – Lucinha Lins
A música
Também cantora e compositora, Lucinha fala da experiência de fazer o show ‘Mãe + Filho = a música‘ com Claudio Lins, que também tem planos de seguir com novas apresentações. “Criamos este espetáculo por conta do convite de um festival em maio, em razão do Dia das Mães. Tem sido delicioso. A gente não imaginou que esse espetáculo pudesse crescer tanto. Se transformou em um trabalho lindo, de dois profissionais, que por acaso, são mãe e filho, e que também têm a música como ganha-pão, como sobrevivência, como alegria, como prazer, como uma coisa que faz parte do nosso dia a dia. E é isso que a gente mostra no palco, é muito gostoso, tem sido maravilhoso, a plateia embarca junto com a gente. Saímos do palco muito emocionados. E viajar com filho, filho grande, né? Você imagina que ele é pai do Mariano, meu neto de 12 anos. Nós somos muito amigos antes de mais nada. A nossa cumplicidade é deliciosa, e ela acontece no palco há muito tempo. Não é a primeira vez que eu estou no palco com o meu filho. Mas agora estamos só nós dois. É um privilégio”, comemora.
Sempre fui muito careta, apesar dos anos 70, da boemia, sei lá, da loucura toda, dos psicodélicos todos. Casei muito jovem, com 18 anos, e aos 19 eu já era mãe, então eu tive sempre muito medo de droga, seja ela qual for. Não tenho nada contra, lamento, tenho medo porque vi muita coisa ruim à minha volta, pessoas que eu amava morreram por causa de droga – Lucinha Lins
A Viagem
Com mais de 50 anos de carreira e papéis memoráveis na TV, a atriz sempre é lembrada pela Estela de ‘A Viagem‘, novela que este ano completou 30 anos e foi reprisada no Canal Viva em celebração ao sucesso da trama. A história que agrada o público e é atemporal, foi criada por Ivani Ribeiro (1922-1995), e vai para o teatro com texto de Solange Castro Neves, colaboradora de Ivani, que escreve agora com Thalma Bertozzi e Vitor Oliveira. O espetáculo tem direção de Pedro Vasconcellos e previsão de estreia em janeiro de 2026. Apaixonada pela trama, Lucinha diz o que pensa da adaptação: “Essa novela é um marco dentro da teledramaturgia desse país, e é impressionante porque já reprisou sei lá quantas vezes e a audiência é incrível até hoje. Gerações estão assistindo ‘A Viagem’, é maravilhoso. Estou muito curiosa com essa possibilidade para o teatro. Não tenha dúvida que estarei na primeira fila, quero ver de perto. Acho que vou ficar muito emocionada, é uma ideia incrível e não é fácil adaptar essa história para teatro”.
Ao falar da narrativa espírita do folhetim, ela avalia a própria religiosidade. “A espiritualidade faz parte do meu ser, antes de mais nada. Sempre acreditei nisso que a gente chama de Deus, acredito no cosmos, na energia positiva. Não sei falar sobre isso direito, é uma coisa muito minha. Sou religiosa porque tenho essa ligação, sou ligada nessa coisa bonita. A espiritualidade faz parte da minha vida, senão eu não saberia viver direito”.
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