*Por Brunna Condini
Pedro Caetano entrou recentemente em ‘Elas por Elas‘ para fazer par romântico com Maria Clara Spinelli (Renée ). Na trama das seis ele faz mais um personagem na área da segurança pública, o delegado Rico. O ator também pode ser visto simultaneamente na série ‘DNA do Crime’, da Netflix, como o ambicioso policial Rossi, e em breve, em ‘Reencarne‘ (Amazon Prime Vídeo), como Caio, um agente da polícia bissexual e complexo. Ou seja, nenhum medo das ‘prateleiras’ por aqui, já que ele entende que dentro de um mesmo perfil de personagem pode caber um mundo de histórias. “Eles são completamente diferentes. O Caio entende que a polícia é maior do que ele, e o Rossi acredita que ele é do tamanho da polícia. Já o Rico tem o foco nesse relacionamento. Me sinto mais maduro tanto na esfera pessoal quanto na profissional e isso reflete em tudo”, diz Pedro que estará também na segunda temporada de ‘Vicky e a Musa’, no Globoplay nesta quarta-feira (24).
Buscando a prática da responsabilização para vivenciar sua masculinidade da melhor forma possível em um mundo ainda tão dominado pelo patriarcado, Pedro Caetano realizou a desconstrução do machismo enraizado está além do hype do tema nas redes sociais e nos círculos de bate-papo. E divide ainda: “Meu olhar começou a mudar e comecei a transformar as ações também. Com a terapia precisei ampliar meu vocabulário para falar sobre o que estava sentindo, foi aí que eu percebi que estava sofrendo de muitas coisas, como depressão, ansiedade, existia uma série de questões que eu precisava transformar. Renovei o meu círculo de amizades buscando mais profundidade. Foi um processo solitário no início, porque precisei abandonar grupos que eu me relacionava e buscar novos. Mas encontrei pessoas que faziam o mesmo, estavam interessados nessa troca constante”. O artista planeja transformar essa jornada de autoconhecimento e reflexões em um produto audiovisual e uma peça, além dos vídeos que já compartilha em seu Instagram.
Quis fazer terapia com uma mulher e negra, o que foi importante neste processo de tentar realmente ‘quebrar’ esse pacto masculino que se fez entre nós. É difícil para um homem se colocar neste lugar de exposição diante de uma mulher – Pedro Caetano
O ator também comenta o festival de situações em que o machismo imperou no Big Brother Brasil 24 até agora. “Essa permissão que os homens acham que têm para comentar sobre o corpo das mulheres é parte de um conjunto. É o sintoma de algo muito mais profundo. É sobre como o patriarcado e o machismo compartimentam o lugar da mulher na sociedade. Qual é o papel da mulher? O grande problema pra mim, do que foi mostrado e falado no BBB, é acharem que a mulher está aqui ara nos servir para algo. E esse ‘algo’ tem preço, mas não tem valor, como foi com o negro no período da escravidão”, analisa.
“Portanto, é permitido que a mulher seja ‘descartada’ quando não tem mais uso. Esse é o lugar infeliz que desejam colocá-la graças ao machismo e ao patriarcado. Outra questão, é a não responsabilização do homem por isso. Acho bom que isso venha se transformando. E é importante lembrar que a agressão à mulher não se dá somente quando ela apanha, morre. Não podemos ignorar a trajetória para isso acontecer. Esse caminho tem sido negligenciado e não conseguimos enxergar nossa participação nele”. E provoca:
Precisamos mais do que apontar os erros do outro, dos caras do Big Brother, nos responsabilizarmos também, enxergarmos nossa participação como homens nisso. Esse pode ser uma via para destruir esse pacto masculino e essa violência toda – Pedro Caetano
Machismo X Saúde mental
“Essa minha busca começou quando questionei sobre qual seria o meu lugar no mundo. O que eu quero dessa vida, que experiência quero viver e deixar por aqui? O divisor de águas foi enxergar que antes de querer para o mundo externo, eu precisava entender o que queria interiormente. Fui fazer as pazes com o que sinto, faço e o início foi muito por esse lado da masculinidade, porque é o ponto mais crítico, nos pega no berço. Então, em algum momento, essa história ‘desconstrução’ não supriu a minha necessidade, porque me soava como algo externo, performático, que era importante eu ser visto como. E não como alguma coisa que eu precisava transformar de fato, um movimento de responsabilização. Esse caminho tem sido de autoconhecimento profundo, de buscar a saúde mental, de me vulnerabilizar, de me colocar aberto para a escuta. A responsabilidade de me tornar um ser humano melhor tem me guiado”.
Ao se aprofundar, ele foi lidar com questões emocionais e mentais que jamais havia identificado. “O que aconteceu comigo é que eu sentia muitas coisas e não sabia dar nome a elas. Me faltava entendimento e fui buscar ajuda. Primeiro fui tentar falar com outros homens, mas não é um assunto fácil. Por isso existem tantos homens com problemas de depressão, alcoolismo, vício em pornografia, com questões de saúde mental, sem tratar. Indo fundo nessa minha busca, percebi que existe um problema quanto à vulnerabilidade masculina, não somos estimulados a nos permitir enfraquecer. Foi quando eu busquei a terapia”.
Parceria e amor por um mundo melhor para elas
Pedro namora a psicóloga Ana Luiza de Brito há um ano, ele que é pai de Alice de 9, compartilha com a atual parceira, mãe de Julia, 11, os desafios e experiências de criar uma filha mulher hoje. “Conseguimos ter uma visão de relacionamento que nunca tive na minha vida. De fora. Estamos olhando para o que estamos construindo. Algo maior que o nosso ego, que a necessidade de estar certo, a construção de algo potente. Pensamos muito no que queremos ter como troca e do que gostaríamos de ensinar, deixar como legado para nossas filhas. Tenho aprendido muito o quanto relações são muito mais sobre ceder do que qualquer coisa. Estou feliz e é muito bom ver que existem possibilidades de amar”.
O artista planeja transformar essa jornada de autoconhecimento e reflexões em um produto audiovisual e uma peça, além dos vídeos que já compartilha em seu Instagram. “Isso tudo é consequência de uma transformação pessoal potente na minha vida, mas quando comecei a trocar com outras pessoas, compreendi que isso é urgente para além de mim, porque isso tudo também é sobre outros homens. Essa prisão é deles também. Isso afeta outras pessoas e nos afeta. Tudo o que faço hoje, inclusive a minha arte, é atravessado por isso. Penso no mundo melhor para a minha filha, para a filha da Ana Luiza, para todas as mulheres. minha maior dificuldade na paternidade é entender que não vou conseguir protegê-la o tempo todo. Então a parte que eu tento me apoiar e me fixar, é que talvez a principal referência que ela tenha de comportamento masculino seja eu, o pai dela. O que tento fazer é mostrar nas minhas atitudes, no meu cuidado diário, o que ela deve aceitar, como ela deve ser tratada. Como deve ser uma figura masculina para que ela se sinta bem”.
O machismo é um grande ‘sequestrador’, ele ‘sequestra’ sonhos, experiências. Coloca mulheres servindo para algo e não com sendo alguém. Tento mostrar para Alice que ela é, e que pode existir neste mundo sendo, determinando suas escolhas – Pedro Caetano
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