Para quem olha de fora, Juliano Laham parece ser só mais um rostinho bonito e um ator talentoso, mas basta conversar com ele para notar que ele é muito mais complexo do que isso. Em suas veias corre sangue libanês, porém o seu coração é do mundo. O rapaz já morou no Líbano, no Qatar, na Inglaterra e acabou começando a sua carreira de artista no Brasil. É galã de novela da Globo, especificamente de Orgulho e Paixão, mas não se deixa impressionar por este título. Tem o sonho de salvar o mundo, porém é consciente de que sozinho não pode fazer nada, no entanto, tenta provar nos detalhes de sua rotina que o impossível é apenas questão de opinião. “Quero ver o que posso fazer com as minhas próprias mãos e por isso pretendo fazer uma ação humanitária quando acabar a novela. Tenho o desejo de ajudar os refugiados na fronteira da Síria. Já conversei com algumas pessoas, mas precisei adiar este projeto por causa de Orgulho e Paixão”, comentou. Embora esta ideia ainda não seja concreta, o artista é daqueles que gosta de ver as coisas acontecerem.
Politizado, Juliano Laham já viu o suficiente para lamentar as guerras que acontecem ao redor do planeta. O artista experimentou a diversidade como ninguém ao ponto de entender que as culturas não qualificam e definem uma pessoa. Existe muito mais por trás disso e nada justifica um confronto armado. “A paz mundial não depende só da gente, porque existem órgãos muito maiores políticos e financeiros, afinal, é o dinheiro que manda. Se estes grandes líderes e influenciadores não se humanizarem um pouco, nada vai mudar. Até porque eles estão seguros e quem sofre é a pessoa que não tem nada a ver, como acontece na Síria. Sinto uma dor no peito ao ver as notícias, às vezes, dá vontade de largar tudo e ir ajudar. Há um sentimento de impotência, mas se nós nos unirmos e começarmos a incomodar estes políticos que vivem pela ganância financeira, talvez a gente consiga mudar. E a base disto tudo é a educação, porque ela é capaz de transformar a nossa forma de pensar e agir. A mudança começa na gente, se eu conseguir tocar um indivíduo, ele vai expandir este pensamento até alcançarmos uma corrente importante do bem”, refletiu.
Assim como na vida real, o ator interpreta na novela um homem bom e de espírito humanitário. “É um cara que ganha a confiança das pessoas muito fácil. É muito solícito e está sempre disposto a oferecer soluções para os conflitos dos outros, o que o torna um personagem muito interessante devido ao seu papel social naquele ambiente”, analisou. Luccino Pricelli é o filho mais novo de uma família italiana, que veio para o Brasil na esperança de uma vida melhor. Enquanto os outros três irmãos vão trabalhar na lavoura de café, ele se torna o mecânico da cidade. “Ele é uma alma sábia disfarçada de uma pessoa humilde. Além de ser pobre e super esforçado, ele é o braço direito do Malvino Salvador, que é um cara influente na região, e um ator com quem estou me divertindo e aprendendo muito. Naquela época, as diferenças entre as classes sociais eram muito maiores, mas o meu personagem consegue transitar por diversas áreas, o que é muito bonito”, informou. Além disso, o seu papel ainda cultiva uma amizade bonita com o irmão, vivido por Rodrigo Simas.
Dedicado e esforçado, o rapaz leu alguns livros e buscou filmes sobre o universo da Jane Austen, mesmo o seu personagem não aparecendo em nenhuma das tramas literárias. “Pesquisei para entender o contexto que o autor, Marcos Bernstein, queria passar a partir do uso destes livros. Óbvio que foi uma grande inspiração, mas é notável alguns resquícios da história, principalmente, de Orgulho e Paixão. Acho muito bonito como ela constrói a narrativa, porque revela o intimo das mulheres e estamos, afinal, em uma época na qual todos merecem a igualdade. Além disso, se trouxermos estes conflitos para hoje, vemos como são temas atemporais”, analisou. Segundo ele, a novela é tão leve, gostosa e capaz de viciar o público quanto os romances da escritora inglesa.
Inicialmente, o ator pensou que a descendência italiana seria a grande dificuldade do papel, mas não precisou aprender a língua ou atribuir algum sotaque para o Luccino. No final, acabou apenas pesquisando sobre o gestual deste povo para agregar mais conteúdo para o seu personagem. O empecilho veio através da profissão do papel, já que precisou aprender a dirigir e estudar sobre a mecânica de carros antigos da época de 1910. Mesmo a trama já tendo iniciado, ele comentou que ainda espera mais desafios pela frente. “É um constante estudo. Até hoje ainda tento imprimir alguma característica para ele. A pesquisa do ator nunca acaba, é sempre constante até o final da novela. Dependendo de alguma cena repentina, preciso me preparar e pesquisar mais”, contou.
Orgulho e Paixão tem sido mais uma escola da vida para o ator, por ter a oportunidade de contracenar com atores de peso como Malvino Salvador. No entanto, o sucesso de seu personagem é fruto do acumulo de vivencias do rapaz desde o seu início na teledramaturgia, em Malhação, um trabalho que relembra com muita saudade. “Foi onde acumulei experiência e conheci grandes amigos. É realmente uma escola e uma família, porque todo mundo está junto. Continuo aprendendo até hoje, afinal, o ensino é algo constante na vida. Estou apenas começando, mas acho muito importante ver a minha evolução desde aquela época para cá”, comemorou.
Além de aparecer na telinha, possui uma base muito forte no teatro e cultiva a vontade de fazer um espetáculo por ano, mesmo com a desvalorização que esta arte está sofrendo. “Não acho que o teatro está morrendo, porque ele é a base de tudo, mas a forma como o consumimos mudou. Quem leva a essência do teatro somos nós, os atores, por isso devemos lutar sempre por ele. Se acreditarmos que ele não se sustenta mais, obviamente isto vai acontecer e nunca voltará a ser como era antes. Vejo grandes amigos meus com casa cheia e outros, vazia, e esta variação, na minha opinião, é fruto da direção, dos atores e da capacidade da produção de se atrair o público. A internet trouxe uma grande capacidade de divulgação, mas tudo em excesso atrapalha, sendo assim as pessoas acabam perdendo um pouco o interesse. Mas ele não acabou, só deixou de ser comentado em alguns aspectos, mas acredito que isto vai voltar”, lamentou. Segundo ele, este cenário só pode ser alterado através do ensino. “O Brasil está passando por um momento de mudanças e espero que isto venha no caminho da melhora da educação, da saúde e da segurança”, afirmou. Para ele, é necessário incentivar o gênero em lugares onde o acesso é escasso como em regiões periféricas e em estados mais afastados no núcleo Rio-São Paulo.
Mas o limite da carreira de Juliano não são os palcos brasileiros, afinal, é ingenuidade pensar que a internacionalidade do mesmo ficará apenas no campo pessoal. “Quero ser um artista amplo e não vejo problema em atuar fora do país. Não fecho nenhuma porta. Inclusive, no ano passado, tive a oportunidade de fazer um teste para trabalhar no X-Men, mas infelizmente não rolou. Faço aulas de inglês diariamente e pretendo, um dia, estudar no exterior. De qualquer forma, ainda tenho muito o que aprender e crescer aqui no Brasil. Amo o que faço e vou continuar atuando seja aqui ou na China”, concluiu.
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