Não teve DiCaprio, Blanchett, Cuarón, lobo do mercado financeiro, astronauta perdida no espaço sideral, cabeleira de Jared Leto, ex-escravo injustiçado ou trapaça que chamasse mais atenção. O Globo de Ouro 2014 foi de Jacqueline Bisset. A estrela, que ganhou o prêmio de “Melhor atriz coadjuvante em série, minissérie ou telefilme” por sua atuação em “Dancing on the edge” subiu no palco deslumbrante, no auge de seus 70 anos. Bisset, que surgiu em meados dos anos sessenta, já foi de tudo no cinema. Inglesa de nascimento, dividiu os holofotes com outra beldade chique, Charlotte Rampling, em uma época em que as bonitas não eram a primeira opção nem dos produtores, nem do público.
Na telona, estourou como a intrépida aeromoça adúltera no primeiro filme-catástrofe (Aeroporto, 1970), contracenou com Belmondo em “O Magnífico” (Le Magnifique, 1973), mas acabou sendo mais espetacular que o próprio. Em certa noite americana, foi musa de Truffaut (La Nuit Americaine, 1973), embarcou a bordo do Orient Express na companhia de um punhado astros da velha Hollywood (Assassinato no Expresso do Oriente, 1974), desceu às profundezas abissais com Robert Shaw e um Nick Nolte ainda garotão em “O Fundo do Mar’’ (The Deep, 1977) e emulou Jackie Kennedy, seduzindo um Anthony Quinn travestido de Onassis em “O Magnata grego” (The Greek Tycoon, 1978) para, já nos anos 1980, trair Albert Finney à sombra de um vulcão (Under the Volcano, 1984), dirigida por John Huston.
Quase na mesma época, elevou a testosterona dos garanhões adolescentes às alturas, enquanto brincava de mãe do bonitão Rob Lowe em “Uma Questão de Classe” (Class, 1983), flertando com seu melhor amigo, interpretado por Andrew McCarthy. E, já na virada da década seguinte, veio ao Rio especialmente para deflorar orquídeas, papoulas e outros espécimes da nossa flora, na companhia da sado-masoquista Carré Otis e do sex symbol da vez, um charmoso Mickey Rourke ainda em forma, pré-deformação pelos excessos. E, depois dessa Orquídea Selvagem (Wild Orchid, 1990), foi saindo aos poucos de cena, mas não parou de atuar.
Vez por outra, um fã saudoso se pergunta por onde andaria a estrela, agora uma respeitável matrona, mas nem por isso menos sexy. Aos poucos, voltou. Foi aparecendo na telinha, em uma participação aqui e ali, nos anos noventa ao lado da Senhora Harrison Ford, Calista Flockhart, na série de sucesso “Ally McBeal”. Agora, ressurge grandiosa e engole todos no Globo de Ouro, do alto dos seus high heeled shoes.
Com plástica impecável, sem abrir mão da ação do tempo, mas muito melhor que a grande maioria das colegas – mais jovens, porém encharcadas de botox –, Jacqueline Bisset prova que o tempo pode fazer muito bem a uma mulher, se ela for bem resolvida de cabeça. Junto com outra veneranda senhora das telas, Diane Keaton, que subiu ao palco para receber um prêmio para seu amigo Woody Allen, enbanjou charme e capitalizou atenções. Bom, Keaton não está tão bem quanto Bisset, mas, comparada àquelas estrelas que pretendem copiar Amanda Lepore, ainda pode dar um caldo.
Ao receber o prêmio, agradeceu e, ao final do discurso, afirmou: “O melhor tratamento de beleza é o perdão. Perdão a si mesma e aos outros.” É, faz sentido. E, em uma época em que a atual prata da casa de Hollywood começa a chegar à meia idade (Kidman, Zeta-Jones, Blanchett, Julianne Moore) e os produtores se desesperam, procurando alçar ao estrelado talentos insípidos como Jessica Chastain e Jennifer Lawrence, nada mais gratificante do que ver alguém que sobreviveu a tudo e a todos e que ainda está aí, dando o que falar.