Não precisa conversar durante muito tempo com Danilo Mesquita para perceber que o rapaz é nacionalista e completamente apaixonado por Salvador, sua cidade natal – atualmente mora no Rio de Janeiro. A saudade de casa fica ainda mais perceptível nos bastidores de Segundo Sol, onde ele interpreta o filho de Giovanna Antonelli e Emílio Dantas, já que a trama se passa na Bahia. O brilho dos olhos é notável pelo simples fato de poder abusar de seu sotaque e relembrar, todos os dias, de sua terrinha. Exatamente por vestir a camisa verde e amarela, o ator é um dos primeiros a apontar os erros que existem no nosso país para que, assim, possamos melhorar. Em entrevista para o site HT, ele soltou o verbo sobre diversas mazelas políticas e sociais que precisam urgentemente de alguma mudança. “Eu acho que o Brasil é um bebê gigante. Nós passamos por uma miscigenação que nenhum outro país sofreu e tivemos pouco tempo para assimilar isto. Além disso, temos uma história muito violenta que inclui a nossa colonização e a ditadura. A gente comete erros exatamente por estes reflexos do passado. Temos um complexo de vira-lata devido à exploração de Portugal, afinal, não era um local feito para dar certo, na verdade era o lixo dos lusitanos. Para não repetir o que fizemos mal é preciso levantar discussões sobre o futuro seja através da dramaturgia, da música e de veículos de comunicação. Precisamos parar de pensar que o que vem de fora é melhor. A nossa mistura é um grande diferencial e nós conseguimos sucesso em tudo que tentamos fazer”, disparou. Para ele, a arte é uma das únicas formas de ajudar o país a se reerguer da crise econômica, política e social.
O fato de ser consciente destas mazelas nacionais, não o torna uma pessoa incrédula. Quem vê o rostinho de menino, nem pensa que o rapaz é cheio de fortes opiniões e a política é um dos assuntos que domina. Danilo Mesquita gosta muito deste tema e exatamente por isso acredita que as eleições de 2018 podem ter um retorno positivo para o futuro do país. “A gente teve grandes avanços no nosso país, principalmente, na questão social. Cerca de 30 milhões de pessoas foram tiradas da miséria em pouco tempo. Isto nunca aconteceu antes na história do mundo o que é algo bom. Apesar deste progresso ter sido bloqueado, acredito nas eleições e no povo, mesmo que a gente erre na escolha dos nossos governantes agora. Vamos viver momentos difíceis, mas isto vai nos fortalecer e incentivar discussões e melhorar o nosso intelecto, justamente para não repetir a ditadura, que é o que estamos fazendo agora. Provavelmente nem todo mundo concorda comigo, mas isto é democracia. Temos o direito de discutir as nossas ideias”, lamentou. Embora sejam temas polêmicos, o ator afirmou que não conseguiria não expor a sua opinião política.
As opiniões políticas do ator também podem ser identificadas em seu personagem de Segundo Sol. Na trama, ele interpreta Valentim, o filho único do cantor Beto Falcão com Luzia, mas que foi roubado e criado por Karola, interpretada por Deborah Secco. Sendo assim, cresceu em um lar de alto status social e por isso Danilo acredita que o rapaz se sente culpado por estar em uma situação privilegiada. “Se eu morasse em uma cobertura, talvez me sentisse assim também. É consciência minha. Não sei se é isto que se passa na cabeça dele, mas penso que o Valentim renega esta fortuna pelo fato de andar de chinelo e recusar coisas caras. Para mim, não se identifica com aquele cenário por achar que não precisa de tudo aquilo para ser feliz”, comentou. O artista comentou que ficou impressionado na primeira vez que entrou no set pela riqueza do local. Este estilo mais simples do personagem gera muitos embates com a suposta mãe, Karola, pelo seu jeito mais consumista que faz de tudo para ganhar dinheiro com a memória do pai.
Em Segundo Sol, Valentim se tornou um personagem muito complexo por viver entre a tristeza de nunca ter conhecido o pai e a alegria por ser filho de um grande músico. Para encarar este papel, ele contou com uma longa preparação junto do elenco e ainda fez aulas de capoeira. “Aprender esta dança foi um grande presente, porque ela fala sobre resistência e é a reafirmação da nossa cultura. É uma arte, né? É um lugar onde temos a dança, a música, o canto e a luta. É um esporte completo, mas muito difícil de fazer. A gente passou mal no começo porque a pressão baixava por ser algo que mexe com todo o corpo. Você sempre está no meio, então é muito cansativo. Eu joguei bola sete anos e já fiz outros esportes, mas nunca vi nada parecido. Fiquei muito apaixonado”, contou.
Enquanto a maioria do elenco precisou aprender a prosódia baiana, Danilo acabou servindo de exemplo nos bastidores por ser de Salvador. “Os atores são muito estudiosos e estão mandando muito bem no sotaque. Mas eu sempre leio o texto e penso qual termo posso substituir”, comentou. Sendo assim, teve uma facilidade muito grande na hora de interpretar o personagem e pode soltar totalmente a sua prosódia baiana. “Sai com 18 anos de lá e precisei adaptar o meu sotaque para conseguir trabalhar. Durante todo este tempo, tentei ser menos baiano e agora preciso voltar atrás. Tenho um pouco de medo de ir além, mas está sendo uma delícia poder contar um pouco da história do meu povo, da minha cidade. Sou apaixonado pelo meu país e enlouquecido por Salvador”, garantiu.
Nos bastidores, Danilo está conseguindo trocar muitas ideias com a nova geração de atores da Globo como Leticia Colin e Chay Suede. Para ele, está sendo importante esta aproximação já que ela, por exemplo, já possui 20 anos de carreira, mesmo sendo nova. “Já a conhecia de outro trabalho, mas estou feliz de poder conhecê-la ainda mais. Passei dois meses ensaiando capoeira com o Chay, então já construímos uma amizade. Além disso, o Danilo Ferreira é meu melhor amigo. A minha geração tem uma galera muito boa o que é assustador. Fico atento quando estou aqui para aprender com eles. São pessoas novas que já fizeram muita coisa e tem uma carreira linda”, comemorou.
Além de ter contato com esta nova geração, Danilo Mesquita teve a oportunidade de voltar a contracenar com Vladimir Brichta em Segundo Sol, já que os dois fizeram Rock Story juntos. “É um prazer trabalhar com ele, porque eu sou baiano e o tenho como uma de minhas referências. Sempre me espelho nele, no Lázaro Ramos e no Wagner Moura que são da mesma terra que eu. A vida me deu a oportunidade de trabalhar com ele e de virar seu amigo, por isso o admiro muito mais agora que o conheci pela pessoa que é. Eu fico aqui só ouvindo e aprendendo. Não é todo mundo que tem esta sorte”, contou.
Segundo Sol é a quarta novela de Danilo e, assim como em Rock Story, o ator está interpretando um personagem que também possui um lado musical muito forte. “Eu tenho a sorte de amar música e dela fazer parte da minha vida. Toco violão diariamente e sempre componho, então é uma delícia que o som faça parte do meu dia a dia em cena”, informou. De certa forma, o talento como músico levou o rapaz a conseguir estes últimos dois personagens. “Provavelmente se eu não tocasse ou se não tivesse nenhum contato com a música, seria muito difícil fazer. Em Rock Story, por exemplo, a gente cantava mesmo, então me abriu as portas”, comentou. Depois de seu penúltimo folhetim, ele ainda fez o espetáculo Rio mais Brasil o Musical, com direção do Ulisses Cruz, o que o levou a rodar o país durante seis meses.
Enquanto em sua última trama ele precisou aprender canções mais pops e rocks, desta vez o ator se jogou no universo do axé e, para um baiano, isto não foi nada complicado. “Eu nasci dentro desta sonoridade, porque o meu pai era produtor de bandas deste gênero. Ele era roqueiro e ‘axézeiro’. Ao mesmo tempo que ouço muito Renato Russo, Caetano, Gil, Tom Zé, Milton Nascimento e Cazuza, escuto muito Netinho e Tatau”, comentou. De acordo com ele, a música que mais lhe tocou deste estilo musical é Timbalada. Sendo assim, para ele, fevereiro é um dos meses mais importantes do calendário. “A primeira imagem que eu tenho do carnaval é meu pai me pegando na arquibancada, me colocando no ombro dele e a gente indo para a pipoca do Araketu. Esta época me emociona muito”, relembrou.
Danilo já mora no Rio de Janeiro há oito anos e precisou deixar a cidade natal para ir em busca de seu sonho de ser ator. Neste tempo todo fora, ele comentou que sente muita falta da família. “Se eu falar da minha mãe vou começar a chorar. É sempre difícil sair de Salvador. Eu me adaptei ao Rio muito fácil, vivo muito bem aqui, mas sinto falta de lá. Não gosto muito da comida daqui, desculpa meus amigos cariocas. Eu fui criado no bairro do Cabula onde minha avó mora há 40 anos, onde todo mundo me conhece. Quando chego lá eu fico sem camisa e descalço”, comentou. Apesar de preferir a comida da avó, ele garantiu que manda bem na cozinha e consegue se virar bem.
Embora tenha se adaptado muito bem no Rio de Janeiro, ele comentou que pensa em voltar, mas não o faz devido o trabalho. Sendo assim, Danilo gostaria muito de que o ramo das artes não fosse tão concentrado no eixo Rio e São Paulo. “Acho o cinema de Pernambuco é incrível e me interessa muito. Vejo muito material de lá e tenho vontade de fazer. Os filmes da Bahia também são muito bons. Tem uma galera lá de Cachoeira que está fazendo coisas muito interessantes. Tenho muita vontade de sair do eixo Rio/São Paulo”, afirmou.
Apesar de ter enfrentado diversos perengues por se mudar sozinho com 18 anos, ele garantiu que a carreira de ator está valendo à pena. “Eu acho muito bacana a quantidade de coisas que passei para estar aqui. Isso tem a ver com correr atrás dos meus sonhos. Quando vejo que consegui, isto me dá força por saber que não foi por acaso”, comemorou.
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