Chamada de “oportunista” por gravar sambas, Zélia Duncan manda o papo reto: “Canto o que quiser, liberdade conquistada com muito suor e trabalho”


O compositor Roque Ferreira, do qual Zélia nutria admiração, ligou, segundo a própria cantora, para a organização do Prêmio da Música – onde Zélia concorre a cinco categorias – questionando a indicação dela a “Melhor disco de samba”

Para algum desavisado que ainda não saiba, Zélia Duncan está liderando o número de indicações ao 27º Prêmio da Música Brasileira (a cerimônia será em 22 de junho, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro) – cinco, no total –, com o álbum Antes do mundo acabar – recheado de sambas, alguns inéditos, outros escritos com vários parceiros, além de outras composições que surgiram no processo de produção do trabalho. Eis que o compositor Roque Ferreira, do alto de seus 69 anos, ao saber da indicação dela na categoria “Melhor disco de samba”, conta Zélia, “teria ligado para a organização do Prêmio da Música aos gritos, exigindo que seu nome fosse tirado da premiação”, por ter o nome de Duncan na lista. “Sua indignação vinha do fato de eu ser ‘roqueira’ e portanto, ‘oportunista’, por ter gravado samba”.

Zélia Duncan (Foto: Divulgação)

Zélia Duncan (Foto: Divulgação)

Zélia, ao saber do fato, se mostrou triste “porque rótulos são coisas de gente que pensa pequeno, que não olha o céu amplamente”. Em carta-resposta, ela disse: “Me chamar de roqueira muito me orgulha, mas não me traduz por completo e soa como um triste fundamentalismo musical. Eu conheço bem o trabalho de Roque Ferreira, mas ele não me conhece. Roque, muito prazer! Sou filha de baiano, sempre cantei e amei o samba. Participei de diversos trabalhos de samba. Já cantei com Martinho, Beth, Alcione, Fundo de Quintal, Mariene de Castro, Ana Costa, Arlindo Cruz, Xande de Pilares, Moacyr Luz, Paulinho da Viola, Mart’nália… Sou parceira de vários deles. Músicos de excelência tocam e tocarão comigo, porque conhecem o meu amor. Pra desespero de puristas, me sinto feliz de várias maneiras”.

Deixando claro que é, “antes de mais nada, uma intérprete” e canta “o que quiser, liberdade conquistada com muito suor e trabalho”; Zélia ainda falou que “é agressivo” a chamar de “oportunista”, porque gravou sambas e antes de mais nada, trata-se de “uma afirmação de quem ignora o que diz e mostra um ressentimento que não condiz com a poesia de sua obra”. E continuou: “Pra mim, sua fã confessa, uma decepção imensa. Mas, há 35 anos cantando, já aprendi que a beleza de uma obra nem sempre vem aliada à beleza de quem a produz, por incrível que pareça… e a vida é dura para todos nós, não é? O mais irônico de tudo é que não me chamo Roque, me chamo Zélia, Roqueiro é quem me diz. E eu sou feliz!”. E se engana quem acha que parou por aí. Zélia também ficou sabendo que Roque ainda dizendo por aí que ela “entrou pela porta dos fundos” ao gravar sambar. A resposta? “Mas um sambista de raiz manda dizer que quem entra pela frente é a polícia!”.

Em tempo: Zélia Duncan foi além e cancelou uma coluna que publica em um jornal carioca que falaria sobre ciúme e inveja para tratar do assunto. No texto, disse: “Respira! Sou mulher, mas tenho voz de homem. Fiz um samba com Lulu Santos (calma!). Fiz uma balada com Mart’nália. Disse pro Paulinho da Viola, que é o samba em pessoa: te amo! Fiz um álbum chamado “Eu me transformo em outras”, sem te pedir licença. (Foi mal…) Sou um paradoxo com duas pernas, tanto que ainda te amo! Mas me desculpe, estamos juntos, pois você sempre é Roque e eu sempre fui Samba”.

Confira a lista completa dos indicados para o Prêmio da Música Brasileira 2016 clicando aqui.