De volta ao batente, Bailinho chega para alegrar o verão carioca. O idealizador Rodrigo Penna anuncia: “Somos uma festa anti-carão”


Primor da boemia carioca, evento retorna ao Rio no seu oitavo ano, a partir do dia 27 no Píer Mauá, com edições quinzenais. Confira o bate-papo exclusivo com o produtor e DJ

*Por João Ker

Todo mundo merece ir a uma festa inesquecível na vida, e o leitor sabe o que isso significa: aquela noite em que os cosmos parecem se alinhar e o destino conspira a favor. Desde aquela música que não é ouvida há muito tempo até o casinho que, mesmo durando só uma noite, faz a saída valer a pena. Isso tudo é fácil de ser encontrado no Bailinho, um dos badalos mais emblemáticos e elogiados do Rio de Janeiro, que volta no próximo dia 27 para sua oitava temporada de verão na cidade. Produzida por Rodrigo Penna e Daniela Arantes, a balada consegue unir cariocas de todas as tribos, naquilo que o próprio Rodrigo chama de “um grande espetáculo que traz tudo junto na pista”.

Rodrigo Penna tocando no Bailinho (Foto: Divulgação)

Rodrigo Penna tocando no Bailinho (Foto: Divulgação)

O leitor certamente já ouviu falar do Bailinho, seja por suas edições épicas ou pelos casos que sempre aparecem nas colunas. Ou ainda pela fabulosa lista de DJ’s convidados que inclui de Luana Piovani e Gilberto Gil a Alcione e Vik Muniz. Mas Rodrigo afirma, em entrevista exclusiva para HT, que as celebridades não são o carro-chefe da festa (mesmo que elas compareçam em massa): “Esse nunca foi o foco. O fundamental será sempre o público, a música e como damos atenção a todas as pessoas que vão. Nossas grandes joias são os frequentadores”, enfatiza. Para o produtor, DJ e ator trabalhar na noite boêmia do Rio não é questão de ganhar dinheiro, mas ato de amor pelo que faz. “É preciso gostar de gente e de fazer festa. Já vi muito produtor que não gosta de nada disso, nem de trabalhar à noite. Só está ali para conseguir dinheiro fácil”, comenta, acrescentando: “Você precisa ter muito tesão e respeito pelo público. Uma sensação de que, de alguma maneira, está fazendo algo maior do que uma festa. O objetivo de uma balada é proporcionar algo para que as pessoas fujam um pouco da realidade cotidiana. Nesse mundo tão louco, caótico e egoísta em que vivemos, a ideia precisa ser essa”.

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Realmente, atribuir ao Bailinho o simples valor de uma festa é ignorar o cuidado e a criatividade que a produção aplica em cada edição do evento. A decoração é sempre um dos atributos mais comentados e amados pelo público: santinhos e imagens espalhados pela cabine do DJ, globos de luzes gigantescos, penduricalhos saindo do teto, chuva de papel, pôsteres com frases motivacionais e brindes como chinelos e guarda-chuvas que chegam a somar R$30 mil no orçamento final. “É uma festa cara? É. Mas é cara para quem faz também. Temos uma lista amiga de onde sai mais de 50% do meu público, fora a lei da meia entrada. Eu acho uma pena ter que repassar esse preço, mas só de brinde eu gasto cerca de R$25, por pessoa. É cara, mas eu ofereço um bom serviço e uma festa boa”, se defende o produtor, justificando o valor dos ingressos que já estão no 3º lote e custam R$240 a inteira.

Bailinho de 2013

Apesar do preço salgado – mas merecido pelos motivos citados acima -, Rodrigo Penna garante que o local é democrático e que ali ninguém chega para fazer carão. “Isso não existe no Bailinho. Você olha para a pista e vê rico, pobre, profissional liberal, filhinho de papai, a galera do teatro de rua, preto, branco, gente de 20 e 50 anos. O que ajuda também é sermos a única festa que não tem área VIP. Em alguns lugares já deixamos até de ganhar dinheiro com isso, mas eu odeio essas coisas”, comenta o produtor, fazendo referência àqueles pacotes onde a pessoa sai pagando cerca de R$1.000 (ou muito mais) para ficar “agregando valor ao camarote” com garrafas de vodca e trocentas latas de energético. “É totalmente democrática, como uma praia do Rio onde todo mundo convive junto. Não adianta a menina chegar cheia de pose, porque no fim da noite ela vai estar suada como o resto das pessoas. O Bailinho não é para fazer carão, é para se jogar”.

Se jogar na pista é uma das tarefas mais fáceis para quem frequenta o evento. O set dos DJ’s, incluindo Penna e o habitual Markinhos Mesquita, é um reflexo direto do público: as músicas não têm restrição de idade, gênero, país ou classe social. “Tenho 40 anos e o evento nasceu da minha vontade de ouvir nas festas aquilo que eu escuto em casa. Então, tem desde hits dos anos 1990 a Nina Simone e Frank Sinatra. Eu acho engraçado porque a grande maioria do público está na casa dos 20 anos e essas músicas que eu toco faziam sucesso em uma época que eles nem eram nascidos ainda. Ou nem seus pais. Mas, mesmo assim, a galera conhece, canta e curte!”, diz empolgado. Dessa forma, uma das cenas mais comuns no Bailinho é cair na pista ao lado de gente como Selton Mello, Rodrigo Santoro, Natália Lage e Cauã Reymond, enquanto as músicas vão pulando de Beyoncé a Chitãozinho e Xororó em questão de segundos.

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Pode-se dizer até que essa pluralidade de gostos e pessoas é a cara do Rio. Não à toa, o Bailinho já foi convidado para rodar o Brasil e levar essa irreverência carioca de Norte a Sul. Entre as cidades que já foram agraciadas com o evento, estão Guarapari, São Paulo, Brasília, Florianópolis, Recife, Porto Alegre, Salvador, Belo Horizonte e mais algumas metrópoles e capitais. “Essa é uma festa extremamente carioca e quando estamos viajando somos ainda mais”, brinca Rodrigo.

Mas não é por circular pelo país inteiro que a festa perde sua identidade e atende à qualquer brecha oportunista que vê. O produtor comenta que deixou passar vários convites durante a Copa do Mundo porque não achou as propostas fidedignas para seu público e preferiu criar expectativas para a temporada de verão 2015. “As pessoas perguntam por que sumi o ano todo? Para não me queimar! Morria de medo de misturar o Bailinho com eventos corporativos e de marca. Não vejo nenhum problema com as outras festas que fazem isso, mas o Bailinho não. Recebi sugestões e pedidos, mas nenhum que me desse tesão de verdade. Sem demagogia, mas quando eu me sentir dando truque, os frequentadores vão sentir também. É por isso que a festa tem longevidade”.

Essa militância por um bom badalo de responsa trouxe o Bailinho até este verão, onde Rodrigo Penna “resolveu fazer algo diferente”. Transferiu o evento dos domingos para os sábados, aterrissou no Armazém 4 do Píer Mauá (saindo do MAM) e resolveu transformar essa temporada em quinzenal. Para quem se preocupa com a Zona Portuária, ele já manda avisar que os 300 primeiros que chegarem terão estacionamento grátis a 300m da festa, com o caminho todo ladeado por seguranças. E ainda promete que cada edição desta temporada será única, individual, épica e com atrações exclusivas. “Serão quatro bailes pelo verão, cada um com surpresas e coisas diferentes acontecendo. Vai ser nossa temporada mais roots, mais Bailinho mesmo. Teremos alguns convidados especiais que só serão anunciados para quem estiver ali na festa”, diz o produtor, fazendo mistério quanto às participações.

Entre os outros artifícios, o público ainda pode esperar a clássica cartomante do evento; o “tapetinho do Bailinho”, onde fica a banda; e, em cada um dos quatro bares, um grupo novo do Rio de Janeiro irá se apresentar. “Pode até rolar uma canja ali”, deixa avisado. Há também uma novidade um pouco contraditória, mas que HT amou só de ouvir: “Temos uma meditação guiada no meio da festa. Um cantinho zen, onde as pessoas podem praticar o budismo. Não estou defendendo nenhuma religião, sou a favor de fé, da esperança e cada um no seu canto. Mas quero fazer algo que mexa com as pessoas”.

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Como todo artista e/ou agente criativo, Rodrigo Penna diz que a parte mais difícil de fazer o Bailinho é ter que lidar com a realidade: das planilhas, do poder público, da iniciativa privada, do Rio de Janeiro e da bolha na qual as pessoas perderam o real valor do dinheiro. Mas não é para os boêmios cariocas se preocuparem, porque ele vai logo avisando que não tem planos de acabar com a festa nem tão cedo: “Enquanto houver graça, tesão e ainda me arrepiar, acho que funciona. O Bailinho ainda consegue me emocionar. O dia que virar só música, rock e bebida, eu termino”. Até lá, ainda há muita chuva de papel picado para cair.

Serviço:

Datas Bailinho no Rio de Janeiro – Dez: dia 27 / Jan: dias 10 e 24 / Fev: dia 7 
Dia 27 de dezembro (com o Dj Markinhos Mesquita)
Local: Píer Mauá – Anexo 4 (Avenida Rodrigues Alves, 10 Centro)
Horário: A partir das 21h30
Informações: 3923-5224
 
Preço antecipado: De acordo com o número do lote vigente. Infos, ingressos e lista atualizada de pontos de venda, com ou sem taxa: www.bailinho.com