*Por Brunna Condini
Por aqui, amamos biografias! Elas abrem espaços de inspiração, provocação e podem ser um universo rico de curiosidades da vida do biografado. A vida dos outros nos interessa, e muito, e quanto mais vida, melhor! Por isso mesmo, quando Narjara Turetta, que tem 58 anos e cresceu junto com a história da televisão brasileira, anunciou sua autobiografia, quisemos saber mais. A atriz vive da arte como grande parte dos artistas no Brasil: sem o glamour do ‘universo paralelo’ da TV e das redes sociais, com insistência e resiliência. E esse é um dos recortes do livro ‘Reinvenção’, que Narjara lança em dezembro. Apesar dos altos e baixos na trajetória, ela diz que não guarda ressentimentos por até hoje não ter conquistado a estabilidade na profissão. “Eu não guardo mágoas porque dá câncer (risos). Se algum dia tive, já passou, consegui curar e reverter. Não tenho ressentimentos porque cheguei à conclusão de que também foram escolhas. Acho que eu poderia ter tido um bom empresário para ter me ajudado a fechar mais contratos, por exemplo”, reflete.
Abaixo, Narjara fala sobre a manutenção da vida hoje, e também sobre o mercado atualmente, que considera mais voltado para a juventude e mais etarista; e também sobre o monólogo ‘O que terá acontecido a Narjara Turetta?’, que será dirigido por Glória Pires, sua grande amiga, com texto de Aloísio de Abreu. A atriz também divide seus sonhos que ainda perduram:
Tenho muitos sonhos, como o de viajar com o meu monólogo e fazer mais filmes, trabalhar mais. Sonho em ter meu apartamento próprio, grande, para ter muitos gatos (risos). E receber amigos queridos, que são poucos, mas muito caros pra mim – Narjara Turetta
E segue listando os desejos para o futuro. “Sonho ter muito dinheiro ainda, para além de me produzir na arte, conhecer o mundo, porque conheço pouca coisa. Queria tirar minha cidadania italiana, porque sou neta de italianos, e passar um tempo por lá. Tendo dinheiro, quero fazer bom uso dele, ajudar as pessoas e os protetores de animais. E por que não, também sonho em encontrar o amor que não tive, porque nunca é tarde. Acredito que tudo isso pode se realizar, acho que o universo conspira para quem tem fé e se movimenta”, decreta.
Veteranos na TV
Esse ano Narjara fez uma participação em ‘Família é Tudo’, na Globo. Fora isso, a atriz tem feito teatro e atuado como dubladora, além de dar aulas de interpertação. “Fiquei muito grata e feliz com esse participação. Existe a dificuldade de emendar trabalhos, né? Sempre existiu. Mas hoje a juventude emenda mais trabalhos, o mercado está mais estarista, é uma realidade. A gente vê poucos atores na faixa dos 50 fazendo personagens importantes em novelas”
Sou muito reconhecida e acarinhada nas ruas, e o que mais escuto das pessoas é que não assistem mais as novelas porque não reconhecem a maioria dos atores. Fico triste de ouvir isso, porque sou espectadora de novelas, adoro o gênero. E adoro fazer. Espero que os autores, a direção, não se esqueçam de nós, atores veteranos – Narjara Turetta
O sonho da vida em cena
No início deste ano, além de iniciar o projeto do livro, a atriz também começou a movimentar uma ‘vaquinha’ virtual em prol da montagem do seu primeiro monólogo ‘O que terá acontecido a Narjara Turetta?’ . A iniciativa não teve sucesso na largada, e chegou a ser noticiado que ela venderia o carrinho de água de coco com o qual trabalhou nas ruas de Copacabana, na década de 90, para ajudar na produção do seu solo. Como está isso tudo, essa história da venda do carrinho é verdade? “Acabou que vendi o carrinho de água de coco por conta do meu condomínio, que não teria mais espaço para guardá-lo. E com o dinheiro da venda precisei pagar outras despesas. Quanto à peça, a ‘vaquinha’ continua aberta, e em breve eu, Glorinha (Pires) e Aloísio (de Abreu), nos reuniremos para fazer os últimos ajustes no texto e colocar o projeto nos editais. O monólogo acontecerá em 2025”.
A Glorinha sempre foi a maior incentivadora para que eu montasse esse monólogo, porque além de compartilhar a minha história, poderei viajar com ele pelo Brasil e estar no palco. Esse projeto hoje é a ‘menina dos meus olhos’ – Narjara Turetta
História de superação
Na autobiografia, Narjara revisita sua história desde que se mudou com a mãe de São Paulo para o Rio de Janeiro aos 13 anos para ser Elisa, filha da personagem de Regina Duarte, a Malu do título da série ‘Malu Mulher‘, na TV Globo, nos anos 80. A personagem projetou a atriz e criou muitas expectativas dali pra frente. Antes desse sucesso, ela já havia feito cinco trabalhos em televisão, tendo estreado na teledramaturgia na extinta TV Tupi, em 1976, na novela ‘Papai Coração‘, ao lado de Paulo Goulart e Nicette Bruno. Ao todo foram mais 60 trabalhos entre a TV, o cinema, o teatro e dublagens. “No livro falo desde de como me interessei pela carreira, passando pela participação dos meus pais nisso tudo e o que representaram na minha vida. E também das dificuldades e de como as superei, dos altos e baixos no caminho”, recorda.
Comecei tão pequenininha, que loucura! E trabalhei com grandes artistas desde cedo. Sou autodidata, já que não frequentei uma escola de arte dramática, mas tive os melhores professores que alguém pode ter, porque dividi a cena com Paulo Goulart, Nicete Bruno, Arlete Montenegro, Regina Duarte, Marília Pêra, Gianfrancesco Guarnieri, Dina Sfat. É para poucos. Tenho orgulho de fazer parte da história da televisão brasileira – Narjara Turetta
O meio artístico vende a ilusão, principalmente hoje com a exposição na internet. O que diria para quem está enfrentando dificuldades na profissão e até pensando em desistir? “Não desista. A vida é feita de altos e baixos. Qual é a graça de você estar sempre surfando na ‘crista da onda’? Se não tomar um ‘caldo’, que valor vai dar quando estiver na ‘crista da onda’? Quando pegar aquela ‘onda’ perfeita, é importante saber que aquele ‘caldo’ te ajudou a ter mais confiança para ficar ‘de pé na prancha e surfar’. Acho que todas as ‘pedrinhas’ que você encontra no caminho são necessárias para a sua construção. Existe uma frase que diz: enquanto há vida, há esperança. Então é isso, gente. Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima, como diz a música. Não desista nunca. Ou renasça sempre, como a fênix. É o que faço na vida e compartilho no meu livro”.
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