Nos anos 1950, Tom Jobim, João Gilberto e Vinicius de Moraes criaram um novo gênero musical em um apartamento na Zona Sul do Rio de Janeiro. Nascia então, a bossa nova. Com influências do jazz norte americano e do samba brasileiro, a novidade misturava a vida da classe média carioca, os amores e desilusões de forma calma e suave. A combinação, que até hoje se faz presente no cenário musical brasileiro, sempre foi apreciada, principalmente, pelos adultos e senhores. Mas engana-se quem pensa que a bossa nova não pode fazer parte do gosto da criançada.
Depois do sucesso do espetáculo “Sambinha”, em que o gênero centenário se transforma em um personagem de nove anos, Ana Velloso tratou de aproximar a bossa nova do público infantil em um musical apresentado ontem na Arena Banco Original. No espetáculo “Bossa Novinha – a Festa do Pijama”, os sucessos do gênero servem de trilha sonora para uma divertida comemoração noturna na casa da personagem Marilu, a mesma da peça que celebra o samba. Ao HT, Ana Velloso, atriz e produtora da peça, contou que o enredo da história do musical é semelhante ao panorama da criação da bossa nova nos anos 1950.
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“A escolha pela festa do pijama foi por causa da forma que a bossa nova foi criada. Como foi um movimento que ocorreu muito dentro dos apartamentos da classe média do Rio, diferente do samba, nós quisemos trazer esse ambiente para a peça. A brincadeira das crianças passa pela música e pela criatividade, mas tem a questão de ser à noite e presas em um apartamento, por isso a festa do pijama. Então, como eles não podem fazer muito barulho, eles passam a fazer música de forma mais intimista, como foi com a bossa nova”, explicou.
No repertório do espetáculo, músicas como “Garota de Ipanema”, “Ela é Carioca”, “Lobo Bobo”, “Minha Namorada” e “O Barquinho” ditam as brincadeiras dos seis amigos. Porém, como o ritmo nasceu em um universo adulto, muitas letras não dialogam com a realidade infantil. E esse foi o maior desafio de Ana Velloso e seu time criativo. “A bossa nova tem muitas músicas de amor, dor de cotovelo e melancolia. E, em um espetáculo infantil, nós tivemos o desafio de adaptar essas temáticas ao universo das crianças. Então, nós procuramos bossas que tivessem no enredo a estética do Rio de Janeiro e a amizade, que acabaram virando pout-pourris. Já no repertório de amor, nós usamos as músicas em uma brincadeira do romance do lobo-mau com a Chapéuzinho Vermelho”, disse.
Ao contrário do samba e do forró, os outros dois temas de musicais de Ana Velloso, a bossa nova também tem mais um desafio para trazê-la ao universo infantil. Assim como as letras são menos ingênuas, o ritmo também é mais calmo e devagar. E, em um espetáculo para crianças, o dinamismo em cena é um ponto fundamental. “Eu acho que das três peças da trilogia, a ‘Bossa Novinha – a Festa do Pijama’ foi a mais difícil por causa das letras e da natureza do ritmo. O samba e o forró são mais animados por natureza”, apontou Ana que achou na atuação do elenco uma estratégia para solucionar a trilha suave. “Para as crianças, essa cadência poderia se transformar em um espetáculo monótono. Então, para resolver essa questão, nós demos eletricidade e agilidade às cenas da peça para contrapor com o ritmo mais lento da trilha”, contou.
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