*Por João Ker
Com um suingue de carimbó paraense e um romantismo brega irresistível, Lia Sophia sobe ao palco do Miranda. É noite desta terça-feira (29/07) e a cantora vai apresentar as músicas do seu novo disco autointitulado, o quarto da carreira. Com um repertório heterogêneo de ritmos e referências, a cantora toca seu violão em grande parte do show – afinal, foram 10 anos percorrendo os palcos de bares com o instrumento – e ainda consegue passar uma energia tão contagiante que, enquanto dança, o público irresistivelmente se vê fazendo o mesmo.
“Mesmo antes de assinar com a Som Livre, eu já vivia da música, apesar daquilo que a mamãe e o papai achavam. A diferença é que agora existe toda uma estrutura de divulgação e distribuição por trás dos meus discos”, comenta Lia, minutos antes de começar o show. Apesar da descrença dos pais, eles foram os grandes responsáveis pelo gosto musical da moça, pelo menos até os 16 anos. “Lá em casa não era permitido ouvir música triste, então a gente sempre ouvia muitos ritmos alegres. Foi só quando eu me mudei para Belém que descobri coisas como Marisa Monte e João Gilberto, graças aos meus amigos de faculdade. Com isso eu também vi uma nova maneira de compor”, conta a cantora, que diz pegar inspiração de tudo para suas músicas, desde a TV a uma conversa com amigas.
Lia Sophia parece uma mistura da beleza de Paula Fernandes com o ritmo paraense de Gaby Amarantos, apesar de seu som apresentar mais nuances rítmicas do que o das outras duas. E, apesar de até haver uma certa semelhança entre “Amor de Promoção” e “Ex Mai Love”, Lia acredita que a diversidade sonora do Pará é abrangente o suficiente para cada um seguir seu caminho: “É um estado que oferece muitas influências, então por mais que dois artistas ouçam a mesma coisa, é possível que eles façam sons diferentes”, opina.
No palco, a cantora ainda parece um pouco tímida, apesar de flertar aqui e ali com a plateia enquanto vai dançando languidamente de um lado para o outro. Ela começa com a apaixonada “Quando Eu Te Conheci”, um cover de Dona Odete e em seguida canta as belezas do sertão e da noite no cover de Mestre Curicica, “Beleza Da Noite”. Sua voz é extremamente doce e quando é acompanhada por cordas e sentimentalismo, surge uma espécie de seresta romântica onde nem ela, nem as garçonetes da casa de shows e nem o público conseguem ficar parados em seus lugares.
Sem improvisos vocais ou performáticos e com uma plateia surpreendentemente repleta de paraenses (oi? Existe colônia do Pará na cidade-maravilha?) , Lia se orgulha de todas as suas origens – ela nasceu na Guiana Francesa – e alterna o carimbó com zouk, criando o que ela mesma chama de “uma dança do acasalamento”. Epa, que delicinha! E é nesse ritmo que Zeca Baleiro sobe ao palco, de surpresa e sem anúncio, enquanto faz coro a Lia em “Essas Emoções”, do próprio. Em seguida, eles iniciam a rodada de clássicas homenagens e até algumas alfinetadas bem humoradas entre Pará e Maranhão. As luzes começam a piscar freneticamente e então os dois fazem um dueto com “Pedra de Responsa”, de Chico César e a essa altura já é possível ver casais e grupos de amigos dançando em volta de si mesmos enquanto tentam abrir aquele espacinho entre as mesas. A próxima da dupla é “Um Beijo”, da própria Lia, sobre a qual Zeca comenta: “Vocês são lascivos, a música do Pará exala sexo”. Loucura. O público, claro, se diverte, enquanto a cantora responde com o sotaque carregado: “É música sem vergonha!”.
Estranha e inusitadamente, Zeca Baleiro começa a fazer um cover de “Price Tag”, da britânica Jessie J. Lia Sophia balança desconfortavelmente ao seu lado e é impossível não pensar o que ele quis dizer com essa escolha, tão destoante do resto da noite como um hipopótamo na Praia de Ipanema. Como a parceria dos dois no palco não parece exatamente o que se chama de “intimista” ou “cheia de química”, o ponto alto da noite é quando a cantora paraense mergulha de cabeça no brega exacerbadamente romântico e canta “Amor, Amor”. Sentada em um banquinho, com o violão no colo, as luzes quentes contrastando com seu cabelo castanho, palavras sussurradas e sentidas com o acompanhamento de trompetes, Lia mergulha fundo e sufoca a plateia em um amor, amor, amor cheio de cumplicidade e ternura. E seja declarando esse amor ou fazendo os pés arrastarem pela pista do Projeto Patuá, Lia é um mimo do Pará pronto para invadir o resto do Brasil.
Fotos: Vítor Souza Lima / Divulgação
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