Paulinho Moska: duas décadas-solo, repertório incrível e um show cenográfico no Rival!


Apresentação introspectiva no Rio está entre as comemorações da longa carreira do cantor

Quando era criança, Paulinho Moska curtia colecionar coisas de todos os tipos. Figurinhas, discos, pedras, fotografias, chaves, quadrinhos. Queria experimentar tudo o que lhe parecesse suficientemente bonito, estranho, divertido, instigante . Esse caleidoscópio de vontades, perspectivas e possibilidades ainda guia o homem Paulinho Moska – ou simplesmente Moska, como ele assina nos últimos tempos. Também construiu assim sua carreira artística, sua discografia, canções inspiradas e se reflete, desde o título, em “Muito Pouco Para Todos”, pacote de CD e DVD gravados ao vivo que ele lança agora por seu selo Casulo, com distribuição da Sony Music. Para comemorar esta carreira solo e sólida, coisa que não é para qualquer um, ele passeia com seu espetáculo do mesmo nome por aí. Nesta noite de sexta-feira foi a vez do Teatro Rival, velho palco do cantor.

Acompanhado de banda formada pelos músicos Rodrigo Nogueira (guitarra), João Vianna (bateria) e Alexandre Catatau (baixo), o show é um espetáculo onde a música é valorizada pelo ambiente cenográfico, composto por projeções de filmes, fotos e desenhos que emolduram as letras das canções. Tanto as novas quanto as mais antigas, cada música ganhou, no vídeo, um elemento que amplia seus significados. Um objeto de cena, uma coreografia, um efeito de câmera ou qualquer toque visual que a tira do estado puro de canção. E a coloca no palco também como texto, como imagem, como cinema. O que se vê no palco é um músico tímido, mas um perfeito intérprete vagaroso e contemplativo – junto com o público – , uma interação que se dá melhor ainda no clima intimista do palco do Rival, um parceiro antigo como eles mesmo diz:

“É sempre uma honra cantar no Teatro Rival. Oitenta anos de resistência cultural transformaram esse espaço em um templo da música popular brasileira. Em 1997 gravei meu primeiro disco ao vivo durante 3 apresentações lotadas que registraram a atmosfera típica do público que frequenta esse teatro. Alegria, participação e intimidade. Voltei muitas vezes ao palco do Rival para encontrar a mesma sensação de felicidade e acolhimento que o teatro nos proporciona.”, derrete-se Moska.

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O roteiro parte do começo da vida e, sobretudo, do amor. A primeira canção do show é “Semicoisas”. Logo na abertura, aparece a imagem de um ultrassom, não qualquer um, mas o de Valentim, filho mais novo de Moska. Em seguida, “O Tom do Amor” mostra os primeiros desenhos do filho mais velho, Antonio. A narrativa vai se desenvolvendo como um filme e chega a “O Último Dia”, talvez a canção mais emblemática da carreira de Moska, que já é por si só referencial, vide a quantidade de trilhas noveleiras compostas por suas músicas. A maior parte dos capítulos dessa história amorosa vem justamente do álbum duplo “Muito Pouco”, trabalho mais recente de Moska em estúdio, lançado em 2010. Mas canções de outros tempos foram pinçadas aqui e ali para ajudar na construção da trama: clássicos como “O Último Dia” (1995), “A Seta e o Alvo” (1997), “Um Móbile no Furacão” (1999), “Tudo Novo de Novo” e “Pensando em Você” (2003).

São 20 anos de carreira solo, e a data redonda até justificaria um trabalho retrospectivo. Mas a ideia aqui não era rever e sim contemplar, apresentando novos formatos de uma vida inteira espirituosa, sensitiva e pautada pelo amor. Este amor que existe de sobra no “pai babão” Moska. Um trabalho cuja amarração dramática é feita pelos versos e climas das próprias canções. Canções que ganharam vida em grandes vozes da MPB, gente do calibre de Maria Bethania, Ney Matogrosso, Maria Rita, Lenine, Zélia Duncan e Francis Hime. O rapaz low profile nestes vinte anos mostra, de fato, ao que veio, mas atribuiu tudo ao amor. Nobre postura!

Veja fotos do show na galeria (Vinícius Pereira)

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