Maria Bethania empresta sua luz mística e romântica ao espetáculo em prol do Saúde Criança!


Como uma sonata romântica com um vinho rascante: Espetáculo” Carta de Amor” e outras surpresas encantam fãs incondicionais no Vivo Rio!

Como se não bastasse a presença firme e consistente no palco, a cantora Maria Bethania escolheu a dobradinha “Canções e Momentos”, de Milton Nascimento e “Sangrando”, de Gonzaguinha, para abrir o show beneficente no Vivo Rio neste domingo. Emprestando o espetáculo “Carta de Amor” à nobre causa em prol da Associação Saúde Criança, onde toda a venda de ingressos foi doada para a casa, Bethania cantou clássicos, fez bis, recebeu rosas e dançou um tanto faceira no palco. Descalça, leve e solta, arrancava aplausos e gritos quando mostrava a baiana que é, mexendo as cadeiras em um molejo só.

O show pode ser dividido em dois momentos e Bethania pode ser classificada em duas personas que ela encarna, que se alternam e se encontram no fim. Da diva da MPB que enche os coraçõeszinhos das mulheres que sofrem intensamente um amor e da mulher arretada, com a postura de um caboclo mais arretado ainda, que canta para os orixás e arranca aplausos ensurdecedores (como fez na música “Olhos nos Olhos”), quando bate no peito e diz com o semblante mais sacana já visto: “Quero ver como suporta me ver tão feliz”.

Confira as fotos de Vinícius Pereira:

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Essa Bethania que canta para Iansã como em “Dona do raio e do trovão” atrai fãs incondicionais como a professora de 26 aninhos, Gabriela Moreto, que veio com a amiga do Espírito Santo só para ver a musa. Ela pede aos seguranças para jogar rosas no palco, como quem faz uma oferenda a Iemanjá na praia, e garante que a mensagem da artista tenha uma bagagem espiritual. “Joguei as rosas para saldar os Orixás e essa linda mensageira deste mundo de luz. Como eu tenho afinidade com a religiosidade dela, eu identifico isso facilmente”, explica a fã. Essa luz de Bethania vai além das lâmpadas que descem do teto ao chão, no cenário simples e eficiente de Bia Lessa. A cantora parece emprestar uma luz prateada da cor das madeixas que resplandece no escuro, ainda mais quando saboreia versos com a habitual entrega que revela no palco.

Os sete músicos que a acompanham também ganham destaque, com oportunidade de brilhar em solos notáveis, como o do percussionista Marcelo Costa ou do inquestionável pianista e maestro Wagner Tiso. O solo de piano de Tiso e todo esse espetáculo luminoso arrancam suspiros, choro e beijos de casaizinhos apaixonados. E este lado romântico da cantora, a persona habitada no outro extremo, é o que parece fascinar uma fã que a acompanha há muitos anos. A funcionária pública aposentada Anna Dabrowska acompanha a artista desde sua baixa na música brasileira cantando “Carcará” no Teatro de Arena. Nem a coluna fraturada impediu que ela fosse ao encontro da musa. Da sua cadeira de rodas ela fazia revelações bombásticas, como contar que já recebeu um bilhete da cantora através de sua assessoria, convidando a moça para uma visita ao camarim. Mas ela afirma que entrou em pânico e não foi ao encontro do ídolo. “Fiquei trêmula, não sabia o que fazer e fui embora, depoos de assistir ao show inteiro, claro!”.

Conservadora, ela fala que seu encantamento se dá na forma como a cantora traduz os sentimentos, não pela religiosidade impressa nos espetáculo, e ainda acaba fazendo as vezes de crítica embasada nas particularidades do ídolo.”Este show não está dos melhores, está morno. Ela deve estar contrariada hoje, não é uma pessoa de aceitar ordens e regras”, comenta a aposentada, que parece se encantar pela arte transgressora da artista em contrapartida à vida de regras e imposições que a cantora rechaça. E Bethania se despede do público devolvendo as rosas que ganhou, num gesto de carinho, apertando as mãos de cada um dos fãs emocionados, assumindo seu papel de diva, seja pela baiana mística e arretada que é, seja pela cantora romântica que representa.