*Por Junior de Paula
Márcia Castro é uma força da natureza e não é de hoje. A moça chamou a nossa atenção há muitos anos, em um Festival de Verão de Salvador, quando subiu ao palco alternativo do evento no mesmo dia de outra baiana que viria a dar muito o que falar: Marienne de Castro. Apesar do sobrenome, ambas não têm nada em comum, exceto a vontade de mostrar ao resto do país talento e força. Márcia, desde então, cresceu como artista e como mulher e pode mostrar, sem falsa modéstia, ao que veio. De lá para cá, ela lançou dois discos, foi indicada a todos os prêmios mais importantes da música brasileira, caiu nas graças de nomes que incluem Tom Zé, Caetano Veloso e Ney Matogrosso, e viu seu nome na vitrine. Mais especificamente em trilhas sonoras de novelas globais e fazendo burburinho nas redes sociais, onde já possui milhares de seguidores apaixonados pela sua sonoridade contemporânea.
Nesta quinta-feira (25), ela se apresenta na Miranda, no Rio, onde promete cantar seu novo single “Na Menina dos Meus Olhos” – na qual ela se aventura como compositora – e outras inéditas do terceiro álbum, batizado “Das Coisas que Surgem”, que já está em pré-venda. O álbum é formado por 11 músicas, algumas canções inéditas, frutos da parceria com o poeta Arruda, além de composições de Gui Amabis, Lucas Santtana, Arnaldo Antunes e Alice Ruiz. O trabalho transita pelo universo da música brasileira representando a sua produção contemporânea, fundindo sonoridades baseadas nas experiências musicais da cantora e do paulista Gui Amabis, produtor do álbum. Antes disso tudo, ela parou um pouquinho a loucura do dia-a-dia para responder 10 perguntas que você pode ler agora!
1) Das coisas que surgem na sua cabeça agora: qual a mais importante e por que?
– O lançamento do disco aqui no RJ. Cantar para os cariocas é sempre um desafio.
2) Como é a menina que tem nos seus olhos?
– Curiosa, inquieta, faminta.
3) Você é baiana e cresceu em meio à inundação de axé na Bahia. De que forma as outras vertentes musicais foram se aproximando de você e como é nadar contra essa corrente?
– Foi meu pai que me apresentou universos sonoros diversos, como jazz, bossa-nova e MPB. Ele fez com que meu olhar sempre fosse amplo, curioso. Por isso, hoje absorvo coisas diferentes no meu balaio musical, onde também existe a música baiana. Eu pude acompanhar o início de toda essa história do samba reggae, que depois virou axé music. Isso faz parte da minha formação musical, eu curtia muita coisa, era muito interessante. Depois, virou algo extremamente comercial, perdeu a graça.
4) Você tem uma forte ligação com o teatro desde o início da sua carreira até a forma como você se posiciona no palco hoje em dia, certo? O que o teatro acrescentou na sua vida como cantora? E você aceitaria fazer um personagem diferente do seu se convidada?
– O teatro me ajudou a vencer a timidez e a entender o momento de troca que rola no palco, a magia da troca, a concentração. Foi um exercício muito importante. E claro que toparia fazer um personagem caso fosse chamada. Viver outros mundos é muito excitante. Quando canto, vivo muitas outras personagens. É também uma atuação. Talvez mais espontânea.
5) Você está nua na capa do disco. Peito aberto. Qual a simbologia disso em tempos cada vez mais caretas?
– Um exercício da sinceridade, da crueza no sentido da virgindade das coisas. É um disco muito sincero, muito livre, muito despedido de pretensões exteriores a mim. Claro que também existe um desejo de naturalizar conceitos caretas. Mostrar a curva do seio ainda é um paradigma no nosso país. Nesse sentido, é um símbolo também político.
6) Você está no mercado há algum tempo e colhendo frutos bem saborosos. Que análise faz dessa sua última década como artista?
– Muitas coisas boas aconteceram e estão acontecendo. Tenho a sorte de fazer música em um momento onde temos liberdade e possibilidades de expansão do trabalho de modo independente. Artisticamente, amadureci minha voz, meus sentimentos, tenho mais clareza das minhas escolhas. Também fiz muitas conexões com gente que admiro, como Gil, Ney, Baby e Caetano, referências na minha música. Isso tudo me faz vislumbrar coisas que ainda quero realizar. Esse desejo nunca pode parar.
7) O mercado fonográfico: mais democrático ou mais complicado atualmente?
– A indústria fonográfica e as grandes gravadoras sofreram muito com a chegada das novas mídias, tiveram que dividir pedaços do seu mercado com os artistas que surgiram a partir delas. Por isso, penso que essa dinâmica é bem mais democrática hoje.
8) Você é bastante atuante nas redes sociais. De que forma as novas tecnologias influenciam no seu trabalho e no trato com o seu público? Essa maior proximidade e intimidade com quem te escuta é boa ou é ruim? Ou os dois?
– É muito bom poder acompanhar de perto o público, saber como rola essa troca com o trabalho, perceber como a nossa música chega. Eu curto essa interação, esse canal direto. É uma conquista importantíssima para divulgar a música e comunicar a artista. Antes, precisaríamos de uma super estrutura para fazer com que isso acontecesse. As redes sociais e as plataformas digitais de música tornaram nosso trabalho possível com estruturas bem mais modestas.
9) Como foi o processo de feitura desse disco? Qual a principal linha de pensamento a que você se ateve durante as composições e no estúdio?
– É um disco que aconteceu pelo desejo de me relacionar com o som produzido em São Paulo. Moro lá há seis anos. Queria poder me misturar aos sons que habitam aquela cidade e, assim, poder também fechar um ciclo. Essa foi a linha principal. No mais, foram fluxos e muita abertura para acolher as idéias e músicas que surgiam, as pessoas que apareciam, os desafios que se impunham a partir dessa nova estética, que é diferente dos trabalhos que eu já havia feito.
10) O que acha das eleições deste ano? Como vê a possibilidade de duas mulheres disputarem a presidência?
– Olha, não vejo com muito otimismo o cenário político brasileiro. Poucas pessoas me mobilizam. Eu gostaria mesmo que Jean Wyllys fosse o nosso presidente.
* Junior de Paula é jornalista, trabalhou com alguns dos maiores nomes do jornalismo de moda e cultura do Brasil, como Joyce Pascowitch e Erika Palomino, e foi editor da coluna de Heloisa Tolipan, no Jornal do Brasil. Apaixonado por viagens, é dono do site Viajante Aleatório, e, mais recentemente, vem se dedicando à dramaturgia teatral e à literatura
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