A programação multicultural da Arena Banco Original começou mais cedo nesta semana. Quinta-feira, o festival promovido pelo Banco Original resgatou dos anos 2000 uma festa que foi sucesso nas noites cariocas: Rio de Verdade. Idealizado e realizado por Rogê, o evento voltou ao cenário cultural da cidade depois de mais de dez anos de hiato. Ao HT, o cantor não escondeu a felicidade neste retorno. Segundo Rogê, resgatar a festa Rio de Verdade já era uma vontade antiga. “Há alguns anos eu já estava pensando em refazer esse evento e a Arena Banco Original, que é a grande sensação do verão, foi a oportunidade perfeita. Eu estou bem feliz por estar podendo resgatar esse projeto”, disse.
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Para a comemoração de ontem, o cantor, compositor e instrumentista seguiu a tradição do evento e trouxe ao palco da Arena dois convidados super especiais. Ao lado de Rogê, Maria Rita e Arlindo Cruz agitaram a noite do público que, mais uma vez, compareceu animado ao Armazém 3 do Boulevard Olímpico. Sobre as escolhas da noite, o idealizador ressaltou a amizade e a admiração fora dos palcos como justificativa. “Os convidados sempre foram meus ídolos na música. Todos os cantores que eu chamo para o ‘Rio de Verdade’ são aqueles que, de alguma forma, influenciaram a minha vida. E com os convidados de hoje não é diferente. O Arlindo é um cara que eu sempre admirei e que virei amigo nos últimos anos. Então, para esta retomada, ele foi um nome natural na minha cabeça. Já a Maria Rita foi uma aproximação mais recente. Há pouco tempo, ela gravou uma música minha”, contou Rogê que, nas quatro edições da festa que realizou nos anos 2000, recebeu convidados como Luiz Melodia, Falcão, Marcelo D2, Beth Carvalho e Bezerra da Silva.
Em um evento que carrega o nome ‘Rio de Verdade’, a essência do povo da cidade maravilhosa é uma obrigatoriedade no clima da festa. E Rogê não foge desta ideia. Com todos os trejeitos estereotipados que um carioca tem, o músico contou que o repertório é quase uma tradução desse nosso jeito de ser. Como nos contou, a espontaneidade é o segredo das escolhas musicais. “Eu não gosto de ter roteiro. O show é todo emendado, como se fosse um DJ. Durante a apresentação, eu vou sentindo o público e escolhendo as músicas seguintes. Esta é a peculiaridade do show. Então, eu gosto de ficar observando e sentindo a energia da galera para ver qual caminho seguir”, contou.
Carioca assim como ele, Evandro Mesquita foi um dos convidados presentes da noite. Sem abrir mão de aproveitar um minuto sequer, o ator e cantor curtiu todo os show na pista da Arena Banco Original. Já Eduardo Moscovis, outro convidado de Rogê na noite de ontem, preferiu acompanhar a apresentação do músico direto do palco. Quem também esteve presente na Arena Banco Original ontem à noite foi o casal de atores Marcelo Faria e Camila Lucciola. Animados, os dois se jogaram no repertório animado do evento.
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Apesar de o repertório da festa Rio de Verdade ser totalmente intuitivo e espontâneo, duas músicas já estavam confirmadas antes mesmo de Rogê subir ao palco. Recentemente, o cantor e compositor lançou um EP, batizado com o nome de sua festa, em comemoração a essa retomada do evento na Arena Banco Original. No festival, Rogê apresentou os singles “O Craque” e “De Montmartre ao Vidigal”, que é totalmente instrumental, que fazem parte desta novidade. Embora tenha acabado de lançar este EP pela Warner Music Brasil, o cantor e compositor contou que já planeja entrar em estúdio logo depois do carnaval. Ele que, em momento algum para de escrever novas músicas, revelou que tem um farto material para dar voz e ritmo. “Olha, eu sou compositor. Então, eu faço músicas para mim e para outros artistas todos os dias. E essa arte sempre foi um norte na minha vida. A partir das minhas letras que eu vou pensando em outros projetos e novos rumos. Mas, como isso é uma rotina para mim, eu tenho muitas composições em casa. Por mim, eu gravo todo ano”, disse.
Por falar em gravar, Rogê não escondeu sua ansiedade e expectativa em dar continuidade nos estúdios às composições escritas. “Eu tenho muito material e quando termina de escrever eu fico ávido pensando em como ficaria a letra se fosse gravada”, revelou o cantor e compositor que também tem suas criações interpretadas por companheiros de profissão. “Quando alguém grava uma composição sua, você se enche de esperança. Não tem como não ficar pensando nas possibilidades, nas chances de estourar no Brasil, na Europa etc”, confessou.
No entanto, a função de compor não é mais a mesma em tempos de crise social e ideológica. Segundo Rogê, as novas questões e os recentes movimentos sociais influenciaram a forma de abordar determinados assuntos. “É um momento muito rico e muito restritivo. Hoje em dia, nós não podemos falar sobre diversos assuntos e palavras que podem soar pejorativos. Mas fazer o que? Este é o nosso atual momento”, analisou Rogê que, apesar dos pesares, segue apaixonado pela profissão. “Eu adoro exercer esse ofício de compositor. Para mim, é como se fosse um artesão. Todos os dias eu vou para o meu cantinho, espero a inspiração vir para que eu possa desenvolver essas ideias”, contou animado.
No entanto, engana-se quem pensa que a única dificuldade de um músico no Brasil hoje em dia seja se preocupar com as novas ideias e nomenclaturas. Como destacou Rogê, a crise é uma palavra que o acompanha e assombra sua carreira desde o início, lá nos anos 2000. Sobre o atual momento, o cantor e compositor não disfarçou a dificuldade em se manter vivo economicamente. “É muita luta. Mas, desde que ficou ruim, nunca mais ficou bom. O problema é, justamente, que eu nunca vi estar bom. Quando eu apareci no cenário musical, a pirataria e o decréscimo da indústria já eram realidade. Então, desde sempre, eu ouvi a palavra crise me rondando. Eu trabalho dentro de um mercado que, praticamente, já acabou. Por isso, eu acredito que a gente não deva ficar apegado a esse tipo de papo, senão, nós perdemos o otimismo e a força. E é essencial que tenhamos essa energia. Afinal, o trabalho de composição precisa do universo lúdico para levar alegria às pessoas”, analisou o cantor que destacou que o momento de dificuldade não é exclusivo aos artistas. “Hoje em dia, não é só o músico que está sofrendo em seu oficio. Os engenheiros, professores, políticos, que estão todos sendo presos… está todo mundo em crise. A vida é dura para quem é mole”, completou Rogê.
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