Surreal Tropical! Com Luana Piovani no Baile do Copa, Amaury Jr. decreta: “O Rio é puro feromônio!”


Com o dadaísmo tomando conta do tradicional badalo neste carnaval, HT investiga o que seria surreal na Cidade na Cidade Maravilhosa. Confira!

*Por Alexandre Schnabl

Paris é uma festa, já dizia Ernest Hemingway sobre os loucos anos 1920 na Cidade-Luz. Mas, se considerarmos a noite passada no Rio, a máxima do escritor norte-americano pode ser perfeitamente adaptada para a Cidade Maravilhosa. Com o nome de Dada Magic Ball, o Baile do Copacabana Palace trouxe o non-sense do movimento artístico encabeçado por Salvador Dalí, Tristan Tzara, Hans Arp e Man Ray. Mas, como Dada (que significa cavalo de madeira) era muito mais conceito do que expressão de arte no sentido formal, o set decorator Zeka Marquez misturou seus cânones com outro estilo que veio logo a seguir, encabeçado pelo próprio Dalí: o surrealismo. E se Zeka insiste na ideia de que o tema é fundamental para questionar o momento atual do Rio (“tudo um absurdo, dos aeroportos cobertos de tapumes aos preços fora da realidade, passando pela sujeira e o caos no trânsito”, segundo ele), o resultado daquilo que foi visto nos salões é literalmente surreal. Da ambientação nabababesca, com direto a camelos negros e relógios derretidos saídos de quadros do pintor catalão, ao fenomenal bufê, com árvores de macarrons coloridos, tudo funcionou às mil maravilhas com Luana Piovani, a rainha do baile, incorporando uma espécie de Gala – a famosa musa inspiradora de Dalí. Sim, Luana é a quintessência do mundo onde as borbulhas de champanhe fazem a doce alegria dos comensais e sua visão provoca uma espécie de efeito inebriante, como se fosse rapé servido em baixela de prata em plena era do jazz.

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Fotos: Vinícius Pereira

Munida de seu espírito investigativo, porém frívolo, HT flana pelo baile, com seu devido relógio derretido escorregando pelas têmporas, para perguntar aos famosos o que é mais surreal no Rio de hoje. Ou mais: que eles classificariam de Dada na vida cotidiana dos cariocas. Vejamos.

Para estilista Victor Dzenk, habituê do Copa como um João de Barro que freqüenta um galho de árvore, surreal é levar duas horas para ir de Ipanema, onde tem residência, ao Village Mall, na Barra, onde fica sua filial na cidade. Vestido como uma espécie de Príncipe Ali com toques de mágico de quermesse retrô, o fashion designer estava puro ouro. Para a prima-dona Nora Esteves, primeira-bailarina do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, surreal é o salário dos profissionais de dança no mercado, mas quem pensa que ela resolve apenas ficar no métier, pode tirar o camelinho da chuva. Como uma diva atenta a tudo e a todos, ela observa que a iluminação feérica do baile é um absurdo, mas completa: “E essas rodas projetadas na parede, que nada têm a ver com Dalí, mais parecem componentes de carroças do campo? O que é isso, meu Deus?!? Beeeeem Dada”, critica rindo, na companhia da dona de academia em Brasília, Lucia Doller, e do amigo Adolfo Vasquez, cubano fixado em Nova York e que pretende montar um espetáculo estilo cabaré no segundo semestre aqui na cidade. Mas, para outro representante da dança carioca, o coreógrafo contemporâneo e performer Bruno Cesário, dadaísta mesmo é Ney Matogrosso, um espetáculo à parte. Por outro lado, ele também considera surreal a falta de condições para os bailarinos!

Para Carlos Tufvesson, que desliza pelo baile na companhia de André Piva, surreal é usar smoking no carnaval. Bom, surreal deve ser o delicioso bom humor de Carlão, sempre de bem com a vida. Delícia! E para o beauty artist Marcelo Hicho, surrealismo são as pessoas com cara de felizes na urbe, de Madureira à Copacabana, com jeito de que não têm problemas e afirmando a supremacia do espírito. Isso é um absurdo notório! Já o figurinista Marcelo Marques, que costuma vestir vários dos performáticos que abrilhantam o baile como se fossem cenário vivo, acredita que a política cultural xenófila dos políticos – no Rio e no Brasil – é puro non-sense: “Acho falsamente nacionalista. E olha que nem curto os irmãos Oswald e Mario de Andrade, mas sou daquela turma que pensa que um quadro de Anita Malfatti não vale um centavo no mercado internacional. A coisa hoje está um horror!”

A filha do marchand Jean Boghici, a voluptuosa Sabine, usa sua expertise como colecionadora de brinquedos antigos e de alguém que ama recolher animais abandonados nas ruas para justificar sua visão surreal do Rio: “A sujeira da cidade, não apenas no carnaval, mas durante todo o ano, torna o prefeito um baluarte manco desse movimento. Até o Arpoador está péssimo, a gente anda pelas principais vias de acesso quase chutando garrafa. E, claro, isso é reflexo de outra sujeira maior, a da política nacional. Olha só o José Dirceu sendo absolvido do crime de formação de quadrilha. Isso é Dada”, enfatiza.

A cantora Gottsha, que abriu e fechou os shows do baile, comenta que Dada é o calor neste alto-verão: “Irreal, surreal e desumano!”, diz ela, contente porque em maio vai estrear seu primeiro espetáculo em que atua exclusivamente como atriz, sem cantar um único fá. Por outro lado, o maquiador Rafael Senna, que cuida do visual de Luana Piovani, segue por caminho diferente da estrela dos musicais: “Surreal são os insta-chatos que postam o dia inteiro seus selfies, as comidas que comem e suas carinhas rotas. O Rio não precisa disso, é tão bonito e devia ter suas paisagens melhor exploradas no Instagram”.

Fechando, o apresentador Amaury Jr. resume aquilo que melhor caracteriza o surrealismo da cidade: “Os feromônios! O Rio é puro feromônio, o aroma deste baile é feromônio, como em nenhum outro lugar do país. Fico louco com isso!”