A Imperatriz tem de tudo! John Galliano para Margiela: minimal, exageros, máscara de Clóvis e até short de Anitta! Vai ou racha?


Semana de Moda de Londres: no ringue entre o minimalismo da escola belga e os excessos de Dr. Mabuse fashion, ainda não é possível vislumbrar quem vai vencer a batalha. HT analisa!

Não há como negar a importância de John Galliano na moda. Assim como Coco Chanel nos anos loucos, Christian Dior no pós-guerra, Yves Saint-Laurent na era jet set, Giorgio Armani no universo yuppie e Jean-Paul Gaultier no exagero multimidiático oitentista, o estilista britânico nascido em Gibraltar é a síntese de sua época e representa o sopro de modernidade nineties, momento em que estourou na cena fashion. No seu caso, a novidade vinha por conta do olhar sintonizado com a globalização, com seu mix de referências fruto da internet e do multiculturalismo resultante da diminuição das fronteiras entre países promovida pela Sociedade da Informação. Suas criações turbinadas por amálgamas até então impensados – como damas vitorianas com pegada apache ou deusas egípcias com exageros eighties – rapidamente conquistaram o planeta e aquilo que à primeira vista parecia delirium tremens de enfant terrible passava a fazer todo sentido uma ou duas temporadas depois, quando desdobramentos de suas pirações apareciam no streetwear e vitrines de todo o mundo.

Durante o período 1990/2000, Galliano representou a elucubração fashionista levada ao extremo da genialidade e ótimo exercício de prestidigitação seria imaginar como teria sido sua trajetória no cenário da moda, caso não houvesse pisado em falso e entrado em desgraça por explicitar suas opiniões pessoais em local público, comprometendo a imagem da marca que o chancelava. Independente do certo e errado, seu maior erro foi a leviandade em acreditar que, por ser inventivo ao extremo, estava acima dos meros mortais e que seu talento lhe blindaria em qualquer situação. Agora, o mundo assistiu nesta segunda-feira (12/1) sua tão esperada volta, como diretor criativo da Artisanal, linha da Maison Martin Margiela, em sala para pouquíssimo convidados na Semana de Moda de Londres, entre eles Kate Moss, Alber Elbaz e Anna Wintour. Retorno triunfal? HT analisa.

Adereço de luta livre mexicana, adereço sadô ou acessório ritualístico? Nada disso! Pipocando nas mídias socais, uma das máscaras usadas na estreia de Galliano na Maison Martin Margiela (Foto: Reprodução)

Adereço de luta livre mexicana, adereço sadô ou acessório ritualístico? Nada disso! Pipocando nas mídias socais, uma das máscaras usadas na estreia de Galliano na Maison Martin Margiela (Foto: Reprodução)

A questão não é tão simples assim. Os ventos da moda mudaram, o minimalismo voltou e a verve nervosa do estilista – que se fez na segunda metade dos noventa, quando as brisas começavam a soprar em direção ao maximalismo da década seguinte – pode não funcionar tão bem agora, quando menos volta a ser mais. Além disso, ele está à frente de uma maison cujo fundador é exemplo maior – junto com Ann Demeulemeester – da turma que bebia em outras fontes bem diferentes que a dele. A pergunta é: como ser Galliano mantendo o espírito Margiela?

Como um cientista louco, John Galliano assume mais uma vez sua porção Dr. Mabuse e tenta transformar Margiela no gabinete do Dr. Caligari. Como assim? Bom, quando ele enverga, no final do desfile, o jaleco usado pelos integrantes do ateliê da grife, ele pode estar querendo dizer duas coisas: a primeira (e mais óbvia!) que ele veste a camisa da marca; em segundo lugar, ele mais uma vez incorpora um personagem, como tantos outros que já vestiu no final dos seus fashion shows, de ciganos a piratas. Faz sentido. Como ele não é bobo e soube verter a Dior ao seu bel prazer, o look do di apode significar um cientista louco, daqueles que subvertem a ordem, tentando recriar geneticamente o mundo à sua volta, pintando e bordando com DNAs. Afinal, até que ponto?  Over como poucos, será que ele conseguirá manter a essência minimalista de Martin Margiela?

Galliano para Margiela: dessa vez, a fantasia usado no final do desfile é de cientista que quer perverter o DNA alheio (Foto: Reprodução)

Galliano para Margiela: dessa vez, a fantasia usado no final do desfile é de cientista que quer perverter o DNA alheio (Foto: Reprodução)

Nesse primeiro desfile, ele até procura sambar no minimal com algumas montagens que poderiam dar sequência ao trabalho do fundador da maison, mas acaba soltando a mão e enveredando por aquele carnaval com todos os adereços que tanto ama. Para começar, ele garante a presença da sua fiel escudeira nos desfiles, a make up artist Pat McGrath, quase sua cara-metade, que cuida da maquiagem teatral, ao lado de Eugene Soulemain nos cabelos.

Galliano da início à carreria internacional de Anitta: shortinho de popozuda na passarela londrina (Foto: Reprodução)

Galliano da início à carreira internacional de Anitta: shortinho de popozuda na passarela londrina (Foto: Reprodução)

E, para tentar emular Margiela, o estilista brinca com as desconstruções e repuxados da escola belga. Mas acaba indo além: surge um paletó de tigresa, uma noiva cibernética, peças com relevos que parecem vísceras expostas, máscaras que podem vir da esgrima, do sado-masô glitter ou aludirem ao visual de bate-bola da folia carnavalesca, quem sabe. Tem até calça bicolor que parece a meia que Gloria Coelho criou para a TriFil e um shortinho jeans à  la Anitta. Será que vai? Manter o espírito de uma marca e ao mesmo tempo renová-la, como Lagerfeld conseguiu fazer na Chanel, não é tarefa fácil. Basta lembrar o cartão vermelho que Marco Zanini recebeu na ressuscitada Schiaparelli há poucos meses. Okay, mas o talento dele não se compara ao de Galliano…

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Fotos: Reprodução