Lea T. é uma das estrelas da moda nacional mais emblemáticas e interessantes dos últimos anos. Além de ter encarado publicamente, de peito e mente abertos, todo o processo de sua transformação de sexo, a top é um sucesso absoluto nas passarelas e campanhas internacionais; queridinha de Riccardo Tisci, da Givenchy; nova estrela da Redken; e eleita pela Forbes como uma das 12 mulheres responsáveis por mudarem a moda italiana.
A top, de passagem pela São Paulo Fashion Week, onde desfilou com exclusividade para a Têca por Helô Rocha, sentou-se para um bate-papo com HT, onde falou de tudo: a sua relação com a mídia nacional; o preconceito com que transsexuais são tratados por aqui; o recente caso envolvendo a travesti Verônica Bolina, que foi desfigurada após ser presa sob suspeita de espancar uma senhora de 73 anos; a nova fase da vida, na qual faz yoga e mostra um brilho contagiante nos olhos. Tudo isso enquanto segura nos braços seu yorkshire, Obi, e sua mãe, Rosa Cerezzo, observa tudo no canto, super orgulhosa da filha. Mas, antes de tudo, ela já adianta: “Estou feliz como nunca e não me arrependo de nada”. Leia abaixo:
HT: Lea, como é voltar ao Brasil depois de ter ganhado uma projeção tão forte lá fora e ter feito tanto sucesso entre as grifes e marcas internacionais?
LT: Me sinto super bem! É o lugar onde eu nasci e é bem especial para mim. Você fazer sucesso lá fora é relativamente mais fácil, porque as pessoas têm a cabeça mais aberta. Aqui no Brasil você ainda vê muito preconceito, como esse caso recente com a Vitória. Eu mesma já ouvi barbaridades aqui, mas no exterior é mais tranquilo. E olha que quando eu comecei, não era o Papa Francisco ainda!
HT: Como está a sua vida pessoal agora? Você parece bem mais feliz do que estava antes…
LT: Quando você cresce e envelhece, a vida parece muito mais linda, né?! Imagine, no período de quatro anos eu passei por tudo aquilo que vocês sabem, de operação e tudo o mais, e foi muito difícil. Mas eu nunca me arrependi de nada, era tudo que eu sempre quis. A mídia, às vezes, distorce muito o que você diz para criar polêmica e fazer sucesso.
HT: Como você acha que a moda brasileira é vista no exterior?
LT: Olha, o biquíni é muito forte, e tem aqueles estilistas já conhecidos, como o Alexandre [Herchcovitch] e o Pedro [Lourenço], que fazem sucesso. Mas, de uma forma geral, acho que está começando agora. O Brasil tem que parar com essa obsessão pelos Estados Unidos e ir para a Europa, até mesmo em questão de estudar os designs e a história das roupas.
HT: Você é uma modelo transexual e conseguiu alcançar um posto de sucesso muito difícil nessa carreira. Como você avalia o seu impacto em outras pessoas transgêneras?
LT: Eu não tenho essa responsabilidade e nem a maturidade de me colocar nessa posição. O que eu faço é falar da minha vida. Se as pessoas consideram isso uma coisa boa e admiram o meu trabalho, é uma satisfação. Mas eu ainda acho que deveria haver mais oportunidades: é muito difícil conseguir um trabalho como transexual. E, se não der certo, não pode colocar isso como característica de um grupo, e sim de uma pessoa específica que, para aquele determinado trabalho ou projeto, não deu certo.
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